Professora lança livro que transforma tese de doutorado em voz para mulheres da Estrutural
A professora Luciana Oliveira Lemes, em parceria com Isadora Egler, lança o livro “Com as próprias mãos: história de mulheres catadoras” nesta sexta-feira (26), às 14h, no auditório do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Brasília (ICS/UnB). O lançamento durante o encerramento do “VI Seminário Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS)”, que começou nesta quarta-feira (24) e discute socioambientalismo e políticas de gestão de resíduos sólidos.
Com a obra, as autoras documentam a vida de mulheres que trabalham com materiais recicláveis no DF. Ilustrado com fotografias, o livro conta a história de dez mulheres que atuavam no antigo Lixão da Estrutural e como elas reconstruíram a vida após o fechamento do local. Professora de Atividades há 20 anos na Educação Básica da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), Luciana exerce o cargo de coordenadora pedagógica da Escola Classe Aspalha do Lago Norte (EC Aspalha), e ressalta a relevância do livro para professores(as) e orientadores(as) educacionais que atuam na rede pública de ensino.
“A obra tem uma relevância para nós, professores e professoras da Secretaria de Educação, por entender o lugar de fala das mulheres que trabalham como catadoras de material reciclável no DF: são mães, avós de crianças que estão dentro das nossas escolas. Uma realidade que permeia a vida de muitos estudantes. Precisamos estar atentas e atentos a esse contexto de vulnerabilidade social”, afirma a professora.
Ela enfatiza a necessidade de uma abordagem interseccional para compreender as desigualdades vividas por essas mulheres, cujos filhos e filhas estão nas escolas da rede pública, muitas vezes enfrentando a ausência completa do Estado nacional. Luciana explica que a obra surgiu a partir de um desejo manifestado pelo coletivo de mulheres durante sua pesquisa de doutorado, que durou quase 4 anos.
“As trajetórias e histórias de vida aqui compartilhadas constituem um recorte sobre os diferentes tempos e momentos que marcaram a vida de mulheres que trabalham ou trabalhavam, à época, como catadoras de materiais recicláveis”, conta Luciana, que reconheceu a importância de discutir a condição dessas mulheres a partir de uma perspectiva que une gênero, raça, etarismo e classe social.
O livro foi escrito durante seu curso de doutorado em psicologia do desenvolvimento, na UnB. Luciana iniciou sua trajetória na educação na Cidade Estrutural, local em que conheceu a realidade das catadoras. Ela revela que durante sua pesquisa teve muitas possibilidades de registrar as denúncias que viu e sentiu e afirma que algumas confissões feitas a ela não puderam ser publicadas, mas estão “marcadas no decorrer do texto por meio das lacunas existentes”. A obra, segundo ela, é um presente para registrar a vida e a memória dessas mulheres.