Seminário busca pensar um ambiente escolar que respeite as diversidades

O auditório do Sinpro ficou cheio na sexta e no sábado (28 e 29/9) durante as palestras do Seminário Educação Para a Diversidade em Tempos de Resistência, organizado pela secretaria de assuntos de raça e sexualidade do sindicato. Voltado para a discussão das questões LGBTQIAPN+, o seminário abordou temas importantes como direitos humanos no currículo em movimento e educação para a diversidade.

O objetivo do evento foi aprofundar os debates relativos à atuação e aos desafios das e dos profissionais do magistério público que fazem parte dessa população, e refletir sobre estratégias de luta para garantia de um ambiente escolar capaz de promover o respeito às diversidades.

Na mesa de abertura do evento, a dirigente da CNTE e ex-dirigente do Sinpro Rosilene Corrêa afirmou que o Sinpro tem tratado a pauta da população LGBTQIAPN+ com cuidado e respeito. “Só vamos derrotar o preconceito com educação. Não tem outro espaço para reverter o preconceito”, apontou.

O presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, que também é professor, lembrou que a Central Sindical foi a primeira a organizar o coletivo LGBTQIAPN+: “A classe trabalhadora é diversa. Cabe a todos e todas nós compreendermos as diferenças de anseios, angústias e alegrias de cada segmento diverso de trabalhadores. E nós, professores, além de levarmos conteúdo para a sala de aula, estamos também fazendo a discussão para a formação de pessoas. Precisamos entender nosso papel do fazer profissional entre os alunos e também entre nossos e nossas colegas, no ambiente de trabalho”

A diretora do Sinpro Ana Cristina Machado, apontou que ainda hoje, a escola é um espaço de expulsão, e não de evasão para estudantes LGBTQIAPN+: “é um espaço de dor, sofrimento e muitas vezes de terror, que resulta em depressão, automutilação e até mesmo infecção urinária, causada por não terem o direito de fazer suas necessidades básicas.”, lamentou.

O representante do coletivo LGBTQIAPN+ da CUT, o também professor João Macedo, declarou que “a nossa existência na escola é também resistência. Queremos regras, sim – e essas regras precisam nos respeitar.”.

Durante o seminário, foi lançada a carteirinha LGBTQIAPN+ do Sinpro, que é personalizada com as cores do Orgulho LGBTQIAPN+, e fez muito sucesso entre quem se inscreveu para o evento.

Na mesa de abertura, a professora travesti Adriana Salles destacou a diversidade de corpos da comunidade LGBTQIAPN+, que fogem ao padrão do que a sociedade chama de “correto”. “São corpos diversos, diferentes, fora do padrão, e que têm tanto direito de ir e vir quanto os outros. Mas são corpos que precisam ser compreendidos. Se você não quer compreender esse corpo, tudo bem. Mas guarde sua opinião para você, porque você não tem tutela sobre o corpo dos outros. Cabe a você respeitar a todos e a todas. Por isso, quero políticas públicas que criminalizem o racismo, a xenofobia, homofobia, a transfobia, a gordofobia.”

Salles apontou, ainda, as sequelas sociais da pandemia que ainda persistem na escola: “Nossos e nossas estudantes não são os jovens de cinco anos atrás, voltaram com uma série de novos problemas, inclusive de ordem psicológica. Nós, professores e professoras, temos de ter a expertise de transformar a situação de conflito em situação de diálogo.”

Para a professora, é a escola a instituição que vai garantir uma sociedade laica, com as diversidades educacionais todas inclusas e um currículo inclusivo. “Mas a escola pré pandemia não volta mais. “Então, precisamos resistir, mas resistir com qualidade. Preciso ter minha saúde física e mental preservadas, preciso ter minha garantia de ir e vir preservada.”

 

Palestras do sábado

A programação do sábado iniciou com um importante debate sobre o Currículo em Movimento. Na visão dos palestrantes Anderson Neves dos Santos, Leonardo Café e da professora Ana Artoni, o currículo é um território em disputa, e cabe à comunidade LGBTQIAPN+ atuar nessa disputa. Existe o Currículo Teórico, mas, na verdade é o Currículo prático que é levado para a sala de aula. Por que o Currículo em Movimento não está sendo colocado em prática?

Segundo os palestrantes, a escola pública deve ser um espaço que acolha todas as pessoas, por isso a importância de as práticas pedagógicas serem de respeito, pertencimento e acolhimento, criando estratégias de combate à discriminação, repudiando toda e qualquer forma de exclusão. É preciso ancorar o Caderno de Pressupostos Teóricos ao Eixo Transversal Educação para a Diversidade.

Foram debatidas outras normativas legais que podem ser usadas para se trabalhar o Currículo em Movimento, para além das orientações Político-Pedagógicas das escolas, de forma a respaldar e provocar a forma de agir das professoras e professores.

A mesa “Famílias LGBTQIAPN+ na escola: da invisibilidade à negligência” contou com a participação dos grupos Mães da Resistência e Mães da Diversidade. São duas ONGs nacionais que acolhem mães, pais e pessoas LGBTQAPN+ com o objetivo de formar, informar, fortalecer as famílias e lutar pela liberdade, promovendo ações que colaboram, lutam por uma sociedade mais justa e respeitosa para todas as pessoas.

Finalmente, foram discutidas as estratégias de como construir os Planos Nacional e Distrital de Ensino (PNE e PDE) pensando na defesa da diversidade na escola. Foi analisado o momento histórico e a capacidade real de mobilização da comunidade LGBTQIAPN+ na construção de uma política voltada para a educação pela diversidade.

Na última palestra, foram apresentadas experiências bem-sucedidas de trabalhos realizados por professores, professoras, orientadoras e orientadores da rede pública, que estão resistindo e agindo em sala de aula, realizando de acordo com a política pública de Gênero e Diversidade Sexual, portanto respaldada pelo Currículo em Movimento e nas escolas.

“A diretoria colegiada do SINPRO está orgulhosa pela realização deste Seminário, que nos proporcionou um momento de muito aprendizado. Estamos empenhados e empenhadas em dar continuidade a este trabalho de Educação para Diversidade em tempos de Resistência, em poder estar nas escolas fazendo os enfrentamentos necessários para lutar por direitos, pelo reconhecimento das diferenças de todas as pessoas LGBTQIAPN+”, apontou diretora Ana Cristina Machado, da Secretaria de Raça e Sexualidade do Sinpro.

“O Seminário Educação para Diversidade em Tempos de Resistência foi extremamente potente, iniciamos a noite da sexta com a professora Adriana Salles a qual ressaltou a importância de lutar pela implementação de políticas públicas para a entrada e permanência das/os estudantes LGBTQIAPN+ nas escolas, e fechamos o sábado com quatro debates de extrema importância para a comunidade”, completou a diretora do Sinpro Márcia Gilda.

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