Sessão na Câmara homenageia criação da CUT
Um fio condutor se destacou em todas as falas durante a sessão solene que, na Câmara dos Deputados, comemorou os 30 anos de realização da CONCLAT (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora): a CUT foi criada e se consolida através das lutas diárias, sem depender de decisões de cúpula e contra todas as circunstâncias desfavoráveis, como a ditadura nos anos 1980 e a estrutura sindical oficial, que perdura até hoje.
A sessão solene, realizada na terça-feira, 23, foi uma iniciativa do deputado federal Vicentinho (PT-SP), ex-presidente da CUT, e reuniu sindicalistas de todos os setores e parlamentares. O presidente da Central, Artur Henrique, destacou que antes de ser fundada oficialmente, a CUT já se materializava através do combate à estrutura sindical oficial, espaço onde a ditadura atuava fortemente. “Já no final dos anos 1970 realizávamos greves e os Encontros Nacionais de Trabalhadores em Oposição à Estrutura Sindical (ENTOES) , além da atuação da Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindical (Anampos). Era uma luta pela mudança na estrutura sindical e pela liberdade e pelos direitos dos trabalhadores, contra o regime e os pelegos”, lembrou.
Essa postura combativa, embora associada ao esforço de compor com o sindicalismo oficial, com o objetivo de unificar a luta, acabou por ser a razão de os sindicatos tradicionais racharem a CONCLAT no ano seguinte, 1982, quando estava prevista, por resolução da própria Conferência, a criação da CUT.
“Uma das formas de a estrutura oficial promover o racha foi aproveitar o fato de que a Comissão Pró-CUT ser paritária, ou seja, os pelegos tinham o mesmo número de delegados que aqueles que queriam mudar a estrutura”, lembra Júlio Turra, diretor executivo da CUT e que, naquela época, foi delegado à CONCLAT.
“O artigo 8º do regimento da CONCLAT previa que, se os sindicatos que existiam naquele momento não elegessem delegados para promover eleições democráticas para suas diretorias, as oposições sindicais poderiam fazê-lo. E nós fazíamos isso, questionando de maneira muito objetiva aquela estrutura pelega, monolítica, autoritária. Isso deixou os setores conservadores da CONCLAT muito contrariados, o que os levou a tentar implodir a ideia de fundarmos a CUT”, lembrou o jornalista Armando Rollemberg, que fez parte da Comissão Nacional Pró-CUT e que hoje dirige a TV Senado.
Não conseguiram, porém, como lembra o deputado Vicente de Paula, o Vicentinho. “Dois anos depois, convictos de que a criação da CUT não era apenas possível como necessária, os representantes do novo sindicalismo fundaram a CUT em 1983, em São Bernardo do Campo”, afirmou. Detalhe: o congresso de fundação da Central reuniu mais de cinco mil delegados, superando inclusive o número que compôs a própria CONCLAT. Na tribuna, Vicentinho aproveitou para parabenizar a CUT, que no próximo dia 28 completa 28 anos.
O primeiro presidente eleito da Central, Jair Meneguelli, enviou mensagem que foi lida em plenário: “Hoje ao ver nosso Brasil crescendo, distribuindo renda, combatendo o desemprego e a pobreza, ficamos com a certeza que faríamos tudo de novo e que nos orgulhamos de nossa trajetória”.
Artur, que neste ano completa cinco anos na Presidência da CUT, destacou ainda em sua fala que “após 28 anos, somos a maior e mais representativa entidade de luta dos trabalhadores brasileiros e vemos que os princípios que nortearam nossa fundação continuam postos no horizonte. A estrutura sindical exige mudanças profundas e os desafios de superação das desigualdades sociais permanecem”.
Num comentário, o secretário-geral da CUT, Quintino Severo, acaba por reafirmar que a existência da Central é feita a partir da luta: “Tivemos vários avanços democráticos e sociais em nosso País, e a CUT sempre foi uma das protagonistas dos movimentos que produziram essas mudanças, a despeito da estrutura sindical arcaica que permanece em diversos setores, o que é um fator que emperra as transformações”.
Maria Godoy Faria, presidenta da CNTSS-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social), lembrou outra faceta dos primeiros anos de CUT: “A lei simplesmente proibia que os servidores públicos se organizassem, fizessem assembleias, montassem sindicatos. E nós fomos lá e fizemos”.
Estiveram presentes, além de diversos sindicalistas, os dirigentes nacionais da CUT Jacy Afonso de Melo e Elisângela Araújo. O presidente da CUT-DF, José Eudes, também esteve presente. Entre os parlamentares compareceram Rejane Pitanga (PT), deputada distrital e ex-presidente da CUT-DF, e Janete Pietá (PT-SP) que na CONCLAT era representante da oposição ao Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos.