23 dias sem comer para que o povo não passe mais fome

Sete militantes, vindos dos quatro cantos do país, firmaram o pé em Brasília e completam nesta quinta-feira (23) 23 dias em greve de fome. O ato extremo denuncia a situação caótica em que se encontra o país, que voltou ao mapa da miséria diante das políticas do governo ilegítimo Michel Temer, e cobra do Supremo Tribunal Federal (STF) a votação das três ações declaratórias de constitucionalidade (ADC’s) sobre a legalidade da prisão em segunda instância, que podem interferir na permanência ou fim da prisão ilegal de Lula.
Cada um dos grevistas, com sua peculiaridade, agrega força e resistência à luta por um país mais justo e democrático.
Conheça os grevistas
Homem de fé e luta, Frei Sérgio Görgen, 62 anos, é gaúcho e dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Ele relembra com indignação dos tempos em que era quase rotina sepultar crianças que morriam vítimas da desnutrição. Para Gorgen, os ministros do Supremo Tribunal Federal precisam voltar a ter algum tipo de conexão com a população brasileira. “Não podemos admitir que um país como o Brasil corra o risco de retornar ao mapa da fome”, disse.
No mesmo sentido, a também militante do MPA e poeta Rafaela Alves se manifesta por meio dos versos: A situação está extrema / Para onde vai a nação? / Com epidemias, desemprego / Sem saúde, educação / Políticas Sociais extintas / Resta abandono destruição. / Contra negros, jovens, mulheres / A violência só alimenta / Os preços desenfreados / O povo já não aguenta / A mídia segue mentindo / Nossas redes a enfrenta.
Prestes a completar 68 anos, Gegê Gonzaga, paraibano radicado em São Paulo, representa a Central dos Movimentos Populares (CMP). Durante toda sua vida, o militante tem se dedicado à luta social. “A resposta precisa começar de baixo para cima e não de cima para baixo. Somente assim, o pobre, o trabalhador, o negro, o indígena, o camponês vão ter espaço de representação”, avalia.
Já a “avó-coragem”, Zonália Santos, 48 anos, assentada da reforma agrária em Rondônia, não hesitou deixar sua rotina junto aos filhos e netos para agregar a força e a garra da mulher sem-terra na greve de fome. “Nós não estamos aqui nos manifestando apenas pelo direito de o presidente Lula ter um julgamento justo. Manifestamos nossa contrariedade com a volta da fome, da miséria e da exploração do mais pobre”, afirmou.
O pernambucano Amorim, 58 anos, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e da Via Campesina, diz que o ato reafirma sua opção política e coloca em destaque denúncias que têm sido ignoradas pelo Poder Judiciário, que se mostra subserviente ao grande capital. De baixa estatura, o ativista torna-se um gigante quando pega o microfone para se manifestar.
“Passar fome nessa greve é uma opção militante. Colocamos nossas vidas aqui para que se possa evitar que milhões de brasileiros e brasileiras passem fome por não ter comida na mesa”, afirmou.
Também militante do MST, Vilmar Pacífico, 60 anos, veio do Paraná e trouxe consigo sentimentos contraditórios ao seu sobrenome, mostrando a indignação de um povo que enfrenta diariamente a pressão e a agressão por parte das forças do estado. “A justiça deveria servir ao povo, sendo o lugar onde pudéssemos nos socorrer. Mas, o que temos observado a cada dia é que ela está se prestando ao serviço do capital e virando as costas para aqueles a quem deveria cuidar”.
Por fim, Leonardo Soares, 22 anos, uniu-se ao grupo em 6 de agosto. O militante traz consigo o vigor característico do seu movimento, o Levante Popular da Juventude. “Essa greve de fome tem a função de fomentar a participação e a organização do povo”, explicou, acrescentando ainda que a luta que empreendem é por uma causa justa, que aglutina o povo e propõe a organização como ferramenta principal na disputa que se configura no atual processo.
Risco iminente à saúde

Durante os dias de greve, os militantes têm recebido rigoroso acompanhamento de médicos, que atuam com afeto e pontualidade para cuidar daqueles que colocaram suas vidas em risco para salvar milhões de brasileiros.
Esse apoio é ofertado por meio de uma parceria entre os movimentos que encabeçam a ação e a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMMP). Ao todo, quatro médicos se desdobram, de forma voluntária, para administrar os cuidados à saúde dos grevistas. Dois deles, em tempo integral.
Encontro com ministros

Na tarde de quarta (22), os militantes se reuniram a ministra do STF Rosa Weber para exposição de seus ideais e cobrança da pauta reivindicada pela greve. O magistrado Luis Roberto Barroso, que estava previsto para receber os grevistas não compareceu ao encontro, enviando apenas a chefe de gabinete.