Professor da rede conquista prêmio internacional de literatura infantil

Desde as eras mais antigas, a relação entre música e literatura é limítrofe, se enraizando na própria natureza da expressão artística. As duas formas de arte se influenciam mutuamente, culminando em manifestações culturais ricas e complexas que às vezes podem até gerar espanto, mas no final produzem obras primas. Este poderia muito bem ser um resumo da vida de Marcelo Capucci, vencedor de um prêmio internacional de literatura infantil.

Professor da rede pública de ensino do Distrito Federal desde 2007, Capucci divide seu tempo no magistério com a bateria da banda de rock Plebe Rude. Além de todo sucesso na música, o educador é bicampeão do International Latino Book Awards com o livro Mayra e a floresta viva, premiado em 2023 pela Empowering Latino Futures (EUA), obra escrita juntamente com Adriana Kortlandt e Marcos Linhares, além do ilustrador André Cerino. A primeira conquista de Capucci foi em 2016, quando recebeu o reconhecimento da ELF pela obra Faço, separo, transformo.

Mayra e a floresta viva conta a história de duas meninas de origens diferentes, uma moradora de uma floresta e outra de uma grande metrópole, que se encontram e aprendem a resolver preconceitos e mal-entendidos, além de entender como a vida na floresta e na cidade podem coexistir harmoniosamente e em desenvolvimento mútuo. “É um texto sobre encontros, harmonia entre diferentes, coexistência de saberes modernos e ancestrais, antirracismo, etc”.

Em entrevista concedida ao Sinpro, o músico e educador Marcelo Capucci fala sobre seu interesse pela literatura infantil, como é dividir seu tempo entre o magistério e a música, e sobre a importância da educação para o futuro do cidadão e de um país.

 

Como surgiu o interesse pela literatura infantil?

Desde criança gostava de escrever, desenhar. Foi só ingressar à Secretaria de Educação do DF, em 2007, e ter contato com os estudantes, que me interessei pelo registro e publicação.

 

E os temas, como eles vêm à mente? Como é feita esta escolha sobre a temática?

No caso de “Mayra e a Floresta Viva”, escrito a 6 mãos entre eu, Adriana Kortlandt e Marcos Linhares, a ideia é levar o leitor a uma reflexão sobre a necessidade de coexistir como seres humanos, como sociedade. Com as ilustrações de André Cerino, acredito que temos alcançado nossos objetivos de escrever de forma leve, sobre temas controversos ou do dia-a-dia, para crianças e adolescentes. As temáticas simplesmente surgem. Não temos pautas ou encomendas, pelo menos por enquanto.

 

Como é aglutinar a vida de músico e educador? Um segmento inspira o outro?

A música é minha válvula de escape. Tenho atuado em muito mais horas da minha semana como vice-diretor de escola pública do que como baterista de uma banda de rock ou autor infanto-juvenil. Mas as ações acabam se somando e a diversão, as responsabilidades e a dedicação têm sido garantidas em todos os lugares.

 

O que você aborda no livro Mayra e a floresta viva? Quais meios você utiliza para ganhar a atenção do público infanto-juvenil?

É um texto sobre encontros, harmonia entre diferentes, coexistência de saberes modernos e ancestrais, antirracismo, etc.

 

Então você propõe um debate sobre a importância de coexistir em um mundo de pensamentos, opões, ideologias diferentes?

Não entramos no debate ideológico. Quando se quer salvar alguém em um acidente não se pergunta sua ideologia política ou religiosa. Simplesmente se salva!

 

Passamos por um período onde a educação deixou de ser prioridade e o educador não tinha o respeito que merecia. Como você vê a educação como um importante degrau para o crescimento e para o futuro de um país e de sua população?

Acredito que somente a formação de professores inspiradores pode ser eficaz na atuação junto a estudantes dessa geração – que muitas vezes são subestimados e procuram respostas nas redes sociais, se afastando da escola como a conhecemos – será capaz de alavancar a educação no nosso país e, por conseguinte, contribuir para o aprimoramento da mão de obra e para o surgimento de novos talentos em todas as áreas.

O desafio é enorme porque não vemos investimentos em infraestrutura para que as escolas sejam o lugar de produção de conhecimentos, encontros e acolhimentos que deveria ser. Ma, não devemos baixar a guarda, nunca, e como professores e formadores de opinião, podemos transformar essa realidade.

 

Como você vê a educação pública da capital federal? O que é preciso mudar para que cheguemos a uma educação de qualidade?

Podemos nos considerar um dos melhores corpos docentes do país. Mas, esse grupo precisa ser reconhecido, valorizado e ter seu acesso à cultura e informação facilitados, por exemplo. É inacreditável pensar que um professor ou professora precisem gastar 300, 400 reais por mês para ter internet em sua casa/dispositivos. É dramático ver que esses profissionais colocaram seus equipamentos para movimentar a escola online, na quarentena, na pandemia, e que muitos deles ainda nem conseguiram fazer upgrade em seus equipamentos porque não tiveram condições financeiras palpáveis vindas do governo e dos políticos que tanto reconhecem os professores em seus discursos.

Acredito que investimentos em infraestrutura e tecnologia devam ser pilares para a construção de uma proposta pedagógica sólida e que realmente traga os professores e os estudantes para um ambiente de ensino-aprendizagem produtivo e conectado com seu tempo e espaço.

 

Quais as principais carências da rede pública de ensino do DF? De que forma isto afeta na educação dos estudantes?

Acredito que devamos olhar para o futuro, com escolas conectadas, equipamentos de última geração, piscinas, quadras cobertas, pistas de atletismo, estúdios de fotografia, música, laboratórios de informática, ementas que visem a profissionalização dos educandos, ambientes temáticos, enxadrísticos e para iniciação científica, etc, etc, etc. Dê isso aos professores do DF e do Brasil e teremos, com certeza, um país mais justo, competitivo e com uma categoria de educadores (talvez a principal das categorias) menos adoecida e mais satisfeita com seu trabalho.

 

Vencer pela segunda vez o International Latino Book Awards na categoria literatura infantil com certeza é um sinal que você está no caminho certo. Quais são os próximos passos? Podemos aguardar uma continuação do livro?

É muito gratificante participar deste prêmio porque ele está embebido em um viés acadêmico, e isso é significativo para quem frequenta escola todos os dias. Os textos, ano a ano, são analisados pelos curadores da Empowering Latino Futures (ELF), sediada na Califórnia/USA, onde inclusive estive em 2016 com o “Faço, Separo, Transformo” e essa curadoria endossa nosso material no que tange a qualidade de nossa escrita em Língua Portuguesa, esse incrível idioma falado em 9 países e por mais de 230 milhões de pessoas mundo afora.

Nossos próximos passos envolvem a continuação da história, pois temos um compromisso com nossa Editora, a Trilha Educacional, de São Paulo, e com nossos leitores em entregar uma série de 6 volumes com as aventuras de Mayra. Temos muitas surpresas por revelar ainda.

 

Para comemora a conquista do prêmio internacional de literatura infantil, os autores convidam a categoria para uma comemoração na próxima segunda-feira (11), às 19h, no Bar Beirute (107 Norte). O livro pode ser adquirido clicando aqui.