19 DE ABRIL | Educação é peça-chave para respeito e valorização dos povos indígenas

Visitação de estudantes das escolas públicas do DF ao Memorial dos Povos Indígenas

 

Na última década, a área garimpada dentro das Terras Indígenas brasileiras aumentou 625%, segundo o MapBiomas.

Em janeiro deste ano, o Ministério da Saúde anunciou que pelo menos 570 crianças do povo Yanomami foram mortas nos últimos quatro anos pela contaminação de mercúrio, por desnutrição, pela fome e a falta de acesso a medicamentos.

Dados da Agência Pública mostram que Bolsonaro certificou 239 mil hectares de fazendas dentro de terras indígenas. O número foi apresentado dois anos após a Instrução Normativa nº 9, que permitiu certificação e registros de fazendas no Sistema de Gestão Fundiária federal.

Fome, miséria, doenças, roubo de terras marcam, historicamente, a vida dos povos indígenas no Brasil. O cenário é de terror, mas são parcos o apoio e a comoção popular e, sobretudo, as ações do Estado para corrigir a situação que coloca indígenas como subhumanos.

Para a professora da rede pública de ensino do DF Karine Lemes, “o apagamento das nossas raízes” é um dos principais pilares de uma sociedade avessa aos povos originários e aos seus direitos.

“A gente não se reconhecendo, não conhecendo a nossa história, o movimento dos nossos povos nativos, quem somos nós, adquirimos uma identidade forjada. Nós não valorizamos aquilo que é nosso, no sentido do nosso país, da natureza, da nossa terra, valores, cultura. Isso gera estranhamento, gera violência; e um desastre enquanto cultura”, afirma a professora.

Na contramão do apagamento da história do povo brasileiro, sustentado pelo interesse de latifundiários, garimpeiros, madeireiros e até da indústria farmacêutica, professora Karine desenvolve um trabalho de resgate das raízes do Brasil, por meio do projeto Territórios Culturais, uma parceria entre as secretarias de Educação e de Cultura do DF.

Visitação de estudantes das escolas públicas do DF ao Memorial dos Povos Indígenas. Mediação da professora Karine Lemes

 

O espaço de atuação da professora Karine é o Memorial dos Povos Indígenas, que fica no centro de Brasília. Lá, ela recebe estudantes das escolas públicas de todo o DF, que têm a oportunidade de conhecer a história dos povos indígenas, correlacionando o passado e o presente, com ressignificação de narrativas, expressões e práticas existentes nas comunidades indígenas.

“A gente faz um planejamento pedagógico para cada turma que vai receber, dentro do Currículo em Movimento e dentro da necessidade da escola, de acordo com a série e a faixa etária deles. A mediação é totalmente diferente de uma mediação feita em qualquer espaço museal ou de galeria. Faço trabalho de trazer terminologias conceituais atualizadas, corretas, pois recebemos estudantes que chamam indígenas de índio, de tribo, com uma percepção estereotipada. Com estudantes maiores, por exemplo, mostro o mapa do Brasil de 1600 em comparação com o mapa atual para a gente compreender o processo de invasão do Brasil e a constituição do nosso povo”, explica.

Visitação de estudantes das escolas públicas do DF ao Memorial dos Povos Indígenas. Mediação da professora Karine Lemes

 

Professora Karine conta que é por meio do projeto que a maioria dos estudantes compreendem a luta dos povos indígenas. “Quando eles (estudantes) chegam, a gente percebe um estranhamento, como se eles estivessem em um espetáculo. Eles imaginam que vão ver alguém de sunguinha, cocar; que são outros seres. E a gente mostra que os povos indígenas são uma categoria étnica que pede respeito, mas que não é algo espetacular, que vai chegar de arco e flecha. São pessoas que estão tomando seus espaços profissionais, que estão, muitas vezes, aqui dentro da cidade, mas que precisam ter respeitada sua cultura.”

Todo o processo de preparação e pós-visitação é feito pela professora Karine: programação, marcação, confirmação, visitação, material pedagógico, estudos, agenda, relatórios. “É muito trabalho”, confessa a professora selecionada para atuar no Memorial dos Povos Indígenas, que não esmorece diante da demanda.

Visitação de estudantes das escolas públicas do DF ao Memorial dos Povos Indígenas. Mediação da professora Karine Lemes

 

“Nos momentos que não tenho escola visitando (o Memorial dos Povos Indígenas), visito as escolas com slides mostrando o que é o projeto. Já consegui uma demanda enorme. Hoje mesmo, só no período da manhã, já atendi 380 estudantes. Do ano passado para cá, esse esforço de formiguinha nosso, já tem feito diferença. Entretanto, a divulgação do projeto é muito deficitária”, comenta a professora. Para ela, “a pouca divulgação desse espaço é um reflexo da cultura de apagamento das nossas raízes”.

Segundo a diretora do Sinpro Márcia Gilda, “o Memorial dos Povos Indígenas ganhou um potencial educativo sem igual”. “A educação pública, quando focada em emancipar, é transformadora. Viva os povos indígenas”, reflete.

Visitação
Escolas interessadas em fazer visitação mediada no Memorial dos Povos Indígenas devem preencher formulário e aguardar retorno. Acesse o formulário AQUI 

Você sabia?
O Memorial dos Povos Indígenas foi projetado por Oscar Niemeyer. A forma de espiral remete a uma maloca redonda dos povos Yanomami. O espaço tem área construída de quase 3 mil metros quadrados. Veja história completa do Memorial AQUI

Programação especial
Neste mês de abril, quando se celebra o Dia dos Povos Indígenas, o Memorial dos Povos Indígenas traz programação gratuita e livre para todas as idades. Oficinas, contação de histórias, rodas de debates e feira de artesanato estão na programação. Acesse no perfil @memorialdospovosindigenas no Instagram.

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