Dia Mundial de Conscientização do Autismo: desafios da escola em contexto de pandemia

Dia 2 de abril foi declarado pela ONU como Dia Mundial de Conscientização do Autismo. O objetivo da ação é chamar a atenção da sociedade para as pessoas que têm TEA – Transtorno do Espectro do Autismo. Na data, cartões postais de todo o planeta se iluminam de azul, caracterizando, então, o “Abril Azul”.

Para Luciana Custódio, diretora da Secretaria de Formação Sindical do Sinpro-DF, a data abre um território de luta. “Mais que a conscientização e o combate ao preconceito, precisamos exigir iniciativas do poder público no sentido da inclusão e das políticas necessárias para isso”, ela afirma.

Luciana, que é psicopedagoga e foi professora de estudantes com TEA tanto no atendimento exclusivo nos CEEs (Centro de Ensino Especial) quanto na integração inversa na Educação Inclusiva, acredita que é preciso pressionar por políticas públicas. “Autismo não é uma doença, é uma condição que a pessoa tem de se relacionar e interagir com o mundo”, ela diz. “São pessoas que requerem acompanhamento com equipe multidisciplinar, acesso a terapias como fonoaudiologia, terapia ocupacional, entre outros, e tudo isso precisa ser oferecido pela rede pública”, conclui.

Espectro
Segundo a Revista Autismo, não há só um tipo de autismo, mas muitos subtipos, que se manifestam de maneira única em cada pessoa. É por isso que se utiliza o termo “espectro” para se referir aos vários níveis de comprometimento. Existem desde pessoas com outras doenças e condições associadas até pessoas com vida comum, algumas sem nem saber que são autistas, por nunca terem recebido diagnóstico.

A professora Maria das Graças de Souza Amorim, do Centro de Vivências Lúdicas – Oficina Pedagógica de Brazlândia, é mãe de três filhos com TEA. Ela enfatiza justamente a diferença de graus de autismo que cada pessoa pode apresentar, e aponta que a escola deve estar preparada para atender a todos e todas. Segundo Graça, a própria família, muitas vezes, não está preparada e não tem o suporte necessário para lidar com a TEA. “Poucos pais sabem o que é, quais são os principais sintomas, características”, ela pontua. “Se os pais tiverem a oportunidade de aprender a lidar, poderão lograr sucesso no desenvolvimento de seus filhos”.

Neste momento histórico tão particular, em que o país está há mais de um ano lidando com as instabilidades e incertezas do enfrentamento à pandemia da Covid-19, os desafios para a escola e os profissionais da Educação são muitos, profundos e variados. Mais ainda quando se trata de lidar com estudantes autistas.

Para a professora Deise Saraiva, que atua no Centro de Vivências Lúdicas – Oficina Pedagógica de Ceilândia, os desafios também são de diversos níveis. “De um lado, o professor se esforça para estimular o estudante, buscando recursos dentro do ambiente virtual para alcançá-lo”, ela diz. “De outro, o material precisa atender à singularidade dele, ter objetividade e clareza para que ele assimile o conteúdo sem precisar da intervenção presencial”, completa Deise, que, no mês de abril, lança o livro Autismo – Diálogos, conquistas, desafios, perspectivas e olhares em busca da inclusão, do qual é uma das autoras e parte da coordenação editorial.

Pessoas com TEA e o isolamento social
Deise também lembra da importância de o professor ou professora aproveitar os recursos disponíveis na própria casa do estudante; e reforça, ainda, que a rotina, tão desejável nesses casos, fica comprometida neste momento de isolamento social e ensino remoto. “No caso das família em situação de maior vulnerabilidade, como sempre, as dificuldades são maiores”, observa ela. “O contexto de isolamento não nos permite acolher os estudantes e suas famílias fisicamente, e, sobretudo, pode não haver a figura do parceiro, aquela pessoa que vai acompanhar o aluno em suas atividades”.

Esse referencial é muito importante no caso de crianças e adolescentes com TEA. Porém, no contexto da pandemia, com as condições concretas impostas por esse cenário, nem sempre é possível garantir esse acompanhamento – menos ainda nas famílias mais pobres.

Para além das questões educacionais e pedagógicas, o lado emocional e das relações sociais deve ser observado com especial atenção no caso de crianças e adolescentes autistas. Muitas famílias estão enfrentando perdas, adoecimento, desemprego, além do medo e da ansiedade. Sendo assim, a professora Deise destaca que é mais necessário ainda levar segurança e tranquilidade para os estudantes, e encontrar os meios adequados para garantir a sua atenção.

A escola, como ambiente de aprendizagem e de socialização, precisa estar preparada e de braços abertos para estudantes com TEA, em seus diversos níveis. A formação dos profissionais da Educação, a estrutura a ser oferecida, o acompanhamento por profissionais de saúde devem ser encarados como direito da pessoa autista, e portanto, obrigação tanto da Secretaria de Educação, quanto de Saúde, para que se realize uma inclusão verdadeira.

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