Profissão Professora – Desafios do magistério

fatima 15 200x200O Brasil convive com um problema similar ao do resto do mundo, que é a falta de professores devidamente habilitados para lecionar em diversas áreas do conhecimento na educação básica, como matemática, física, química, artes, língua estrangeira e outras.
 
O histórico processo de desvalorização do magistério, com carreiras pouco atraentes, sobretudo em relação aos demais servidores públicos com mesmo nível de escolaridade – além da violência e das condições precárias de trabalho na maioria das escolas, são os principais motivos que continuam afugentando os atuais profissionais e a juventude da profissão.
 
Fátima Aparecida Silva, secretária de Relações Internacionais da CNTE e vice-presidente regional da Internacional da Educação para a América Latina (IEAL), lembra que após longo tempo de luta, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) conseguiu aprovar, no Congresso Nacional, a lei que regulamentou o piso salarial profissional nacional do magistério, conciliando vencimento básico mínimo para os planos de carreira, jornada de trabalho com percentual mínimo de tempo reservado para as atividades extraclasses e distinção do piso por nível de formação do/a professor/a.
 
No entanto a secretária de Relações Internacionais da CNTE lembra, também, que a maior parte de prefeitos e governadores tem ignorado solenemente a Lei do Piso, sem que nada lhes aconteça. E o próprio valor do piso ainda está aquém de um patamar digno e atraente para quem trabalha ou deseja trabalhar nas escolas públicas do país.
 
Há 28 anos na rede pública de educação básica do Mato Grosso do Sul, Fátima Silva diz que diante dessa conjuntura, a luta da CNTE continua focada na profissionalização e na valorização dos trabalhadores escolares. “Acreditamos que somente com políticas públicas indissociáveis no sentido de contemplar a formação inicial e continuada, o salário digno, a carreira atraente, a jornada compatível com a demanda profissional, a segurança e a saúde dos educadores – aliando-se a essas políticas a melhoria da organização do sistema educacional, com gestão democrática, currículo de base social e financiamento público capaz de atender aos desafios da escola integral –, é que será possível trilharmos um caminho mais promissor para a qualidade da escola pública”, destaca.
 
Sobre as expectativas de futuro da categoria e como vê a profissão.
Uma combinação de fatores levou o Ministério da Educação, recentemente, a pensar em uma política parecida com o Mais Médicos, porém sem a perspectiva de importar profissionais como aconteceu no caso da saúde.
 
Para a CNTE, o “Mais Professores” ainda não lançado oficialmente pelo MEC só alcançará êxito se focar as políticas voltadas para a valorização dos profissionais de forma sistêmica. Segundo Fátima Silva, “pouco adiantará investir na formação, se os salários continuarem aviltantes; da mesma forma que o piso salarial nacional não pode continuar dissociado da carreira, pois assim se constituirá em teto. É preciso disponibilizar melhores condições de trabalho para os que já se encontram nas redes de ensino, visto que só assim a juventude se convencerá de que o magistério é um caminho promissor para a realização de seus sonhos profissionais e de vida”, afirma.
 
O livro Educação: carinho e trabalho – burnout, a síndrome da desistência do educador, que pode levar à falência da educação (ed. Vozes, 1999) revela que a maioria esmagadora dos profissionais que atuam na escola pública gosta do que faz, mas se ressente de condições de trabalho e de retribuição efetiva do Estado. E essa constatação de pouco reconhecimento, aliada às condições de intensa inter-relação com os estudantes e suas mais variadas realidades socioeconômicas e culturais, expõem os profissionais da educação a inúmeros desgastes e à própria síndrome de burnout, que literalmente significa “perda de fogo, de ânimo” para desenvolver o trabalho com a necessária disposição física e psíquica.
 
Ainda de acordo com a secretária de Relações Internacionais da CNTE, “é fato que o Brasil precisa cuidar melhor de seus educadores. A categoria está adoecendo e a sociedade e os governos continuam exigindo da escola e de seus profissionais coisas que, propriamente, não lhes compete. Além de formar cidadãos, as famílias esperam que a escola eduque seus filhos, o que é completamente impossível e desaconselhável, além do que aumenta o estresse dos educadores. Por outro lado, a escola continua funcionando em condições pouco democráticas e emancipadoras, expondo contradições de seu papel enquanto instituição pública voltada à transformação da sociedade”, conclui.
 
Inúmeras pesquisas, inclusive realizadas pela CNTE (Retratos da Escola 1, 2 e 3 – ver em http://www.cnte.org.br/index.php/publicacoes/pesquisas), apontam um acelerado processo de envelhecimento da categoria do magistério, e, ao mesmo tempo, os levantamentos censitários revelam, ano a ano, uma baixíssima procura pelos cursos de formação de professores.
 
 
Nome: Fátima Aparecida da Silva
Cargo: Secretária de Relações Internacionais da CNTE e Vice-Presidente Regional da Internacional da Educação para a América Latina (IEAL)
Formação: Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Tempo de magistério: 28 anos na rede pública de educação básica do Mato Grosso do Sul
 
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