Preconceito e machismo nas escolas do DF

A escola é uma ilha e, em uma sociedade como a nossa, na qual o preconceito não é nenhuma novidade, basta ver nossa história de vários séculos de escravismo, de relações patriarcais e machistas refletidas em seu interior. Segundo Marillene Chauí, a gênese de nossa sociedade é autoritária, tal autoritarismo reflete-se na forma de estruturação do poder. Aqui, as oligarquias políticas se revezam na condução dos negócios do Estado que são colocados para atender os interesses privados. Dentro deste contexto, mesmo tendo conseguido democratizar o acesso à escola, não conseguimos democratizar as relações sociais em seu interior. Em nossas escolas, a discriminação por motivos raciais, socioeconômicos, geracional, de gênero, territorial, de orientação sexual e o relacionado a pessoas com necessidades educacionais especiais tem se perpetuado quase que de forma intocada como nos demonstra recente pesquisa coordenada pelo professor José Afonso Mazzoh, da FEA-USP, que realizou pesquisa de campo em 501 escolas públicas de todo o país, nas quais foram entrevistadas de 18.500 pessoas (alunos, pais e mães, diretoras, professores e funcionários).
Fato recente, ocorrido no Centro de Ensino Médio 2 do Gama, remete-nos não apenas às reflexões anteriores, mas também a questionamentos mais profundos sobre a natureza de nossa profissão, vamos aos fatos: desenrolava-se uma reunião pedagógica cuja pauta contemplava, em um de seus itens, apreciação sobre as eleições do grêmio estudantil quando um professor dá início às suas demonstrações de discriminação – inicialmente, dirigiu seus ataques aos alunos que disputaram as eleições do grêmio estudantil. Suas colocações: “É necessário que a Direção impeça que determinados alunos participem das chapas que concorrerão ao grêmio, há péssimos alunos infiltrados nas chapas” nos demonstram claramente o preconceito político e acadêmico do referido professor. Senão vejamos: A lei que regula os grêmios estudantis não permite a tutela da direção ou dos professores e, se há na escola “péssimos alunos”, de quem é a responsabilidade senão também de seus professores?
Ocorre que os despropósitos do já mencionado professor não ficaram apenas na discriminação política e acadêmica. Quando uma pessoa tomou a palavra para esclarecer os fatos e, por que não, em defesa dos alunos foi brutalmente constrangida tendo sua palavra cassada com frases como: “cale a sua boca”, “não admito ser interrompido quando estou falando” – proferidas aos berros – o constrangimento chegou a tal ponto que a professora levanta-se com a intenção de se retirar do local quando o professor continua ainda com voz alterada dizendo que era isso mesmo, que era a melhor coisa que ela fazia, que saísse da sala. Algumas colegas, todas mulheres, tentaram defender a professora e, imediatamente foram destratadas pelo “homem em questão”. A discriminação de gênero ficou tão patente que não foi possível a professora ofendida ignorar a questão, sentimento demonstrado por alguns colegas da escola. Na seqüência a professora ofendida registrou ocorrência na 14ª Delegacia e solicitou providências à direção, inclusive com a abertura de processo sindicante para apurar os fatos. Por não ser mais possível conviver com tais agressões conclamamos aos colegas professores que insiram o tema da discriminação de gênero em suas coordenações pedagógicas.

Por: Prof. Antônio Gomes Coelho – Diretor do Sinpro-DF
Prof. Olimpio Sabino Lourenço – Prof. De ciências do CEF 15 do Gama