Pesquisa aponta os problemas de saúde dos professores

No ano de 2008 a Secretaria de Educação elegeu os professores doentes como alvo para uma série de ataques. Primeiro, o governo exigiu que todos os atestados fossem submetidos à perícia médica. Depois, foi aos meios de comunicação alegar que os professores tiravam muitos atestados por preguiça de trabalhar. O atendimento da Perícia Médica, que já era péssimo, piorou ainda mais. Para desmentir a campanha de desinformação do governo e descobrir as reais causas das doenças dos professores, o Sindicato encomendou uma pesquisa sobre o assunto, feita pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde e Trabalho, sob a coordenação do Laboratório de Psicologia e Clínica do Trabalho da Universidade de Brasília. Os resultados da referida pesquisa foram apresentados pela coordenadora do trabalho, a doutora Ana Magnólia Bezerra Mendes durante o 8º Congresso dos Trabalhadores em Educação.

As conclusões são alarmantes. Um em cada três professores que participaram da pesquisa afirmou ter alguma doença ocupacional, e mais da metade dos professores havia tirado um atestado nos últimos seis meses. Pior, a avaliação das condições atuais de trabalho demonstra que essas tendências só devem se agravar, disse Magnólia. “Se não forem tomadas providências a curto e médio prazo, teremos um nível ainda mais alto de doenças”, avisou a pesquisadora.

Foram avaliados 1462 professores, e uma análise estatística permitiu traçar o perfil médio dos que responderam à pesquisa. O respondente típico é uma professora com especialização que trabalha 40 horas por semana, e é a principal responsável pela renda da casa, tem 38 anos, não tem outro emprego e trabalha há 13 para a regional de ensino. Imaginar que uma pessoa como essa tira atestados médicos por preguiça é um exercício de imaginação.

A pesquisa tinha como método avaliar a organização, as condições e as relações de trabalho. A primeira diz respeito à estrutura do ensino e como são divididos o planejamento e a execução das tarefas. As condições de trabalho se referem às condições materiais, as ferramentas disponíveis e o ambiente de trabalho. Por fim, as relações de trabalho são as relações entre chefia e subordinados, bem como relações entre os próprios professores. Todos os itens tiveram índices desastrosos na pesquisa. 98% dos professores consideraram a organização de trabalho precária ou crítica. Sobre condições de trabalho, 96% pensaram o mesmo, e 95% criticaram as atuais relações de trabalho.

Os professores se revoltam com as salas superlotadas, o barulho, a competitividade, a constante cobrança por resultados. Essas condições inadequadas se refletem negativamente na saúde da categoria: 33% apresentam doenças físicas relacionadas ao trabalho, e 26% demonstram depressão. Apenas 6% dos professores não reportaram nenhum tipo de distúrbio físico ocasionado pelo trabalho. Os mais comuns são varizes, tendinite, depressão e uma série de doenças relacionadas ao sistema motor, especialmente da cintura para cima. Além disso, os professores relataram danos sociais como vontade de ficar sozinhos ou problemas em relações familiares.

Para Magnólia, a ligação entre essas doenças e o trabalho é clara. “a precarização das condições de trabalho está diretamente ligada ao esgotamento. E o esgotamento provoca danos físicos e psíquicos, enquanto a falta de reconhecimento causa os danos sociais”. As soluções? Magnólia recomenda o fortalecimento político da categoria e do sindicato, para que possam exigir condições melhores do governo. A discussão direta com a gestão no local de trabalho, para garantir a liberdade de expressão e os laços de solidariedade. E um bom plano de saúde.