Fechamento de EJA: visão mercantil da educação

Alunos de cursos noturnos de Educação de Jovens e Adultos estão tendo uma desagradável surpresa: chegam às escolas para estudar e se surpreendem com o fechamento das turmas e transferências para locais distantes de suas casas. Nesta semana a imprensa noticiou fechamento de turmas na Vila Planalto, na única escola que atendia jovens e adultos no curso noturno e em escolas da Ceilândia.
O mais absurdo é ouvir a justificativa do secretário de Educação, José Valente.
“A questão da educação de jovens e adultos apresenta, historicamente, um processo de evasão da ordem de 70%. De cada dez alunos que se inscrevem agora no início do ano, apenas três concluem o período ao final do ano. Isso é uma situação absolutamente insuportável, pelo Estado e pela sociedade. O que nós estamos tentando fazer é motivar os alunos – que não estão no ensino regular – a buscar os programas de aceleração feitos em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Por conta dessa grande evasão, em determinados casos nós somos obrigados a adequar a estrutura das escolas para que tenhamos o uso responsável do recurso público”, justifica o secretário.
Ou seja, ao invés de atacar os motivos da evasão, quais sejam: a escola distante do lar, a medo da violência, a falta de professores, a falta de material didático, o transporte público caro e deficiente, a falta de uma política de merenda escolar para o aluno que vem direto do trabalho etc, o secretário opta por negar aos alunos o direito de estudarem! O Sinpro está denunciando essa situação há tempos, inclusive denunciando a forma açodada com que foi implantada o tal projeto de aceleração de aprendizagem, sem material e sem formação de professores. Solicitamos a todos que tenham informações de fechamento de turmas que informem ao Sinpro para que possamos denunciar.

Confira abaixo a íntegra das matérias publicadas no DFTV na terça e quarta-feira dessa semana e vejam o depoimento dos alunos que estão desesperançados e tristes por conta do desrespeito ao seu direito. Será que o Ministério Público não está vendo isso?

Três escolas de Ceilândia não vão ter aulas à noite. São turmas da Educação de Jovens e Adultos. Ontem, o Bom Dia DF mostrou situação semelhante na Vila Planalto.
Portões fechados, escola vazia. O começo do ano letivo foi diferente dos anteriores no Centro de Ensino Nº 07, em Ceilândia Sul.

A dona de casa Matilde da Silva mora em frente à escola e estranhou a falta de alunos. “Já era pra ter muita gente”, comenta.

Os estudantes do turno da noite foram todos transferidos. O mecânico João Neto não gostou nem um pouco. “Aqui ficou melhor porque você não vê bagunça e por conta das aulas sempre tinha polícia”, lembra.

O grupo do qual a operadora de telemarketing Ana Clécia de Souza faz parte estudava no Centro de Ensino 11, onde também não vai haver aula à noite. Os estudantes souberam da novidade no fim do mês passado e por telefone fixo. Como Ana Clécia só tem celular, não foi avisada. Resultado: perdeu um dia de trabalho para se matricular em outra escola.

“Cheguei lá às 8h30. Fiquei até às 16h30. A minha senha foi 1.015, para conseguir uma inscrição e vir estudar aqui. Só que a escola é longe e o local é muito perigoso”, reclama Ana.

Os alunos também dizem que a mudança representa um gasto a mais: são duas passagens de ônibus todos os dias. Uma escola de Ceilândia Sul, por exemplo, recebeu estudantes da Guariroba e até de Ceilândia Norte.

“Hoje eu tive que pedir emprestado para vir pra escola”, confessa um aluno. “Se eu não arrumar um colégio perto da minha casa, vou ter que desistir. Não tenho condições de vir pra cá”, lamenta outra estudante.

Por que o fechamento?

De acordo com o secretário de Educação, José Luiz Valente, o problema está na evasão. “A questão da educação de jovens e adultos apresenta, historicamente, um processo de evasão da ordem de 70%. De cada dez alunos que se inscrevem agora no início do ano, apenas três concluem o período ao final do ano. Isso é uma situação absolutamente insuportável, pelo Estado e pela sociedade. O que nós estamos tentando fazer é motivar os alunos – que não estão no ensino regular – a buscar os programas de aceleração feitos em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Por conta dessa grande evasão, em determinados casos nós somos obrigados a adequar a estrutura das escolas para que tenhamos o uso responsável do recurso público”, justifica o secretário.
O Centro de Ensino Fundamental encerrou o turno da noite. A decisão prejudica dezenas de trabalhadores que buscavam uma oportunidade de aprender.
No primeiro dia de aula, as portas das salas foram fechadas para os alunos da noite. “A gente trabalha o dia todinho, fica cansada, e quando vem para o colégio para estudar, cadê o professor? Não tem condição”, diz a auxiliar de serviços gerais Francinete de Sousa Miranda.

A manicure Viviane Fátima de Moraes comprou o material escolar, mas foi surpreendida. “Eu estava viajando e acho isso um absurdo. Eu estou surpresa demais, abalada mesmo”, reclama.

Quem estudava na única escola pública da Vila Planalto foi transferido para colégios na Asa Norte. Sem linhas de ônibus disponíveis, os alunos têm de se virar com transporte particular. “Muita gente aqui é pobre e não tem condições de pagar um ônibus escolar para ir para a Asa Norte. Mas eu não quero ficar parado. É uma coisa que eu botei na minha cabeça, que eu vou estudar e ser alguém na vida. Aí acontece isso? Acho errado”, desabafa o cozinheiro Leonardo da Silva Santana.

A Secretaria de Educação diz que os alunos abandonaram a escola. Em 2008, 71 pessoas foram matriculadas, mas só 16 terminaram o ano letivo. Os alunos que ficaram justificam o abandono dos colegas. “Por causa de falta de professores, os alunos começaram a se aborrecer e começaram a sair. As pessoas chegam cansadas, chateadas e ainda não tem aula por falta de professores. Assim não dá!”, diz auxiliar de serviços gerais Joana Darc de Nascimento.

Os moradores e estudantes se reuniram na escola. Ninguém quer o fim das aulas. “Eu quero estudar, porque eu nunca tive essa oportunidade. Só pude agora, depois de 38 anos. Se a escola fechar, vou parar de estudar porque não tenho condições financeiras”, diz a auxiliar de serviços gerais Marivalda Viana Porto.

A Secretaria de Educação recomendou que os estudantes façam matrícula em outras escolas, para não perder o ano letivo, até que se encontre uma solução para a retomada do turno da noite.