Carregadoras de Sonhos retrata trabalho de educadoras

O MEC e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe (Síntese) convidam os professores e professoras de Brasília para a exibição do filme Carregadoras de Sonhos hoje, dia 26, às 16h, no auditório do MEC, com debate ao final da exibição. O filme é um longa-metragem que mistura realismo e poesia e tem como tema principal a educação. Mostra um dia de trabalho de quatro profissionais do magistério e, além de abordar aspectos estruturais relacionados à educação, também apresenta uma análise do sistema educacional feita pelas próprias professoras.
Ao contrário do que se espera de um documentário, o filme Carregadoras de Sonhos não tem a entrevista como elemento principal de sua narrativa. O filme mostra as professoras em ação, o roteiro foi construído com base em estruturas usadas pela ficção e a produção do filme utilizou os mesmos procedimentos empregados na arte do Cinema.
A ideia surgiu em 2008, durante o Congresso bianual do Sintese, quando os 2 mil delegados presentes responderam um questionário detalhando suas condições de trabalho. Inicialmente, o projeto era de um curta-metragem que tratasse das professoras bóias-frias que, trabalhando longe de casa e em uma rotina apertada, almoçam rapidamente uma marmita fria entre as aulas.

Diálogo com a sociedade
Os questionários, no entanto, evidenciaram que a alimentação é apenas um entre os diversos problemas que os trabalhadores da educação enfrentam cotidianamente, tais como violência, transporte, salário, recursos precários, entre outros. Desse modo, o projeto e o tema se expandiram.

O cineasta baiano Deivison Fiúza que foi contatado para dirigir, roteirizar e produzir o longa, selecionou – a partir dos questionários – as quatro professoras que atuaram no filme. “Quem discute e implementa política educacional precisa assistir ao filme. Discutir política educacional nos gabinetes é muito fácil”, expõe Roberto dos Santos, diretor de comunicação do Sintese. “Queríamos utilizar uma linguagem que dialogasse com toda a sociedade brasileira. Se fizéssemos um trabalho muito discursivo, ou com a bandeira e imagens do sindicato, ficaria panfletário. Há muito preconceito quando algo é feito por um sindicato”, completa.

Santos relata, ainda, que o sindicato deu total liberdade ao diretor na elaboração do filme, sem nenhuma interferência editorial. “Nós da direção do sindicato só fomos ver o filme pela primeira vez na semana passada. E ficamos satisfeitos”, afirma.

Retrato da realidade
O jovem diretor, aos 30 anos, reafirma a necessidade que a esquerda tem de renovar a sua linguagem. “O filme foi roteirizado, dirigido e montado como se fosse um filme de ficção, é o que se chama hoje de ‘docudrama’”. Segundo ele, o filme retrata a realidade. “As professoras são reais, as histórias são reais, as locações são reais, mas o procedimento adotado foi de cinema de ficção. O objetivo foi dramatizar o máximo possível a vida e a rotina delas para que houvesse uma comunicação mais efetiva com a sociedade” explica.

Apesar de ter sido filmado em Sergipe, as quatro rotinas retratadas na película refletem a situação da educação no âmbito global. “Jamais pensei que na minha vida que eu participaria de algo assim”, revela a professora Edielma. “Não enfrentamos tudo isso no nosso dia-a-dia pelo nosso salário, até porque ele é ínfimo. Fazemos isso tudo por acreditar e pra lutar por uma educação de qualidade no nosso país”.

Denunciar e impactar
Sem ilusões quanto às transformações que o filme trará, professora Marta acredita que o papel que o filme cumpre é de fazer com que pessoas vejam as condições de trabalho que elas – e muitos outros – enfrentam. “A ideia do filme é impactar”, sintetiza.

Para a professora Rose, “tudo foi uma grande aventura, expor aquilo que eu vivo dentro de uma realidade que é tão precária, eu achava que ninguém nunca ia chegar lá”. Criticando as políticas educacionais do governo e a propaganda política que se faz em torno da educação- mas que não é efetuada na prática- as professoras acreditam que ao menos a denúncia está sendo feita. “Foi muito satisfatório mostrar às pessoas que isso existe, esse descaso, como eu vivo. Acredito que é possível transformar a realidade”, aponta Rose. (com informações da Caros Amigos).

Carregadoras de Sonhos será legendado em espanhol, francês e inglês, e inscrito em ao menos 60 festivais de longas-metragens, nacionais e internacionais.