Amor de mãe, coragem de guerreira

A chuva forte desta quinta-feira (26) e a pouca atenção do governo do Distrito Federal não levou ralo abaixo a esperança das mães de Ceilândia. Dentro de um ônibus antigo, cerca de 50 mulheres e crianças se reuniram e articularam as ações que devem ser desenvolvidas para a garantia da vitória de uma luta antiga: a ampliação de vagas em creches públicas.

Enquanto o estrondo dos trovões ruía do lado de fora do ônibus, do lado de dentro o que se escutava eram palavras de luta e encorajamento. “A luta é uma caminhada, só se acaba com a morte. A luta é a vida. A vida é trabalho. Trabalho é doação. Doação é dar até a derradeira gota de sangue. E é isso que vocês estão fazendo aqui”, disse dona Maria Francisca Vidal, pioneira na luta pela ampliação de vagas em creches públicas em Ceilândia.

Com a estiada da chuva, as mães de Ceilândia, junto com as do Recanto das Emas, representantes da CUT-DF, do Sinpro-DF e da Marcha Mundial das Mulheres, empunharam faixas e cartazes e se aglomeraram em frente ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), em Ceilândia Norte. Com o auxilio de um carro de som, as mães justificaram à sociedade e aos funcionários do Centro o motivo da manifestação.

Ao final, as manifestantes avaliaram como positiva a ação e deixaram encaminhadas ações que serão realizadas em outras cidades do Distrito Federal com o mesmo objetivo.

Uma bandeira da CUT
No Brasil, as mulheres trabalhadoras foram precursoras da luta pelo direito à creche pública desde o início dos anos 40, quando exigiram das empresas privadas a oferta de creches para seus filhos. Em 1953, a creche também foi uma das principais reivindicações da I Conferência Nacional de Mulheres Trabalhadoras. Ainda antes de ser incorporado à Constituição Federal em 1988, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo incluiu o direito à creche como cláusula num dissídio coletivo. Mesmo assim, a primeira versão do Fundeb, discutida em 2007, só incorporou a questão através de emenda parlamentar.

Estima-se que as mulheres são responsáveis pelo cuidado não remunerado de 11 milhões de crianças no Brasil. Tomando este cenário como parâmetro, a CUT lançou neste mês de março a Campanha Nacional por Igualdade de Oportunidades – na vida, no trabalho e no movimento sindical, tendo a luta por creches públicas como um dos eixos principais. Esta luta agrega quatro dimensões complementares: a garantia dos direitos da criança, a autonomia das mulheres, a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade para todos os níveis de ensino e a garantia de direitos dos trabalhadores em educação.

Dados e fatos
O direito à creche para crianças de zero a três anos ampara-se na Constituição Federal brasileira e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Entretanto, dados do Ministério da Educação mostram que no DF, das 224 creches, 11 são públicas e 213 privadas. Do total de 11.013 alunos, apenas 769 são atendidos pela rede pública.

A última Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) aponta que as vagas oferecidas pelo sistema público (incluindo creches conveniadas) respondem por apenas 16% das crianças com idade entre zero e três anos, matriculadas em creches na capital Federal. Aproximadamente 150 mil crianças nessa mesma faixa etária permanecem à mercê dos arranjos familiares. (do site da CUT-DF)