A Sociologia, a realidade e o sistema produtivo brasileiro

Procuramos estabelecer neste texto as relações entre o estudo da sociologia, que analisa as interações sociais nos sistemas implantados e vigentes no Brasil e o nosso próprio modo produtivo que é bastante peculiar, visto que parte de uma sociedade primitiva e chega a uma linha tecnológica de ponta e ainda contemos mais variados modos produtivos em seu contexto.
Lembramos ainda o percentual da sociedade brasileira que se alinha em pé de igualdade com o primeiro mundo e as conseqüências para o resto da população. Acrescentamos nossas raízes étnico-culturais (nativas, africanas, morais, judaicas, cristas e lusitanas) e suas conseqüências atuais: “o jeitinho brasileiro”, além da concepção errônea de que somos pacíficos, solidários e festeiros. Mostramos aí as contradições existentes neste paradigma, relativas ao nosso desenvolvimento e nossa situação atual.
Contextualizamos aspectos da mobilidade social, sobretudo no que tange a relação entre teoria e pratica, além de analisar a atualidade, a inserção humana no mundo com sua experiência relativa ao conhecimento, à força do mito dentro do sistema produtivo brasileiro e ao desenvolvimento sustentável.
Afinal procuramos interrelacionar mito, planejamento e ação mostrando a necessidade de construir uma consciência critica capaz de superar eventuais dificuldades no percurso rumo ao desenvolvimento esperado com o auxilio do processo amoroso da educação.
Introdução
É natural que toda sociedade procure estabelecer vínculos e parâmetros para o seu funcionamento. A sociedade brasileira, que é muito recente se comparada com várias outras do mundo (em especial Europa ou Ásia e até mesmo com a América do Norte – Estados Unidos e Canadá, em virtude de seus fortes laços com a língua e cultura inglesa e francesa), não tinha até o final do 2º milênio, condições de se impor no mercado mundial. Fato que se modificou na última década.
Em virtude de todos esses laços primordiais, nossa sociedade ficou muito engessada nas suas relações de produção, acabando por seguir todas as regras impostas sem ao menos questioná-las. E o pior é que parte de nossa sociedade (em torno de 10% da população) manteve-se em conformidade com todo o sistema mundial. Mas acontece que mesmo assim ela participa do sistema de produção atual – no caso, capitalista. Mas ainda com a condição de dependente e com obrigações herdadas do tempo colonial, já modificou parte destas obrigações se traduziam em dívidas com o Primeiro Mundo – especialmente Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, França e Japão. Mas já estamos avançando mais na competitividade entre as nações. Sobremaneira após a criação do BRICS e dos 20 mais ricos do mundo.
Ligando estas questões a outro fato, a nossa origem íbero-lusitana – que já traz em seu bojo as características mouriscas e judaizantes – nos fortalece a vontade de ganhar dinheiro rapidamente e, sem muitos investimentos e com bastante improviso, como o famoso “jeitinho brasileiro” ou a famigerada “lei do Gerson: você precisa levar vantagem em tudo”, além de estar sempre voltada para o exterior, sobretudo com a política extrativista exportadora visando obter superávit que se justifica socialmente pelo pagamento da dívida externa no final do século XX.
O papel da mobilidade social
Para completar nossa análise precisamos rever também nossa vocação extrativista exportadora, pois só agora, no século XXI começamos a nos destacar como produtores industrializados. Quanto maior superávit, melhor. Aqui precisaremos fazer uma referência teórica sobre a mobilidade social, que nos proporcionou isso.
Para Sorokin, espaço social é uma espécie de universo constituído pela humanidade. Sem humanidade ou vários seres humanos, nada de espaço social. Com um homem só podemos ter no máximo um “espaço pessoal”. Por isso o espaço social é totalmente diverso do espaço geográfico, que tem sua existência independente de nós humanos.
Localizamos algo no espaço geográfico seguindo as coordenadas de longitude, latitude e altitude, além das estradas, cidades, ruas, etc… Para isso só precisamos dos referenciais determinados. Com o espaço social acontece algo semelhante. Podemos definir a medida ou distância social de determinado indivíduo, grupo ou fenômeno social através das relações existentes entre os membros em questão determinando um “ponto de referência”. Só que os pontos de referência sociais não são tão universais quanto os geográficos em virtude da condição humana. Por isso localizar uma pessoa socialmente não é o mesmo que localizá-la fisicamente, por exemplo. Socialmente falando, as pessoas têm posições e referenciais diferentes que variam conforme seu status no grupo social. Como existem diferenças de classes, etnias, poderes econômicos, profissões, religiões e erudição, então os grupos predominantes – que são os que exercem de fato o poder – são mais facilmente identificáveis.
“Pessoas pertencentes a mesmos grupos, desempenhando em seu interior mesmas funções, possuem, em conseqüência, idêntica posição social; posição social diferente é aquela ocupada por pessoas que pertencem a grupos diferentes entre si e/ou exercem funções diversas no interior desses grupos. Por aí constatamos que a distancia social é pouca ou nenhuma entre pessoas com posição social semelhante ou idêntica e, ao contrário, será grande entre pessoas com posições sociais diferentes, tendendo a aumentar à medida que essas diferenças forem maiores e mais numerosas.” (Eva Lakatos & Marina Marconi-1999: 7a edição)
O sistema de coordenadas sociais funciona num espaço social que é multidimensional. Só para exemplificar podemos citar as seguintes dimensões sociais: religião, nacionalidade, ocupação, posição econômica, etnia, sexo, idade e partido político. Estas dimensões estão intimamente relacionadas com a complexidade de uma população de modo que necessita de um sistema complexo de coordenadas sociais que indique sua relação com os inúmeros grupos existentes. Dentro destas relações sociais existe o fenômeno da migração ou passagem de um nível para outro. Podemos entender por nível a classe social ou o estrato social. Essa mudança de um nível para outro, ou de uma classe para outra é o que se chama mobilidade social.
Teoricamente é fácil definir ou conceituar a mobilidade social. O problema sério está na prática. Acontece que essa mobilidade ou passagem de nível está sempre ligada a outras questões mais subjetivas. Intimamente trata-se do poder dominante, no caso representado pelo status quo. Quase sempre este poder procede do poderio econômico. Mesmo que muitos teóricos ou filósofos atuais digam o contrário, ainda concordamos com Marx no que tange a questão econômica: ela é determinante. Quem duvidar pode conferir. É especialmente neste caso que a exceção justifica a regra.
O homem, o sentimento e o mundo
Os homens, antes de serem o que conquistaram na sua história, são seres vivos, do gênero animal. E como todos os animais, nem sempre mantém relações harmoniosas com o meio natural, nem sempre o padrão adaptativo mostra-se o mais adequado. Então o que se tem é uma relação conflituosa e competitiva. Onde logicamente o mais “competente” sairá vitorioso.
No homem, a reação diante dessas ameaças adaptativas é de angústia. Um sinal de alarme revela nele uma disposição afetivo-emocional que afeta diretamente o eu individual do homem, pondo em dúvida o seu direito à existência. Não se trata apenas da existência física, mas, sobretudo, da existência de uma identidade afetiva, de um modo de ser, uma história, uma personalidade. Você se lembra de alguma vez já ter vivenciado situações de angústia como o trauma da morte?
Não temos notícias de que animais tenham vivências semelhantes. Isso porque o real, para eles, não está separado deles: não precisa receber uma atribuição de sentido, ou seja, não possui significado para ser interpretado. O animal habita o mundo real, e dele faz parte: enquanto o homem habita a realidade, cria uma circunstância na qual se instala, e que para ele faz sentido. A circunstância do homem pertence ao real e à imaginação. E existe o risco permanente de o real deixar de fazer sentido perante a imaginação. Quando isso ocorre, o homem experimenta a angústia de sentir-se desamparado. Atualmente sabemos que as relações comerciais suprem estas angustias experimentadas pelo homem. E atualmente, no início da segunda década do século XXI, nós brasileiros estamos experimentando este gosto pelo consumo, tão bem degustado pelos europeus e norte-americanos na segunda metade do século XX.
Experimentando o real
O senso comum, especialmente o bom senso é o guia do homem na solução de suas dificuldades diárias. É o referencial com o qual está habituado, orientando-o em seu cotidiano: “O bom senso é simplesmente o depósito intelectual indiferenciado resultante da sede de experiências fecundas da espécie, do grupo social e do indivíduo, que se transmite em forma não- sistemática por herança racional, e não em caráter de conhecimento refletido”.(Vieira Pinto, 1979: 359)
O conhecimento ingênuo tem origem no enfrentamento diário dos problemas que afligem o homem. Do confronto com a realidade, o homem produz um “saber de direção”, ou seja, um saber não-sistematizado, obtido sem qualquer planejamento rigoroso, no entanto capaz de guiá-lo na busca de elementos indispensáveis para sua sobrevivência. Por exemplo, aprender a se equilibrar em uma bicicleta ou flutuar na água.
Por meio das observações do senso comum o homem do campo aprende a plantar e a colher na época apropriada e transmite esses ensinamentos a seus filhos e netos. O pescador aprende a conhecer o tempo, sai para pescar com bom tempo e retorna antes da tempestade desabar, trazendo a rede cheia de peixes – ou não. O conhe¬cimento ingênuo oferece às pessoas as informações necessárias à sua existência cotidiana. Ao contrário do que se pensa, esse conhecimento não é incorreto ou errado. Muitas vezes, é conhecimento autentico, embora não-verificado, não-dota¬do de certeza. É conhecimento simples, casual e assistemático, geralmente obtido pelas observações cotidianas.
No entanto, as informações de bom senso constituem ponto de partida para o conhecimento científico. Criticando o bom senso, questionando e reformulando o saber que proporciona, atinge-se o saber científico. Sofisticado, o bom senso transforma-se em ciência.
O homem: quem é ele, afinal?
Animal racional da ordem dos mamíferos (Homo) que se distingue de todos os outros pelo dom da palavra ou linguagem articulada e pela inteligência: a razão é que distingue o homem dos outros animais (Caldas Aulete, 1958: 2612-3).
Qualquer individuo pertencente à espécie animal que apresenta o maior grau de complexidade na escala evolutiva; cada um dos indivíduos da espécie Homo sapiens (Aurélio, 1986: 903).
O que distingue o ser humano dos demais seres vivos? Entre o homem e o animal, há continuidade ou salto qualitativo? Em que consiste a natureza humana? O homem é composto de corpo e alma (ou espírito) ou é de natureza puramente corpórea?
O homem é livre porque pode fazer escolhas e isso é possível somente porque possui uma inteligência teórica.
O homem como ser material
Conceituar o homem como um animal significa dizer que é um ser vivo, como vida não apenas vegetativa, mas também animal. Em suma, significa dizer que possui um corpo, ou seja, é matéria viva complexamente organizada e, como tal, sujeito às mesmas leis que governam outras matérias.
Como todo ser vivo, o homem age sobre a natureza com a finalidade de sobreviver como espécie. Mas quando isto acontece, ele difere dos demais seres vivos porque possui vida própria, consciente, auto-determinada e auto-determinante.
O homem como ser racional
A posse e o uso da razão caracterizam o homem distinguindo-o dos outros animais. É capaz de refletir, emitir juízos, dominar e modificar a natureza através de suas conquistas técnico-científicas bem como elaborar conceitos e idéias.
Como ser racional e pensante transcende os limites impostos pelo seu corpo e cria novas realidades.
Por meio do pensamento, o homem se projeta no futuro em busca do infinito.
Nesse sentido, ao mesmo tempo em que o homem reproduz o que já existe, é capaz de inovar através do uso inteligente e criativo do pensamento.
O homem como ser psíquico
O ser humano, dotado de uma personalidade exclusiva, necessita de afeto, compreensão, aceitação, auto-estima e auto-respeito.
Embora único, o homem não vive sozinho. É lugar-comum afirmar que ele não é uma ilha. Necessita compartilhar sua existência com os demais indivíduos. Nesse sentido, é um ser social.
O homem como ser social e político
O individuo não existe, como ser humano, fora do meio social. Alem dos impulsos vitais que levam os homens a se juntar ou a se opor uns aos outros, eles são estimulados a compartilhar sua existência com os demais, movidos pela necessidade de buscar o bem comum.
A linguagem é um fenômeno eminentemente social, resultado da convivência humana, que possibilita a comunicação escrita e oral entre os homens.
O homem como um ser da práxis
O processo de produção da existência humana é um convite permanente para a ação, o que permite caracterizar o homem como um ser da práxis, isto é, um ser da ação. No entanto, diferentemente dos animais, no homem a ação é consciente, finalística, livre e responsável.
Por seu encontro atuante com a natureza, o homem, através do trabalho, da ciência e da tecnologia, em virtude de sua inteligência e liberdade, transforma o mundo em seu próprio mundo.
O homem como um ser livre, ético e estético
O homem, embora movido em parte pelos instintos, pode dominá-los através de suas livres decisões e escolhas.
Ao fazer suas escolhas entre bem e mal, certo e errado, verdadeiro e falso, conveniente e inconveniente, o homem se caracteriza como um ser livre, sendo livre, é também um ser moral.
O homem é um ser que possui um senso ético e uma consciência moral. Como ser moral, o homem é atraído pelo bem, pela justiça, pela verdade, pela honestidade, etc.
Como ser estético é permanentemente atraído pelo belo.
O homem como um ser finito, perfectível e inacabado
O homem é o único ser que tem consciência de sua finitude. Sabe que sua vida tem começo, meio e fim: é um “ser-para-a-morte”. Dessa maneira, ele não se satisfaz com o que é ou com aquilo que possui. Está continuamente buscando algo mais. Aspira ao infinito e deseja alcançá-lo. Ao mesmo tempo, está consciente de seus limites: é um ser finito que procura a perfeição e o absoluto.
Essa situação contraditória e paradoxal gera uma crise existencial, superada em parte pela crença na imortalidade da alma e na existência de um Deus e de uma vida após a morte. É a maneira encontrada pelo homem para transcender sua contingência e sua limitação impostas pela matéria e alçar vôo rumo à espiritualidade.
O sistema produtivo brasileiro
Podemos ver que de acordo com todo o processo histórico do Brasil, incluindo as qualidades e defeitos, nós acabamos por criar um novo modo de produção, mais baseado na consciência ingênua de nosso próprio povo para não dizer de nós mesmos. É verdade que ele é por demais dependente, mas mesmo assim tem uma forma própria de ser, completamente diverso dos outros existentes no mundo, tanto ocidental quanto oriental. Dentre outras, por coexistirem juntos todos os modos de produção além da grande miscigenação da população brasileira.
Considerando a mobilidade social como uma das medidas da dinâmica e desenvolvimento social de um país, uma sociedade estagnada sob esse aspecto apenas reproduz sua estrutura social dia após dia, pouco ou quase nada oferecendo de progresso social. Para que esse almejado progresso aconteça é necessário a passagem de indivíduos ou grupos de um nível social a outro. No nosso caso brasileiro isso só acontece como exceção à regra e nunca como etapa de um processo de desenvolvimento. O tipo de mobilidade aqui existente é apenas o circular, onde os grupos de mesmo nível se intercalam nas posições pré-definidas como em um jogo de cartas marcadas.
Por exemplo, quando o Governo JK decidiu realizar a construção na nova capital, escolheu como roteiro o “Relatório da Missão Cruls” apontando como local ideal o Planalto Central onde a vida era provinciana, conservadora e centrada em valores tradicionais. No processo de construção de Brasília, muitas pessoas migraram para esta região, atendendo o chamado do Presidente Juscelino, para realizar o fato notório: promover o desenvolvimento brasileiro, reduzindo 50 anos em 5 como “candangos” acreditando que estavam realizando uma verdadeira mobilidade social. De fato houve mobilidade social, mas só para poucos – a exceção da regra, porque a maioria veio a constituir as camadas populares do Distrito Federal.  E ainda hoje esta separação existe. Só para recordarmos, podemos passar uma  rápida olhada na forma de ocupação existente na cidade, como as habitações do Lago Sul ou dos condomínios fechados, se contrapondo aos aglomerados populacionais de São Sebastião, Recanto das Emas, quadras 1000 da Samambaia, Cidade Estrutural ou Águas Lindas de Goiás, uma autêntica periferia do Entorno de Brasília.
A perspectiva do desenvolvimento sustentável
Para clarear a questão do desenvolvimento recorremos aqui a Pedro Demo em seu livro: Sociologia , uma introdução crítica.
“A sociologia do Terceiro Mundo gira em grande parte em torno da questão do desenvolvimento e há para isso uma razão muito própria: entre as utopias aqui cultivadas, uma das mais importantes é a do desenvolvimento, ou, dito pelo reverso, a busca de superação da dependência e da pobreza sócio-econômica e política.
Há uma distinção importante, hoje geralmente feita entre crescimento e desenvolvimento. Crescimento significa acumulação de capital, aumento da produção, progresso industrial, incremento da riqueza material e, assim por diante, apanhando a dimensão propriamente econômica. Desenvolvimento significa a dimensão propriamente social e, em nosso sentido, mudança na organização da desigualdade social, tanto dentro do País, quanto em seu relacionamento com os outros. Pode haver crescimento sem desenvolvimento, embora dificilmente se pudesse imaginar o contrário, pelo menos dentro do capitalismo onde a desigualdade social é profundamente condicionada pela infra-estrutura de ordem econômica.
De certa forma, muitos autores admitiriam que o capitalismo somente consegue crescer, e nisto possui, como próprio Marx dizia, uma face positiva e progressista. Trata-se da superação do modo de produção feudal, a introdução da grande industria, o incremento da riqueza, condições essenciais para se chegar ao reino da abundância. Todavia, não conseguiria desenvolver-se, já que, na sua interpretação baseada na mais-valia, seria impensável sem o acirramento das classes.
Esta visão condensa-se num dos produtos mais típicos desta discussão, que é a questão da dependência. Quando dizemos que um País é subdesenvolvido, dizemos sobretudo que é dependente. A dependência mais importante é a econômica, porque o Terceiro Mundo realiza o “sobre-trabalho” necessário à reprodução do sistema capitalista central. A dependência se consolida nas transações do comercio externo, onde o Terceiro Mundo entra como perdedor oficial: preços impostos pelos países industrializados centrais, compra por parte deles de matéria-prima barata, sustentação de monopólios para impedir industrialização auto-sustentada, e assim por diante.”
Vivemos atualmente uma situação diferente do  que vivíamos no início da primeira década do século XXI. Nosso país hoje ocupa a 6ª posição entre as maiores economias mundiais. Mas a distribuição da renda continua nos mesmos patamares. Claro que houve uma grande ascensão social que marcou nossa sociedade a partir do governo Lula, mas ainda temos gritantes diferenças de concentração  de renda.
O planejamento e a ação
Todo esse conteúdo nos auxilia a confirmar a necessidade de estabelecer uma estratégia de planejamento a longo prazo, nos moldes dos países do Primeiro Mundo, que nos permita consolidar nosso desenvolvimento e sustentá-lo ao longo de décadas. Os planejamentos em execução no Brasil do século XXI, já são mais duráveis e podem durar 20, 30, 50 anos. Como isso está acontecendo, nossa história toma um rumo diferente como no caso que se segue.
Em 21 de abril de 1960, Brasília era inaugurada como ”a capital da nova esperança“ – a realização do sonho místico de Dom Bosco. Com mais alguns anos já estavam instaladas nesta região pessoas dos mais variados lugares do Brasil e também do mundo.
Comparando-se o passado e o presente observam-se muitas transformações ocorridas em nosso meio. Elas são de várias ordens como cultural, social, ambiental, política e econômica. Elas foram tão grandes que muitos referenciais do passado tornaram-se inadequados para a compreensão desta aventura pós-moderna chamada Brasília.
Pensando no avanço das relações de produção que por aqui se implantaram e prestando atenção no caos do final do século XX, ou melhor, na “desordem estabelecida” tão bem percebida por Mounier na primeira metade do século, identificamos um caminho pensado para este modo brasileiro de produção que é a improvisação de todos os outros modos de produção, objetivando atingir a velocidade de um raio na obtenção dos lucros rápidos ligados à vida fragmentária de tempos determinados e ao mito da ascensão social que nasce da necessidade de explicar o mundo para poder dominá-lo afugentando assim o medo e a insegurança.
Aconteceu um fato histórico concreto e preponderante que mudou completamente o cenário brasileiro. Lula foi eleito presidente da república e governou o Brasil dois mandatos consecutivos e ainda fez sua sucessora, a presidenta Dilma. Esse fato aconteceu exatamente no início do da primeira década do século XXI. Como houve neste governo uma redistribuição da riqueza nacional, modificando o produto interno bruto (PIB) através da distribuição da cesta básica para mais de 12 milhões de brasileiros.
Conclusão
Por esta razão acreditamos ser possível levantar uma critica ao sistema produtivo brasileiro centrado na base do conhecimento e da criatividade e improvisação para a realidade atual, lembrando da concepção evolutiva do pensamento, observando que o universo está em ordem, como “suspeitava” Heráclito de Éfeso, dizendo que não podemos tomar banho duas vezes na água do mesmo rio, porque nem nós, nem o rio somos os mesmos e sim que tudo é um eterno devir.
Hoje, temos a possibilidade de refletir o passado da sociedade humana, ao mesmo tempo em que antevemos um futuro vindouro de construção coletiva com o advento da comunicação global em tempo real que nos permite estabelecer até mesmo aqui no Brasil um sistema de produção competitivo e de alta qualidade como o caso de alguns produtos nossos como a fibra ótica, do feijão da EMBRAPA e da codificação das plantas medicinais, realizado no Brasil, por brasileiros mas que não conseguimos manter devido a desleal concorrência do primeiro mundo. Para que isso seja possível é  necessário estabelecer um novo paradigma para nossa realidade atual.
“Paradigmas são ‘sínteses’ científicas, filosóficas ou religiosas que servem de referência modelar para determinada época ou grupo humano. São exemplos a filosofia de Platão, a teologia de São Tomás de Aquino, a concepção política de Maquiavel, a filosofia de Descartes, a física de Newton, o liberalismo e o marxismo. Eis os pilares da visão de mundo ou cosmovisão de todos nós que habitamos a esquina onde termina o segundo milênio e se inicia o terceiro.” (FREI BETTO em A Obra do Artista – Uma visão holística do Universo)
Neste contexto, é indispensável uma nova abordagem do processo produtivo para nos orientar tanto na pesquisa quanto na execução de metas para explicar as variáveis naturais que influem nesse processo, bem como esboçar um mecanismo dialético de produção, ação e reflexão através do qual possamos elaborar um sistema dinâmico. A isso chamamos planejamento durável. Nosso horizonte deve se estender por décadas ao invés de biênios ou triênios.
Enfim, ousamos perguntar sobre a desordem estabelecida no sistema econômico brasileiro que provoca contradições em tal proporção que chega a preocupar os ricos por estarem muito ricos.
Retomando a perspectiva acadêmica, frisamos que a ação educativa é um processo amoroso de incorporação da linguagem, assim como de agregação de valores. Educar é amar, assim como viver. Saber é poder. Por isso nossa ação pedagógica realizada hoje tem sem dúvida alguma, um verdadeiro sentido dialético e reordenar nossos atos.
Pedro Inácio Amor
 
BIBLIOGRAFIA
CUNHA, José Aurí . Filosofia – Iniciação à Investigação Filosófica. São Paulo: Atual Editora, 1998.
DEMO, Pedro – Sociologia – Uma Introdução Crítica – 2a ed. – São Paulo: Atual Editora, 1989.
LAKATOS, Eva Maria & Marina de Andrade Marconi – Sociologia Geral – 7a ed. – São Paulo: Editora Atlas, 1999.
LAKATOS, Eva Maria – Sociologia da Administração – 1a ed. – São Paulo: Editora Atlas, 1997.
SAUTET, Marc – Um Café para Sócrates: como a filosofia pode ajudar a compreender o mundo de hoje. – 3ª ed. – Rio de Janeiro: José Olympio, 1999.
PLATÃO – A REPÚBLICA. Bauru/SP: EDIPRO, 1994.