Violência nas escolas é responsabilidade de toda comunidade escolar

A violência nas escolas é uma dura realidade que atinge toda comunidade escolar. Reflexo do que acontece para além dos muros das escolas, a solução para o problema também vem da coletividade. O tema foi tratado na roda de conversa virtual “Violência nas Escolas”, realizada pelo Sinpro e o Setor Leste, no último dia 3 de maio.

Mediada pela diretora do Sinpro-DF Vilmara do Carmo, a atividade apresentou pesquisa realizada pelo Sindicato, em 2019, que aponta que 97% das/os professoras/es já presenciou violência na escola. Desse total, 57% citou violência verbal como a mais praticada por estudantes (43%) e pais/mães (22%). A pesquisa ainda indicou que 86,86% dos casos de violência foi registrado entre estudantes, com casos de agressões verbais (91%), agressões físicas (87%), agressões preconceituosas (78%) e assédio sexual (27%).

Para a professora, doutora e diretora de Educação no Campo, Direitos Humanos e Diversidade da Secretaria do Estado de Educação do DF, Ruth Meyre, convidada para participar do debate, “pode-se perceber a escola como espaço de reprodução da violência ou assumir ações de enfrentamento”. Segundo ela, a busca de mecanismos de prevenção da violência nos espaços escolares passa pelo reconhecimento de casos de racismo, machismo, homofobia e outras formas de agressão realizadas, muitas vezes, de forma mecânica, enquanto reprodução social, carente de discussão e orientação dentro das escolas.

A ativista feminista antirracista e assessora parlamentar Hellen Frida, que também debateu o tema na roda de conversa virtual, lembra que a sociedade brasileira tem enquanto raiz a violência, disseminada desde quando as terras do país foram invadidas por colonizadores. O caminho inverso, para ela, depende do entendimento da escola enquanto espaço social, com protagonismos diversos. “Existe um muro físico que separa a escola das comunidades. Esse muro também representa a tentativa de murar o conhecimento formal, como se a escola fosse detentora de um saber e estivesse apartada da comunidade. Quanto mais a gente derrubar os muros das escolas, ou seja, quanto mais abrirmos (as escolas) para a participação da sociedade, mais conseguiremos integrar o saber formal com os saberes populares e pensar juntos a modificação do Estado de violência”.

Penas mais duras e rigorosas para envolvidos em casos de violência nas escolas não está na lista das possíveis soluções desse cenário, acredita Ruth Meyre. Ela lembra que o Brasil é um dos países com o maior número de pessoas encarceradas e continua emplacando altos índices de criminalidade. A professora elenca seis pontos que acredita serem essenciais para a eliminação da violência nas escolas: a educação para direitos humanos e diversidade; a inclusão de esportes e artes de todos os tipos integrados à educação; a gestão democrática não só para a escolha da direção escolar, mas para todos os processos realizados; a participação estudantil; a autonomia dos espaços escolares e a valorização dos profissionais da educação.

Hellen Frida avalia que o objetivo da existência dos espaços escolares vem se distanciando cada vez mais do ideário de Paulo Freire, que entende a escola como um espaço onde, por meio da coletividade, o indivíduo deve tomar consciência de sua condição histórica, se entender enquanto protagonista da sua trajetória e ter condições de transformar o mundo. Para ela, essa mudança de rumos também colabora para um ambiente propício à geração de violência. “As escolas têm sido ambientes para preparar pessoas para passar em vestibular”, disse Frida, e completou: “A gente, enquanto sociedade, enquanto comunidade escolar, deve passar a ter esperança do verbo esperançar, como diz Paulo Freire. Que é uma esperança que não pára para esperar, mas se move para mudar a realidade”.

“A violência nas escolas é um tema que deve ser amplamente discutido. Se não houver discussão, não há formas de encontrar saídas para esse problema frequente. E a roda de conversa, que é um projeto do Sinpro-DF, reforçou essa necessidade. Que possamos refletir juntas e juntos, envolver toda a comunidade escolar no tema e, na coletividade, encontrar saídas, respeitando a história de cada um e de cada uma”, afirma a diretora do Sinpro-DF, Vilmara do Carmo.

A roda de conversa virtual é um projeto da diretoria de Assuntos e Políticas para Mulheres Educadoras do Sinpro-DF, desenvolvido para promover o debate sobre diversos assuntos de interesse da comunidade escolar.

 

 

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