Vida longa à CUT

Artigo do presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, reconduzido ao cargo no último Cecut (Congresso da CUT-DF), sobre os 40 anos da CUT. Rodrigo é professor e foi diretor do Sinpro. No texto, ele fala do período de resistência vivido pela classe trabalhadora nos últimos anos, das perspectivas que se abriram com a vitória eleitoral de Lula em 2022 e a necessidade latente de reconstruir o Brasil.

 

***

Vida longa à CUT

por Rodrigo Rodrigues

 

Lembro como se fosse hoje daquele 8 de novembro de 2019. O primeiro dia do CECUT – Lula Livre marcaria o início de uma nova gestão onde eu assumiria a presidência da Central Única dos Trabalhadores no Distrito Federal. Se parássemos por aí, esse já seria um marco na minha vida. Mas também foi naquele 8 de novembro que, depois de 580 dias preso, Lula ficou novamente livre. A esperança estava de volta. E nos enchia de coragem para enfrentarmos a conjuntura construída com o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff , a chegada de Bolsonaro à presidência da República e, para nós do DF, com Ibaneis governador.

De 2019 para cá, vivemos um trágico ciclo de desregulamentação das relações de trabalho, amordaçamento da justiça trabalhista, asfixiamento financeiro dos sindicatos; sucateamento dos serviços e das políticas públicas. Voltamos a viver o Brasil da miséria avassaladora, habitado por uma multidão de desempregados, famintos, subempregados e desalentados; um Brasil dos sobreviventes que foram obrigados a ver com os próprios olhos e de barriga vazia a ampliação da concentração da renda dos muitíssimos poucos.

Enfrentamos a pandemia e o oportunismo cruel de quem a utilizou para gerar ainda mais lucro – e desespero. Superamos tristezas insuperáveis. A classe trabalhadora foi o alvo principal da morte gerada pela ausência completa de políticas públicas e pelo chorume do fascismo. Teimamos. Percorremos bairros, colocamos carros de som para conversar com a população, exigimos Equipamento de Proteção Individual para quem não pôde deixar o trabalho presencial. Reinventamo-nos nas redes sociais e na organização das categorias de trabalhadores. Gritamos em defesa da vacina e do SUS, e a nossa pauta principal unificou-se em defesa da vida.

Entramos em 2022 determinados a vencer. Mudamos nosso lema de “Lula Livre” para “Lula Presidente” e assim fizemos uma reviravolta na história do Brasil, sem jamais termos a ilusão de que isso seria fácil. Fomos às ruas com vontade, conscientes de que deveria ser radicalizada a unidade da classe trabalhadora, dos movimentos sociais, dos sindicatos, da periferia, dos partidos políticos que ainda prezavam pela democracia; a unidade de tudo mais que se insurgisse contra o que estava dado em um tom verde-oliva de ditadura e morte.

Vencemos! No dia 1º de janeiro de 2022, Lula recebeu a faixa presidencial “das mãos do povo brasileiro”, e chorou ao lembrar que nas ruas do Brasil, “trabalhadoras e trabalhadores desempregados exibem, nos semáforos, cartazes de papelão com frases de pedidos de ajuda que nos envergonham”. Não tenho dúvidas de que a reviravolta que começou a ser dada com a saída de Lula da prisão naquele 8 de novembro de 2019 nos motivou a chegar até aqui. Mas é certo que foram a nossa luta e a nossa unidade que nos fizeram resistir.

Estamos agora diante do desafio de reconstruir o Brasil, onde o bolsonarismo ainda esperneia e grita estridente. Pela frente, muitas tarefas que exigem o respeito aos princípios da CUT: autonomia, liberdade sindical e solidariedade de classe. Para sair da rota da precarização, é urgente uma reforma estrutural dos sindicatos, que passe a dar conta das transformações do mundo do trabalho.

Precisamos lutar para que tenhamos sindicatos mais amplos, representativos, unificados e fortes. É urgente entender quem é a classe trabalhadora hoje. Independente das mudanças geradas pelos mais diversos fatores, é preciso insistir no trabalho de base, com diálogo sempre. Os trabalhadores e as trabalhadoras querem ser ouvidos e também querem ter instrumentos de fala.

É preciso lembrar que todas as conquistas são importantes quando se é trabalhador em um sistema socioeconômico letal. É preciso resgatar e celebrar a nossa história. A CUT é herdeira da resistência ao escravagismo; da organização dos primeiros sindicatos, da primeira greve geral de 1917. Nossa Central nasceu da luta pela redemocratização pós golpe e contra a ditadura militar.

A CUT é resultado da insistência da classe trabalhadora brasileira em ter direitos, democracia e justiça social. Chegamos aos 40 anos querendo muitos outros. As lutas que travamos nesses anos nos lembram que tudo que veio antes, faz com que estejamos aqui hoje, e dão a certeza de que somos parte de um processo – e de um projeto – que segue em expansão.

Vida longa à CUT.

MATÉRIA EM LIBRAS