Vereador gaúcho faz discurso xenófobo e é expulso de seu partido

Vereador da cidade gaúcha de Caxias do Sul, Sandro Fantinel, do Patriotas, foi expulso do partido após discursar na Câmara de vereadores defendendo as vinícolas da Serra Gaúcha das acusações de trabalho análogo à escravidão.

No discurso, proferido na última terça-feira (28/2), o vereador dá um conselho às vinícolas que contrataram trabalhadores vindos da Bahia e os submeteram a condições degradantes de trabalho: “Não contratem mais aquela gente lá de cima”, porque “Com os baianos, que a única cultura que têm é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema”.

O “problema” ao qual o vereador se referiu foi uma operação do Ministério Público do Trabalho que, no último dia 23, encontrou mais de 200 trabalhadores em situação análoga à escravidão na cidade vizinha de Bento Gonçalves, contratados de uma empresa terceirizada que fornecia mão-de-obra para grandes vinícolas da região.

Não satisfeito em atacar os baianos, Fantinel comparou-os a argentinos: “Todos os agricultores que tem argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam”. Infalivelmente, Sandro Fantinel é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O discurso de Fantinel ocorreu no mesmo dia em que o CIC-BG (Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves) emitiu nota justificando que as práticas análogas à escravidão ocorreram porque “há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade.”

Nas denúncias recebidas pelo Ministério Público do Trabalho, os trabalhadores gaúchos relataram que apenas os baianos eram submetidos a torturas, choques e espancamentos. Ainda há relatos de comida imprópria para consumo e empréstimos superfaturados – práticas típicas de casos de trabalho análogo à escravidão.

A fala xenófoba de Fantinel repercutiu em todo o país, levando a repúdios de governadores, ministros e até mesmo de Jessica Senra, a âncora do jornal da TV Bahia, afiliada da TV Globo.

Em entrevista à RBS TV, O vereador minimizou a importância de sua fala, alegando que “em outro contexto não teria nada de mal” (algo como: infelizmente, não descontextualizaram minha fala).

Quanto às vinícolas, além de responderem a um grave processo na Justiça do Trabalho, tiveram sua participação em eventos e negociações comerciais no exterior suspensas: a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) suspendeu a participação das vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi em feiras internacionais, missões comerciais e eventos promocionais. A suspensão é válida até que as investigações sejam concluídas.

É inacreditável que na terceira década do século XXI o Sinpro tenha que vir a público repudiar práticas tão superadas e atrasadas como trabalho análogo à escravidão e xenofobia e intolerância. A agenda de civilidade deste país está muito atrasada.

 

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