Travestis e transexuais lutam por inclusão no trabalho e no sistema educacional

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Neste domingo (29), em que se celebra o Dia Nacional da Visibilidade Trans, travestis, homens e mulheres transexuais seguem na luta pela inserção no mundo do trabalho. Por conta do preconceito e da discriminação que esse público sofre na sociedade, a maioria das empresas seguem distantes desse processo de inclusão, o que acontece também no sistema educacional brasileiro. 

De acordo com o relatório da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), 88% das pessoas acreditam que as empresas não estão preparadas para a contratação de profissionais trans. Além disso, de acordo com a mesma pesquisa, 20% da população transexual está fora do mercado de trabalho.

Para o secretário de Direitos Humanos da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), José Christovam de Mendonça Filho, existe uma relação com o mundo do trabalho e a escola. Segundo ele, as pessoas trans são excluídas do sistema educacional e no mundo do trabalho.

“Essas meninas e meninos trans normalmente saem da escola porque são excluídos, o mesmo ocorre do ponto de vista de mercado de trabalho. Não existe nenhum tipo de política educacional, projeto político ou pedagógico de inclusão para essas pessoas. Pelo contrário, elas são assustadoramente excluídas destes espaços”, afirma o dirigente.

Sete em cada dez pessoas LGBTQIA+ têm medo de se declararem como tal durante a vida escolar por causa do bullying. No caso de travestis e transexuais, o desrespeito é ainda maior. Um levantamento do jornal Estadão mostrou que essa população correspondia a apenas 0,1% das matrículas em universidades federais do país.

O dirigente concorda que é muito raro uma travesti, homens ou mulheres trans chegarem na universidade por conta do ambiente hostil e falta de preparo dos professores.

“É muito raro chegar nas universidades porque como o processo educacional é extremamente excludente, corpos que estão fora da normatividade são excluídos a todo momento. Então, chegar até a universidade é a primeira vitória”, explica.

Sem trabalho, resta a prostituição

Segundo dados da Antra, a situação é preocupante. Cerca de 90% das travestis e transexuais estão se prostituindo no Brasil. Os números são parecidos com a pesquisa da Associação das Travestis e Transexuais do Triângulo Mineiro (Triângulo Trans), que revela que apenas 5% das travestis de Uberlândia estão no mercado formal de trabalho; 95% estão na prostituição.

“Nós da CNTE recebemos diversas denúncias de professores trans que são agredidos por terem uma identidade de gênero e são cruelmente violentados. Esses professores e professoras, funcionários e funcionárias da educação, merecem respeito, inclusão, diálogo, mercado de trabalho adequado e digno para tirá-las da marginalização”, ressalta o dirigente.

Violência

No relatório deste ano divulgado no início de janeiro, a Antra aponta que o Brasil é, pelo 14º ano consecutivo, o país com maior número total de homicídios de pessoas travestis e transexuais. Segundo o levantamento, 131 pessoas trans foram mortas no país em 2022, sendo que a maioria das vítimas tinha entre 18 e 29 anos, próximo à expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil, 35 anos.

O dirigente da CNTE afirma que é assustador saber que uma pessoa trans só chega até os 35 anos. “Quando nós falamos sobre travesti e transexual, a idade é algo muito peculiar no Brasil. Nós que somos uma sociedade de homens e mulheres cis, a gente não vê nos espaços da sociedade mulheres e homens trans e transexuais idosos”.

Ele completa: “É muito raro ver pessoas idosas com essa identidade de gênero. Você imagina a cabeça dessas meninas e desses meninos ao acordar todos os dias e imaginar que sua expectativa de vida é até os 35 anos, e se passar disso, é comemoração”.

Fonte: CNTE