Terceirização representa escravidão para mulheres, diz diretora da CUT

Para a secretária nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane da Silva, o Projeto de Lei 4.330, que regulamenta a terceirização, cujo texto-base foi aprovado pela Câmara, na semana passada, deve trazer impactos “nefastos” para as mulheres e o jovens, os grupos mais vulneráveis no mercado do trabalho. Os destaques do PL estão previstos para votação nesta terça-feira (15).
“As primeiras pessoas que vão empurrar para a terceirização são as mulheres e os jovens”, afirma Rosane, prevendo que as mulheres podem acabar ganhando, como terceirizadas, cerca da metade do rendimento do trabalhador direto.
Sobre as condições de trabalho, a sindicalista lembra que a cada dez acidentes de registrados oito ocorrem com terceirizados, e novamente. Entre eles, a maioria é formada por mulheres. Rosane comenta ainda que, sendo as mulheres a maioria entre os terceirizados, são elas que sofrerão mais com o aumento da carga de trabalho que incide sobre essa categoria. “São as mulheres, de novo, as grandes vítimas do aumento da jornada de trabalho.”
“A terceirização é nefasta na vida dos trabalhadores. É isso que as pessoas têm de compreender”, acrescenta Rosane. “É o patrão tentando acumular mais lucro, em cima da gente. A cada ciclo, o empresariado tenta, com leis diferentes e nomes diferentes, rasgar a nossa carteira de trabalho, rasgar a nossa CLT.”
Ela lembra que, na maioria das vezes, a trabalhadora terceirizada não tem assegurado o acesso a vale-transporte e vale-alimentação, o que completa a situação de exaustão da mulher, que além de enfrentar longa jornada de deslocamento entre a casa e o trabalho, ainda tem a preocupação com a preparação da própria comida.
“Acaba virando um círculo vicioso, com as mulheres trabalhando o tempo todo. Cada vez menos tempo para descansar, dormir, para o lazer, para a família. O tempo todo é trabalhar.” Frente a esse quadro, até mesmo a folga do final de semana é comprometida, no esforço de colocar em dia o trabalho doméstico acumulado.
Como um aspecto não imediato, a sindicalista teme que o processo de precarização associado à terceirização estimule a informalidade, dadas as condições de baixos salários, longas jornadas e falta de condições de segurança. “Isso leva as mulheres a repensar se devem estar no mercado de trabalho, ou não”, diz Rosane, observando que podem considerar como mais vantajoso permanecer em casa, cuidando dos filhos, e executando bicos, na faxina doméstica ou outro tipo de trabalho informal.
“O grande debate, hoje, na sociedade brasileira, é o PL 4.330. A população está percebendo, realmente, o que é esse projeto. Mesmo que a mídia tradicional e os deputados tentem pintar o PL como algo positivo para os trabalhadores, a população entendeu como algo nefasto”, conclui a dirigente da CUT.
(da Rede Brasil Atual)