Tema da redação do Enem é comemorado por especialistas e professores
No país que amarga a sétima posição no ranking mundial de violência contra a mulher — 15 são mortas a cada dia no Brasil —, a escolha do tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi comemorada por especialistas e professores. Cerca de 5,8 milhões de candidatos participaram dos dois dias de exame e completaram a maratona de provas escrevendo redações sobre “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”.
“Depois que planos nacionais ameaçaram retrocesso no tema, no começo do ano, o Ministério da Educação mostra que a escola não pode ignorar a sexualidade. E faz acertadamente o papel de levar aos cidadãos questionamentos importantes”, opina a antropóloga Debora Diniz, professora da Universidade de Brasília (UnB). Ela se refere à retirada da palavra gênero de diversos planos locais de educação, inclusive o do Distrito Federal.
Larissa Souza, supervisora de redação do Sistema Ari de Sá Cavalcante, comemorou o tema selecionado. “Comum, viável e esperado”, observa a especialista, e acrescenta que o assunto trouxe conformidade em relação ao momento atual. O quanto vale cada opinião e argumento dos estudantes, no entanto, fica difícil de prever. A exposição de estratégias de solução para o problema da violência é o que poderia contribuir, na avaliação de Larissa. “Apontar motivos da persistência do ato; descrever fatores que levam à condição das mulheres, apesar dos avanços governamentais, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio; além de levar em conta índices alarmantes dos casos de agressão, trariam um bom texto”, analisa a professora.
Para alcançar a nota máxima na prova, de mil pontos, a professora acredita que o tratamento dado a entraves culturais, como o machismo, e a crítica às delegacias sem estrutura e às limitações que desencorajam denúncias devem ser pontos valorizados pelos examinadores. “O aluno não deve ser superficial, mas mostrar um conhecimento de mundo livre de clichês. Pode avançar na proposição de solução concreta e viável”, assinala.
Para Clara Demeneck, 19 anos, a questão com a citação da autora francesa Simone de Beauvoir, na prova de sábado, foi um indicativo de que o assunto estaria presente no segundo dia. A jovem considerou o tema importante e válido para conscientizar a população. “Ontem, cheguei a pensar em algum tema relacionado ao feminismo por causa da questão da Simone Beauvoir. No entanto, acabei desconsiderando porque as provas do Enem não são temáticas”, afirma. Essa é a terceira vez que Clara presta a prova com o objetivo de conseguir uma vaga em medicina. Ela estava acompanhada da mãe, do namorado e do cachorro de estimação, Joaquim. “O beijo dele é para me dar sorte, assim como a presença do meu namorado e da minha mãe. Eu me sinto mais confiante este ano”, conta.
Emanuelly Lima, 15 anos, fez a avaliação para treinar os conhecimentos e foi uma das primeiras a deixar o local de prova e também não se surpreendeu com a temática proposta. “O tema da redação não era óbvio, mas foi tranquilo de escrevê-lo. No cursinho, eles tinham colocado esse assunto em discussão”, disse. Seja por debates prévios, seja por informações da imprensa ou pelo contexto social, cada estudante deveria encontrar argumentos para discorrer sobre o assunto. “Fiz o Enem pela primeira vez. Para a redação, mantive a calma e usei mais a minha opinião para escrever. Não me baseei em nenhuma notícia. Fui mais pelo que as mulheres vivem no dia a dia”, acrescenta o estudante Caio Alves, 19 anos.
(Do Correio Braziliense)