Teleaula e EaD não são viáveis para crianças e adolescentes da educação básica
A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) cogita substituir aulas presenciais por teleaula pela Internet ou pela televisão. O Governo do Distrito Federal (GDF) tenta viabilizar a Educação a Distância (EaD) apressadamente. Contudo, trata-se de um modelo de ensino inadequado para crianças e adolescentes.
O anúncio foi feito nesta semana, quando a SEEDF informou que está reunida para resolver o problema da falta de aulas e que planeja transmiti-las por meio eletrônico para os quase meio milhão de estudantes das escolas públicas, uma vez que não há previsão para o fim da quarentena e isolamento instituídos para conter o avanço do coronavírus.
A diretoria colegiada do Sinpro-DF vê a notícia com preocupação. Explica que a EaD cumpre um papel específico no processo educativo, porém não supre a necessidade de situações de aprendizagem dos estudantes da educação básica no que se refere a aulas presenciais.
Metodologia
A teleaula não substitui as aulas presenciais em escolas em todas as modalidades de ensino e aprendizagem, principalmente, na fase inicial de escolarização, que é a educação básica. A educação engloba vários segmentos de aprendizagem que compõe a educação básica, a educação infantil, o ensino especial, o ensino profissional técnico, a Educação de Jovens e Adultos (EJA), as séries iniciais e finais, não serão contemplados com a metodologia a distância, uma vez que a interação social é parte significativa para que a aprendizagem ocorra nessas etapas.
Ao divulgar que irá prover de Internet gratuita os 25% dos estudantes do DF que não possuem esse serviço em casa ou oferecer teleaula por canal aberto de TV numa cidade em que 90% da população tem televisão, o GDF busca se desvencilhar das críticas sobre o fornecimento de EaD para crianças e adolescentes. O problema da EaD na rede pública de ensino básico não é somente o fato de boa parte do seu público estudantil não ter acesso à rede mundial. Há outros, como mencionados anteriormente, no campo da própria educação básica.
Suspensão na UnB
Até mesmo no ensino superior ela tem suas limitações. Nesse nível educacional, ela é utilizada em projetos próprios e em situações específicas. A prova disso é o fato de a Universidade de Brasília (UnB) ter suspendido o primeiro semestre acadêmico de 2020. A UnB é uma das primeiras universidades do País a adotar a EaD. Tem profunda experiência nesse modelo de ensino e, ainda assim, suspendeu o semestre acadêmico para não prejudicar os estudantes dos cursos presenciais.
A decisão foi divulgada na segunda-feira (23) por meio de uma resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). Na resolução, a universidade informa que como não é possível prever, ainda, o tempo que durará a situação de emergência de saúde relacionada à pandemia do novo coronavírus no Distrito Federal, ajustes no calendário não foram propostos.
Ou seja, a UnB desistiu da EaD para cursos presenciais enquanto durar a pandemia do coronavírus. Além de ter um formato próprio, a EaD precisa de um longo e extenso preparo, além de modelos distintos de adaptação para quem já sabe ler e entender qualquer tipo de assunto. Não é possível levar esse tipo de ensino e aprendizagem a crianças e adolescentes sem que seja por meio de aulas presencias.
Se a própria UnB, que é pioneira em EaD no Brasil e renomada nesse modelo de ensino, desistiu de levar a EaD para seus estudantes dos cursos presencias e suspendeu o semestre, por que o GDF insiste em optar pelo sistema errado? A SEEDF deve também suspender o semestre. Resguardar seus estudantes e seu corpo de servidores públicos da educação e, como a UnB, providenciar um sistema de reposição para depois da crise do coronavírus.
Emenda Constitucional 95
A diretoria colegiada entende como acertada a política de isolamento da população e suspensão das aulas que o governador Ibaneis Rocha instituiu na cidade para enfrentamento da pandemia. Acreditamos que não é retomando aulas e os demais serviços, ou seja, não é expondo a população aos perigos da doença, como quer o Presidente da República, e nem é modificando de forma aligeirada e sem embasamento as relações de trabalho e a administração de serviços públicos, como, por exemplo, o modelo de educação em curso, que iremos evitar prejuízos.
“A EaD não irá aplacar os prejuízos que o coronavírus está impondo ao mundo. O planeta está de quarentena e o mundo colherá os prejuízos da pandemia. O momento agora é de parar tudo. É hora de proteger a saúde individual e pública. E, para isso, o correto seria todos os agentes públicos centrarem esforços na revogação da Emenda Constitucional 95 (EC 95), de 2016, que congelou por 20 anos os investimentos do Estado nos setores sociais para pagar uma dívida pública não auditada com banqueiros. É a volta do investimento do Estado nas áreas sociais que modificará a realidade e amenizará os impactos do coronavírus no Brasil”, afirma.
A diretoria assegura que a Saúde e a Educação, bem como as demais áreas sociais estão esgotadas, precisam do dinheiro do Estado que a população paga por meio de impostos para tê-las funcionando com qualidade. “E vamos mais longe: é preciso revogar a reforma da Previdência porque daqui em diante a população precisará muito mais ainda dos serviços públicos relacionados ao Sistema de Seguridade Social que havia antes da reforma”.
Além disso, os professores do Distrito Federal defendem a educação presencial e exigem que após o fim da pandemia, a reorganização do novo calendário escolar seja dialogada e organizada com a participação da categoria por meio de sua representação sindical. Não cabe agora, ainda no início de uma situação tão grave em que muitos brasilienses serão infectados nos próximos 30 dias e com a previsão de agravamento da pandemia, decidir de forma aligeirada a situação do ano letivo.