Falta de planejamento gera custos futuros

Na segunda matéria da série sobre superlotação das turmas na rede distrital, vamos abordar os reflexos e as consequências deste problema crônico na educação do DF para estudantes dos anos iniciais do Fundamental. Ao longo das próximas semanas, traremos exemplos e situações das turmas dos anos finais do ensino Fundamental e do ensino médio.

Para dar continuidade à campanha contra a superlotação, convidamos professores e professoras (efetivos(as) e do contrato temporário), além de orientadores(as) educacionais a, juntos, demonstrarmos a superlotação no dia a dia das turmas. Envie seu relato e fotos da sua turma para o e-mail imprensa@sinprodf.org.br.

Escolas Classe superlotadas

Em cada tipo de escola, o prejuízo pedagógico e as consequências da superlotação se revelam de forma diferente. Nas Escolas Classe e Centros de Ensino Infantil, por exemplo, o perfil de estudantes é de crianças, que ainda pedem colo e precisam aprender, dentre outras coisas, a manipular e controlar adequadamente o material escolar. Demandam muita atenção das professoras. Mas a contrapartida do governo ocorre em forma de negligência, descaso e muito improviso. E o improviso de agora vai sair caro na próxima década.

“Deveria haver 28 crianças matriculadas na minha turma de primeiro ano, mas eu estou com 31 alunos. São crianças de 6 anos, em fase de transição, acabaram de chegar da educação infantil. O processo de adaptação delas é mais demorado. Não é possível abarrotar uma turma de primeiro ano Fundamental”, reclama a professora Ana Paula Aguiar, da EC 01 do Lago Sul.

“Nas turmas de alfabetização, a falta de um olhar para as individualidades, diferentes contextos, ritmos e estilos de aprendizagem gera prejuízos incalculáveis que podem se estender por todo o processo de escolarização, gerando a necessidade de maiores investimentos para a recomposição das aprendizagens que não foram construídas no período próprio. A alfabetização malfeita hoje vai se tornar, daqui a cinco ou dez anos, uma demanda por turma de readequação etária, e isso tem um custo – financeiro e humano”, lembra Olga Freitas, que é Pedagoga, Doutora em Educação, Mestra em Neurociência do Comportamento, doutoranda em Neurociência Cognitiva, Especialista em Gestão Educacional, em Língua Brasileira e Sinais, em Neuropsicologia e em Neuropsicopedagogia.

Olga observa todas as consequências (físicas, intelectuais, pedagógicas e laborais) de se apinhoar crianças e jovens além da conta em espaços insalubres.

 

Escolas sucateadas

As crianças e jovens ficam cada vez mais apertados dentro das salas, muitos desses locais com sérios problemas de ventilação. Num mundo onde as ondas de calor extremo só fazem se intensificar, os problemas causados pela superlotação das salas de aula tendem a se agravar.

“Imaginemos essas salas de aula nos períodos quentes? Sem ventilação, iluminação, isolamento térmico adequado, tornam-se espaços degradantes, inóspitos mesmo. Isso é sum sufocamento material e simbólico do direito à educação, do acesso e permanência na escola com êxito nas aprendizagens”, lembra Olga.

Todo ano, a SEE-DF anuncia a reforma e construção de dezenas de escolas. Mas ninguém sabe, ninguém viu essas escolas reformadas ou construídas. Já notícias de escolas sucateadas não faltam. Veja nosso panfleto a respeito.

A EC 01 do Lago Sul precisa de manutenção há anos, mas não consegue a atenção da SEEDF. Além das turmas cheias, o pátio central está todo quebrado, precisando de reforma e pintura. As salas são pequenas e as janelas, do tipo basculante, sem manutenção há anos estão emperradas. “Várias colegas do turno da tarde passaram mal durante as ondas de calor extremo no ano passado”, conta a professora Ana Paula.

A professora da EC 01 do Lago Sul também explicou ao site do Sinpro que a escola foi uma das prejudicadas com o roubo de 200 aparelhos de ar-condicionado de um galpão da SEE-DF no SIA. As salas de aula são pequenas, estão lotadas, com janelas basculantes emperradas, que não dão conta da circulação adequada de ar. Agora imagine essa realidade nos dias mais quentes do ano, com temperaturas beirando ou ultrapassando os 40 graus.

“É uma verdadeira asfixia do processo de desenvolvimento de crianças e jovens, especialmente das classes menos favorecidas, que têm (ou pelo menos deveriam ter) na escola um dos principais espaços de desenvolvimento pleno e integral”, completa Olga.

“Tenho colegas com três alunos especiais em sala. Tivemos turmas fechadas no ano passado, e hoje há turmas com 20 alunos pequenos, em alguns casos com 3 crianças com de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) numa única turma”, conta Ana Paula.

Do Lago Sul para Sobradinho a realidade não muda muito. Embora a EC 11 de Sobradinho esteja em reformas, a grande incógnita é com relação à quantidade de profissionais para atenderem às novas turmas que serão abertas com as novas salas construídas. “Atualmente, 60% de nosso pessoal é do regime de contrato temporário. Os professores efetivos foram aposentando, e não houve reposição das vagas”, conta uma das professoras da escola.

 

Com o PDE negligenciado, falta estratégia – de matrícula e de educação

Outros números explicam o caos e a negligência generalizada na educação local. De acordo com levantamento do Tribunal de Contas, o Distrito Federal que investia 3,1% do PIB na educação em 2015 chegou a 2024, o mais recente ano da gestão Ibaneis, investindo 2,6% do PIB. Houve redução do orçamento para a educação. Isso se traduz, de saída, em falhas no arranjo da oferta de vagas diante da demanda total da educação básica obrigatória. Por esse e por outros motivos, o TCDFT deu até março para a SEEDF explicar por que não está cumprindo com as metas do PDE.

“Em vez de impor normativas que validam o amontoamento de estudantes em espaços paralisantes, o GDF deveria minimamente tentar cumprir o PDE que, em suas diretrizes, prevê o planejamento estratégico e sua implementação para a construção e reforma de unidades escolares a partir do levantamento das necessidades da população”, analisa Olga Freitas.

Mas nem só de mobiliário urbano se faz uma escola, como lembra a diretora do Sinpro Márcia Gilda: “É preciso nomear os professores(as) e orientadores(as) educacionais que já estão aprovados no concurso de 2022, e chamar novo concurso público para o magistério. Fazer isso é, de alguma forma, tentar mitigar dez anos de negligência com as metas do Plano Distrital de Educação.” Inclusive, o TCDFT aguarda respostas.

Tire uma foto e envie para a gente

Foram confeccionadas placas para denunciar a superlotação nas salas de aula. Solicite à diretora ou ao diretor do Sinpro que atende a sua escola uma placa, escreva com pincel de lousa o número ideal de alunos da sua turma e quantos existem de fato. Tire uma foto da placa presa perto da porta da sua sala de aula e envie a imagem (com o nome da escola, regional, e a turma em que você leciona) para imprensa@sinprodf.org.br

 

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