Sindicalismo, imperialismo e meio ambiente são alguns dos temas debatidos no segundo dia do FSM

O segundo dia do Fórum Social Mundial, em Salvador, contou com um debate sobre o imperialismo e a solidariedade aos povos, na UFBA. O painel foi realizado pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) e pela Associação Cultural José Martí (ACJM).
O debate contou com a participação de lideranças do Irã, Palestina, Cuba, França e Venezuela, além das brasileiras. A presidenta do Conselho Mundial pela Paz, Socorro Gomes, esteve no evento e iniciou as discussões com críticas aos Estados Unidos, que, segundo ela, estão na linha de frente do imperialismo mundial, liderando uma rede de ameaças aos povos.
“O grande responsável pela rede de ameaça tem nome e endereço: EUA e países da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], seus aliados. Atuam desde o final do século XIX, quando surgem como potência, e passam a buscar mecanismos de hegemonia no mundo. O papel dos EUA é um papel-chave, o mais nocivo desse imperialismo”, explicou Socorro.
Já o iraniano Kamran Mostafavi, presidente do Centro de Cultura de Waritheen, sugeriu que cada pessoa olhasse para dentro si e identificasse se há evidências da cultura imperialista. Ignorar a luta e a miséria dos povos é, segundo ele, um dos indícios de que o imperialismo está dentro das pessoas.
O encontro também contou com uma discussão sobre o bloqueio econômico a Cuba e a situação da província cubana de Guantánamo, onde está instalada uma base militar dos Estados Unidos. Os participantes ressaltaram a solidariedade à Ilha, e cobraram o encerramento das atividades da base militar e a devolução de Guantánamo.
Sindicalismo frente à precarização do trabalho
Em outra mesa de debates, Valter Sanches é o secretário-geral do IndustriALL, entidade que representa 50 milhões de trabalhadores do setor industrial em 140 países. Ele afirmou que o movimento sindical precisa se libertar da “prisão” do atual modelo que se baseia em ramos de atividade e adotar “uma visão mais geral de classe trabalhadora”, se quiser ter sucesso no embate contra as transformações da economia mundial.
“Temos vários desafios, mas sobretudo, temos de fazer o que o sindicato faz melhor: organizar, formar e negociar. Se ele conseguir mudar o pensamento daquela prisão que tem de ramo de atividade para uma visão mais geral de classe trabalhadora, que qualquer trabalhador precário precisa ser organizado para ter mais força e negociar de forma altiva, vamos ter sucesso. Se nos mantivermos nesta mesma forma de organização, vamos continuar sendo derrotados e assistir ao aumento do trabalho precário e a concentração de renda no planeta.”
Durante uma das mesas, Sanches afirmou que “60% do trabalho que é feito hoje pode de alguma forma ser automatizada, total ou parcialmente”, e por isso o desemprego é uma realidade”, além do aumento da precarização. Também participaram da mesa sobre transformações no mundo do trabalho o secretário-geral da Confederação Sindical de Trabalhadores das Américas (CSA), Victor Baez, e o economista e professor Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo.
Atingidos pelo rompimento das barragens relatam suas experiências
Na mesa temática “Lutas em defesa da água: caso Correntina e Bacia do rio Doce”, realizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens, os presentes testemunharam relatos dramáticos de pessoas diretamente afetadas pelo rompimento das barragens das mineradoras.
“Meu tio morreu de tristeza”. Este foi um dos depoimentos de Geovani Krenak, liderança indígena que pertence ao território do povo Krenak, localizado no município de Resplendor, Vale do Rio Doce, no sudeste de Minas Gerais, quase na fronteira com o Espírito Santo. Depois que o rio Doce, Watu, como os Krenak denominam, foi contaminado pela lama de rejeitos causado pelo rompimento da barragem da Samarco em novembro de 2015, os indígenas anciões não conseguiram superar a dor de ver o rio morrer.
“Devido a contaminação estamos há dois anos sem poder fazer nossos rituais sagrados e os indígenas mais velhos foram os que mais sentiram o impacto, eles não conseguiam assimilar a perda do rio”, diz.
A apresentação da oficina tem como objetivo debater e trocar experiências sobre os impactos socioambientais causados por empreendimentos de barragens para geração de energia elétrica ou de mineração e conflitos sociais em torno da disputa hídrica, como é o caso de Correntina.
De acordo com Andreia Neiva, da coordenação nacional do MAB, o município encontra-se no oeste da Bahia, região com grandes extensões de terras aráveis e ricas em recursos hídricos, o que atraiu empresas transnacionais, um dos relatos ela denunciou que o consumo de água para irrigar uma fazenda poderia abastecer a população de Correntina.
“A fazenda Alvejada conseguiu do governo do estado uma autorização para usar diariamente 106 milhões de litros de água, essa água é suficiente para abastecer a população da cidade de Correntinha por mais de um mês”, aponta.
O conflito entre grandes proprietários de terras e a população local se estende por cerca de 40 anos e ganhou projeção nacional ano passado, quando mil pessoas denunciaram a exploração predatória da água e ocuparam as fazendas Igarashi e Curitiba, no distrito de Rosário.
Após as apresentações dos relatos das lideranças e participantes, Neiva avalia que a organização coletiva “com coragem e ousadia” seja o caminho para o enfrentamento.
(Com informações do Brasil de Fato, Rede Brasil Atual e Vermelho)