Servidores públicos do DF param geral contra calote de Rollemberg
Milhares de servidores públicos do Distrito Federal responderam à altura o calote e a arbitrariedade do governador Rodrigo Rollemberg. Reunidos em assembleias aos redores do Palácio do Buriti, os servidores da educação, saúde, administração direta, indireta e das autarquias aprovaram greve geral. A deflagração das paralisações por tempo indeterminado ocorre a partir desta quinta-feira (8) até a próxima semana, obedecendo os prazos legais para comunicação da decisão.
Ao final de cada assembleia, em horários não coincidentes, os servidores de cada categoria caminharam em direção à Praça do Buriti, onde realizaram uma grande concentração de protesto no final da manhã, se reunindo aos professores da rede pública que já ocupavam a área.
O funcionalismo local protesta contra o atraso do pagamento dos reajustes salariais acordados em 2013 e definidos em lei distrital, além do não pagamento de benefícios como hora-extra, pecúnia da aposentadoria, reajuste no auxílio alimentação, entre outros.
Nos últimos dias, o Fórum em Defesa do Serviço Público – que representa os servidores das diversas categorias – garantiu algumas reuniões com Rollemberg e sua equipe, mas sem resultados positivos. Sem consultar os representantes da categoria e dar chance para que as propostas fossem contempladas nas assembleias de base, o governador decidiu usar o dinheiro do Iprev (Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do Distrito Federal), que pertence ao funcionalismo, para pagar as dívidas salariais obtidas com os servidores. O projeto de lei do Executivo que materializa a decisão, duramente repudiado pelo conjunto do funcionalismo, foi aprovado à toque de caixa pela Câmara Legislativa do DF.
Rodrigo Rollemberg também vinculou o pagamento da dívida com os servidores à aprovação do pacote de medidas de ajuste fiscal anunciado pelo GDF no início deste ano. No pacote estão o aumento da tarifa de transporte coletivo, do IPTU, do IPVA, da taxa de limpeza urbana, entre outros pontos.
“Os servidores públicos vêm de um processo desgastante de tentativas de negociação com o GDF para que a greve não fosse necessária. Tentamos negociar vários calotes de 13º salário, hora-extra etc e o governador não nos recebeu em tempo hábil. Quando resolveu receber os servidores foi para impor votação do saque do fundo do Iprev, para impor o calote e dizer que não tem condições de pagar o reajuste acordado nas negociações de 2012 e 2013. O momento que chegamos agora é de greve geral no serviço público, paralisando as atividades nas escolas, nos postos de saúde, na administração direta e na indireta, e em vários setores, pelo desrespeito do GDF em não negociar e não pagar aquilo que é garantido em lei. Não aceitaremos esse desrespeito. Não aceitaremos calote. Estamos na rua para a luta”, afirma o coordenador do Fórum em Defesa do Serviço Público e secretário-geral da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues.
Educação
O grito de “greve” dos professores das escolas da rede pública de ensino do DF ecoou na Praça do Buriti no fim da assembleia da categoria. A categoria decidiu que paralisará totalmente as atividades a partir do dia 15 (quinta-feira), data emblemática, já que marca o Dia do Professor. Já no primeiro dia de greve, a categoria realizará ato no centro de Taguatinga, às 10h.
“O que o governo está fazendo é praticar a ilegalidade, reduzindo o salário do trabalhador”, protesta a dirigente do Sinpro-DF, Rosilene Corrêa. Os professores argumentam que o reajuste salarial é lei firmada em 2012 para recompor os salários da categoria e que teria o fim da vigência em 2013. “O prejuízo é de redução de salário”, explica a dirigente do Sinpro-DF, Luciana Custódio.
Na agenda de greve dos professores também está programado ato unificado no dia 16 (sexta-feira), às 10h, na Praça do Buriti. No dia 20, os professores voltam a se reunir em assembleia geral para discutir os rumos da greve.
No setor da educação, também aprovaram a greve por tempo indeterminado os auxiliares de administração escolar, organizados pelo SAE-DF. A categoria paralisará as atividades a partir do dia 19.
Saúde
A manifestação de parte dos servidores da saúde, puxada pelos técnicos e auxiliares de enfermagem, começou com um abraço simbólico no Hospital de Base do Distrito Federal, às 10h desta quinta-feira (8), contra o sucateamento do Hospital. De lá, os trabalhadores, que estão em greve desde essa quarta-feira (7), seguiram até a Praça do Buriti e se juntaram aos atos de outras 32 categorias do funcionalismo local.
A categoria também é contra a implantação do sistema de Organizações Sociais (OSs) na gestão da Saúde que, em outras palavras, significa a terceirizar os hospitais públicos do DF. “A solução não é terceirizar a saúde. Terceirizar a saúde é colocar ainda mais impostos para o cidadão. A saúde está ruim por um problema de gestão. O que acontece hoje nos hospitais públicos é reflexo de uma saúde que não está sendo bem gerida. E essa crise não pode ser atribuída a nós trabalhadores, pois nós estamos fazendo a nossa parte”, afirma o vice-presidente do Sindate – sindicato que representa a categoria –, Jorge Viana.
Segundo o sindicalista, os servidores da saúde também estão em greve pela redução da jornada de trabalho de 24 horas para 20 horas sem redução de salário, acordo firmado em 2013. Compõem ainda a pauta de reivindicação do setor a incorporação da Gata (Gratificação de Atividade Técnico-Administrativa) e a melhoria das condições de trabalho. “Faltam insumos, materiais, equipamentos. A estrutura de alguns hospitais está em ruínas. Parece ser uma técnica: sucatear os hospitais públicos para poder terceirizar”, critica Jorge Viana.
De acordo com o Sindate, os atendimentos prioritários, como os de emergência, foram mantidos. Já os demais setores estão paralisados. “Ontem (7/10) nós começamos com média de 50% de adesão à greve, hoje (8/10) já temos 70%”, declara o vice-presidente do Sindicato.
Os demais servidores da saúde, inclusive os médicos, também aderiram à greve, que começa nesta quinta-feira (8). Parte dos servidores da saúde realizaram até o enterro simbólico do governador Rollemberg em caminhada entre a Câmara Legislativa e a Praça do Buriti.
Administração direta e indireta
Também decretaram greve geral por tempo indeterminado a partir desta quinta-feira (8) os servidores do DER-DF (Departamento de Estradas e Rodagem) e da Secretaria de Agricultura do DF.
“No DER, faremos piquetes nos distritos e não faremos a reversão de vias. Na Secretaria de Agricultura, não haverá fiscalização dos postos de defesa sanitária”, afirma André Luiz da Conceição, dirigente da CUT Brasília e presidente do Sindser-DF – sindicato que representa os servidores da administração direta, indireta e das autarquias.
De acordo com o sindicalista, os servidores do DFTrans (postos de atendimento do Detran-DF) realizarão assembleia no dia 13, com indicativo de greve. Os servidores do SLU (Serviço de Limpeza Urbana) também discutirão a deflagração do movimento paredista em assembleia no dia 19.
As categorias reivindicam o pagamento de reajustes salariais acordados em 2013, que variam entre 11% e 17%.
Adesões ao ato do funcionalismo
Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) que estão acampados na Praça do Buriti engrossaram a onda de protesto do funcionalismo público local nesta quinta-feira (8). Eles exigem assentamento com qualidade para as famílias das áreas rurais do DF e repudiam a violência policial na desocupação dos acampamentos. Durante o protesto, os trabalhadores estenderam uma faixa de mais de 10 metros de comprimento, com os dizeres: reforma agrária = alimentos saudáveis.
Também se somaram ao ato do funcionalismo e paralisaram as atividades trabalhadores terceirizados que prestam serviços de limpeza, manutenção, merenda e apoio geral em órgãos públicos do GDF, como escolas, hospitais, administrações regionais. Algumas empresas, após acordo coletivo de trabalho firmado no início do ano, ainda não pagaram o retroativo do reajuste salarial negociado nem a complementação do tíquete alimentação desde a data base, em janeiro.
A paralisação atinge todas as cidades do DF e os cerca de 40 mil trabalhadores terceirizados nos órgãos do GDF são empregados das empresas Juiz de Fora, Servegel, G & E, Ipanema, Apece, Dinâmica e Planalto, contratadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF).
Fonte: CUT Brasília