Semana Pedagógica: A resistência é nossa única saída

Profundo crítico das desigualdades sociais e defensor de uma educação pública democrática e plural, o professor doutor Luiz Carlos de Freitas fez a abertura da Semana Pedagógica do Sinpro, atividade que cumpre uma pauta de debates solicitada pela categoria. O evento acontece até o dia 22 de fevereiro, no Auditório Paulo Freire (SIG Quadra 6).

Com vasta experiência no acompanhamento e no estudo da educação, Luiz Carlos falou um pouco sobre os principais problemas vividos pela sociedade brasileira atualmente e os desafios que professores(as) e a comunidade escolar em geral terão diante de uma agenda cada vez mais conservadora. Confira a entrevista:

 

Sinpro – Qual a importância do Sinpro realizar uma atividade abordando pontos tão atuais e que conversam diretamente com os direitos da classe trabalhadora?  

Luiz Carlos – Nós precisamos debater, analisar o que está acontecendo no país, procurar trazer experiência de outros países que passaram pelas mesmas circunstâncias para estimar o que pode vir a acontecer também no Brasil. Diante de toda mudança radical nas políticas, é preciso reunir as pessoas e conversar, dimensionar tudo e procurar criar, de imediato, uma resistência.

 

Sinpro – Mas já devemos nos unir e criar uma resistência?

Luiz Carlos – Não precisamos esperar o que vai acontecer com o governo atual para saber qual será o resultado. Estas mesmas políticas já foram executadas em outros países e podemos ver as consequências nefastas que causaram. Então, no mínimo temos que examinar, analisar e discutir sobre esses eventuais impactos, e organizar uma resistência para combater qualquer possibilidade de terminarmos como esses países que passaram por essa experiência.

 

Sinpro – E como seria feita essa resistência?

Luiz Carlos – Nesse momento, quem resiste quer manter pelo menos aquilo que já foi conquistado. Não se trata de avançarmos muito, porque resistir significa não perder pelo menos aquilo que você já conseguiu estabelecer como sendo uma perspectiva socialmente adequada para o país, não somente economicamente, mas socialmente adequada.

 

Sinpro – Com a experiência que o senhor tem e com toda base teórica, esse momento que temos passado é um dos mais perigosos e preocupantes para a classe trabalhadora?

Luiz Carlos – Do ponto de vista contemporâneo eu acredito que estamos diante se uma injunção gravíssima, já que você tem forças conservadoras e neoliberais articuladas para obstar toda possibilidade das políticas progressistas avançarem ou mesmo serem mantidas. Estas políticas têm gerado um impacto social muito grande, principalmente na classe trabalhadora, gerando uma precarização da força de trabalho.

 

Sinpro – E como essa precarização implica no dia a dia do trabalhador?

Luiz Carlos – Vemos essa realidade desde o governo Temer. Se não nos unirmos, as coisas só vão se agravar e os custos sociais serão elevadíssimos. Vemos isso em projetos que tentam tirar direitos dos trabalhadores.

 

Sinpro – Os(as) professores(as) têm presenciado um cenário desanimador por conta de projetos tão maléficos para a educação, exemplo do Escola sem Partido. Mesmo diante de uma importância tão grande que os professores têm, como o senhor vê o cenário brasileiro comparado a outros países onde o professor é respeitado e valorizado?

Luiz Carlos – Os países que passaram por esta política têm encontrado dificuldade na valorização e na própria constituição da formação do professor e posteriormente no seu exercício profissional. O que tem sido percebido é que os professores, seja do ponto de vista da formação ou do exercício profissional, passam por um processo dentro dessas políticas bastante gerador de uma precarização da força de trabalho, da mesma forma que outros profissionais também são precarizados. E os professores em educação não são exceção. O que temos visto é uma retirada de direitos, além de uma desqualificação e uma desprofissionalização do professor.

 

Sinpro – Apesar de tudo isto, a luta deve continuar?

Luiz Carlos – Sem dúvida. A luta não para e nem pode parar. Temos que entender o atual momento, as forças e filosofias sociais que estão por trás desses movimentos, e procurar encontrar pontos comuns. Sozinhos não vamos resistir, seremos aniquilados. Temos que encontrar esses pontos comuns que nos permitem no primeiro momento resistir e depois avançar.