Sem argumentos lógicos, Ibaneis usa mentiras para emplacar lucros a empresários

Rosilene Corrêa

Com a intenção de respaldar a decisão política de entregar a Companhia Energética de Brasília (CEB) à iniciativa privada – e sem qualquer tipo de argumento lógico para isso – , o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), decidiu abrir mão de princípios como veracidade, dignidade e boa-fé, que deveriam nortear sua atuação. Investido no mais alto cargo público do Executivo local, ele que num passado recente foi contratado por sindicatos de trabalhadores para interceder nas irregularidades acometidas no âmbito trabalhista, hoje calunia lideranças de um movimento histórico de defesa da classe trabalhadora e da construção de um Brasil mais justo e igualitário. O vale-tudo do governador mira na obtenção de lucros gordos para grandes empresários do setor energético.

Em discurso deslegitimado para a comunidade do Sol Nascente no último sábado (10), Ibaneis teve a audácia de dizer que “sindicalistas” e a “esquerda” eram responsáveis pela falta de energia elétrica nas regiões de baixa renda do DF. Sem qualquer tipo de pudor, ele foi além e atacou a atual campanha contra a privatização da CEB realizada pelo Sindicato dos Urbanitários (Stiu-DF), afirmando que “um grupo de 400 a 500 servidores acha que a empresa é deles”.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o movimento sindical, em sua amplitude e diversidade, é um dos principais atores na conquista de direitos individuais e coletivos. A Constituição Federal de 1988, um dos principais objetos de estudo do curso de Direito em que o governador se graduou, tem a marca da luta da classe trabalhadora, que garantiu a redemocratização do Brasil a partir de um processo intenso de reivindicações e protestos. Direitos que hoje são considerados básicos e imprescindíveis, como 13º salário, licença maternidade e férias, por exemplo, são frutos da atuação incessante do movimento sindical. Forjado na luta, esse mesmo movimento é alvo de históricos ataques de forças reacionárias. Isso porque pauta lutas amplas como a defesa da soberania nacional, que é a liberdade de um país decidir sobre seu próprio destino.

Para além disso, é no mínimo obsceno criar a falsa narrativa de que a campanha contra a privatização da CEB, que tem o apoio de diversos setores da sociedade, é feita para beneficiar um grupo de servidores.

Quando falamos em privatização, estamos falando do ataque frontal a toda sociedade. Ao ser entregue a uma empresa privada, o serviço passa a ter como motivação o lucro. Dessa maneira, tornam-se financeiramente inviáveis serviços indispensáveis à vida e à dignidade da pessoa humana, como saúde, educação e, também, energia elétrica. Ao contrário do serviço público, o serviço privatizado atende os que têm dinheiro, emplacando como mercadoria direitos humanos.

No caso da CEB, privatizá-la é dizer que uma empresa privada terá autonomia para apontar quem pode ou não ter acesso à energia elétrica. E como a prioridade de empresas privadas é o lucro, o mais provável é que regiões com comunidades em vulnerabilidade econômica – como a do Sol Nascente, para quem Ibaneis discursou no último sábado – tenham sérias dificuldades para acessar o serviço, isso caso realmente tenham a possibilidade desse acesso. Na Companhia Energética de Goiás (Celg), por exemplo, a privatização gerou um aumento estrondoso na conta de luz. Lá, quem pagava taxa de energia elétrica de R$ 420 em 2017, passou a pagar R$ 533 em 2019. Um reajuste que veio atrelado à baixa qualidade do serviço prestado.

Os estragos com as privatizações são tão grandes que o próprio governador Ibaneis Rocha, quando ainda candidato nas eleições de 2018, disse: “Quero deixar bem claro a todos que no meu governo não se fala de privatização em nada, nem na CEB, nem na Caesb, nem no BRB, em nenhuma empresa pública. Nós vamos melhorar e valorizar todas elas. Quem está plantando essas fakes certamente é quem quer privatizar”. Ainda na corrida pré-eleitoral, ele assinou uma carta compromisso destacando que a CEB não seria privatizada. Isso sem falar que o agora governador chegou a posar para foto segurando a Plataforma da Classe Trabalhadora da CUT-DF para as eleições de 2018, documento que tem como um dos destaques a luta em defesa das empresas estatais e contra a privatização do patrimônio público.

Agora, numa matemática um tanto conveniente para grandes empresas interessadas no setor energético, o governador do DF alega caixa negativo, ineficiência e baixa produtividade da CEB, que obteve lucro líquido de R$ 119 milhões em 2019, mesmo ano em que recebeu o Prêmio Aneel de Qualidade ao ser considerada a concessionária com melhor avaliação do consumidor na região Centro-Oeste.

Com o pretexto de aquecer a economia, o governador do DF usa o cobertor curto da privatização, deixando descobertos os mais necessitados, justamente em um período em que o DF e o Brasil registram altos números de desemprego e uma desidratação salarial avassaladora. Nós do movimento sindical não nos curvaremos a mais este ataque, dando sequência a nossa história de luta em defesa do povo. Tampouco permitiremos que quem sequer honra a própria palavra ouse tentar desfigurar nossa trajetória.

Em defesa da CEB e de todas as empresas públicas do DF; em defesa do povo dessa cidade, seguiremos em luta!

*Por Rosilene Corrêa, professora da rede pública de ensino do DF, diretora do Sinpro-DF e diretora da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE)