Seja bem-vinda, presidente Dilma!
No mesmo ano em que o lema do movimento feminista é “Mais mulheres no poder, mais poder para as mulheres” é mais do que simbólica a eleição da primeira mulher presidente da República no Brasil. É na verdade o resultado do esforço de milhares de mulheres brasileiras que não fugiram à luta e que sempre atuaram como protagonistas de sua história. Dilma é uma dessas mulheres: de família da classe média alta, poderia ter se acomodado com as facilidades que a vida havia lhe dado, mas no auge da ditadura ousou dizer não ao autoritarismo. Sofreu torturas, ficou três anos presa, mas não abandonou suas convicções.
Com mais de 55 milhões de votos, os brasileiros e brasileiras votaram também pela continuidade de um projeto de governo iniciado pelo primeiro presidente operário do Brasil, durante oito anos de mandato. Durante boa parte desse tempo, Dilma foi o braço direito de Lula na condução das políticas governamentais.
Se a vitória é inequívoca, impressionaram os ataques que ela sofreu justamente por ser mulher. Em artigo publicado pela Agência Carta Maior, o professor e jornalista Emiliano José, traduziu bem a campanha sórdida que fizeram contra ela: “Nossas ilusões nos levaram a pensar numa campanha de bom nível, face ao passado de Serra. Foi um grave engano. Nunca o nível baixou tanto, e contra uma mulher. Buscaram nos recantos obscuros da alma da sociedade brasileira os elementos que suscitassem o ódio, que alimentassem os preconceitos, que suscitassem a raiva contra a mulher, contra todas as mulheres (a polêmica do aborto foi só um dos exemplos). E a chamaram despreparada, e a chamaram teleguiada, e quiseram-na sem vida política, e a denominaram terrorista, como se terroristas fossem todos os que resistiram à ditadura. E semearam mentiras, e fizeram milhões de telefonemas clandestinos com toda sorte de calúnias contra ela”.
Essa é uma questão que teremos que refletir a partir de agora: como lutar contra preconceitos tão arraigados contra a mulher. A desqualificação da capacidade feminina é uma arma dos setores conservadores da sociedade e contra isso devemos nos insurgir sempre.
Mas agora a democracia está em festa. Comemoram homens e mulheres que sabem que o Brasil que a nova presidente encontra não é o mesmo de 2003, quando Lula assumiu, é muito melhor. Mas que têm consciência dos imensos desafios a serem enfrentados pela mulher que assumirá em primeiro de janeiro de 2011. Durante toda a campanha Dilma disse mais de uma vez que aceitava esses desafios na perspectiva de continuar a luta para diminuir a desigualdade social que afronta a sociedade brasileira. Desejamos a ela sucesso na sua empreitada.