Salomão Sousa: um Beirute, dois livros e 72 anos de vida
Salomão Sousa lança dois livros de sua autoria no próximo dia 18/9, quarta-feira, no Beirute da Asa Sul (CLS 109 Sul) a partir das 18:30. São os livros Certezas para as madressilvas, poesia vinculada ao mítico, à natureza e às desavenças emocionais, e Poesia e alteridade, que dá continuidade ao trabalho de pensar a desestruturação política, numa sociedade que passou a não se identificar com o seu tempo. “O homem atual deixou de reconhecer sua liberdade”, aponta.
O lançamento das duas publicações coincide com outra data bem feliz: Salomão completa 72 anos de vida no dia 19 de setembro. E quem comprar os livros concorre no sorteio de uma gravura original de Beto Nascimento. Um livro sai pelo valor de R$ 50,00, e os dois livros, por R$ 70,00.
Salomão conta sua inspiração para a escrita de Certezas para as madressilvas: “a poesia é minha praia, meu quintal, minhas adjacências, meu alimento. Escrevi este livro no momento do ódio, no meio do aquartelamento da descrença, na hora do vírus da morte. Esses elementos se impregnam na arte. Certamente a minha poesia não contribuirá para a pacificação, para desarmar, pois foi escrita quando inexiste a sabedoria interpretativa e sensorial. A sabedoria sucumbe quando há a virulência do fervor pelo que é material e dogmático. Numa hora em que as pessoas desprezam a si mesmas, há preferência pela destruição da liberdade incentivada pelas aleivosias dos escritórios da mentira. Estes poemas (e muitos outros) foram escritos quando as pessoas deixaram de se reconhecer, de valorizar os canais legítimos da existência e passaram a abarrotar os olhos com o fascínio pela violência. Não tomei morfina para escrever este livro. Não conseguia me doar, se isolado, esquecido, assinalado com o dedo da desconfiança (muitas vezes de pessoas íntimas de minha afeição), se precisava arrasar o ódio com o sentido de existir próximo a outras vidas, com os percevejos e ninfas, que instrumentalizam a realidade, apesar de existirem despercebidos. Só com a proximidade do que existe a poesia se confirma. Nestes poemas não desejei dominar o processo, mas permitir que a poesia agisse com espontaneidade e urgência, só nos momentos em que ela desejasse se manifestar.”
Já sobre “Poesia e Alteriadade”, explica Salomão que “é um livro que se constitui de dez textos, que, entre outros temas, trata da compreensão da poesia, dos limões que a iluminam; da geração da poesia goiana, à qual sou participante, que passou inicialmente pela opressão da ditadura; do romance Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, como experiência do autor com a guerra hitlerista; do romance O Castelo, de Kafka, como obra que lembra que todos, numa organização totalitária, acabam sendo sacrificado pelo sistema; do romance Sob os olhos do Ocidente, de Joseph Conrad, que critica o oportunismo daquele que atua para tirar proveito do sistema autoritário; bem como da trapaça e do envenenamento político atual. Finalizo com um texto sobre alteridade, que julgamos ser um caminho pra que as pessoas se respeitem e manifestem cidadania respeitável. Precisamos descer do pedestal. Não adianta ficarmos na sacada reclamando da praga que cresce na calçada. Temos de descer para eliminá-la. A omissão é adesão à praga.”