Rollemberg faz reunião para tentar cooptar sindicatos e esvaziar a luta

Vários sindicatos e centrais sindicais participaram de uma reunião convocada pelo governador Rodrigo Rollemberg,  na noite dessa quarta-feira (8), cujo objetivo era apreciar uma apresentação de slide com o resumo das condições orçamentária e financeira do Distrito Federal. Após essa apresentação, o governador fez um apelo ao movimento sindical de colaborar com o Governo do Distrito Federal (GDF), uma vez que o DF vive uma “suposta crise” econômico-financeira.
A resposta do movimento sindical, sobretudo do Sinpro-DF e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Brasília, foi a de que não há nenhuma possibilidade de haver apoio a medidas que venham a trazer qualquer tipo de prejuízo à categoria. Rollemberg disse que seu governo conseguiu melhorar a situação das contas nesses seis primeiros meses de 2015, porém, não o suficiente para impedir que a capital do país fechasse o ano de 2015 com um déficit de mais de R$ 3 bilhões, os quais foram usados para honrar a Folha de Pagamentos do serviço público.
Na avaliação do secretário geral da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues, a reunião foi convocada pelo governador sem uma pauta anunciada e, o que é pior, com convidados estabelecidos pelo GDF, ignorando o Fórum em Defesa do Serviço Público, coordenado pela Central e que reúne os sindicatos de servidores do DF. “O GDF quer criar um fórum próprio para nos desmobilizar e esvaziar, ignorando nossa forma de organização coletiva e nossa pauta comum.
“É um desrespeito, pois havíamos solicitado, verbalmente e por ofício encaminhado no início da semana à Secretaria de Relações Institucionais, agendamento de um encontro com o governo para tratar da pauta de reivindicações comuns do funcionalismo”, esclarece Rodrigo Rodrigues, também coordenador do Fórum em Defesa do Serviço Público.
O governador informou que o limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) havia sido ultrapassado e que, pelas projeções de sua assessoria, deverá chegar a 48,07%, no fim de 2015, e a 49,02%, no fim de 2016. Anunciou que o GDF irá pôr em prática outras medidas para superar a suposta crise do DF, tais como endurecimento na identificação e cobrança de impostos dos sonegadores fiscais; atualização do valor venal dos imóveis que, segundo ele, está com uma defasagem histórica no valor para cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU); e cobrança de uma compensação previdenciária no valor de R$ 650 milhões.
Rodrigo Rollemberg levantou ainda uma hipótese, quanto ao Fundo Constitucional, de que o governo federal sempre repassou valores a menor desde que o Fundo foi instituído até agora e que hoje esse valor atualizado chegaria a cerca de R$ 1,3 bilhão. Quanto à compensação previdenciária é uma diferença entre o que o GDF recolheu e repassou a mais para o governo federal.
“O governo tem de parar de aterrorizar os servidores. Isso está parecendo uma caça às bruxas. Membros do governo têm colocado na mídia que não tem dinheiro para pagar a folha do pessoal porque servidor tem salários muito altos e que somos oportunistas. O que na verdade é uma mentira deslavada. É uma forma de tentar fugir da discussão das reivindicações e de atacar os servidores que lutam por seus direitos”, avaliou o secretário de Combate ao Racismo da Central e presidente do Sindser-DF,  André Luiz da Conceição, presente na reunião.
Após a explicação de cada uma das medidas a serem adotadas, ele propôs solidariedade, solicitou o apoio do movimento sindical para adoção dessas medidas e pediu até ajuda para encontrar uma solução para a suposta crise do DF. Durante as intervenções, os representantes do movimento sindical avisaram que não aceitam nenhum tipo de sacrifício da classe trabalhadora. Os diretores do Sinpro-DF que estiveram na reunião disseram que, se realmente há uma crise no Distrito Federal, o GDF tem de resolvê-la sem jogar a conta no colo dos (as) trabalhadores (as).
Na ocasião, Cleber Soares, da diretoria colegiada do Sindicato, disse que, “independentemente dos dados que o governo mostrou na apresentação de Power Point, nós, trabalhadores e trabalhadoras, como não sabemos e não temos acesso aos números de forma concreta, também não temos condições de assumir a responsabilidade de sugerir ações ao governo. Acreditamos que o GDF tem mesmo de identificar os sonegadores, atualizar valores de imóveis, contudo não aceitamos que jogue a conta da crise no nosso colo, que não cumpra os acordos firmados anteriormente ou que tente impor uma redução salarial por causa de inflação”.
Cleber Soares fez uma retrospectiva da falta de respeito que o governo Rollemberg tem tido com os(as) trabalhadores(as) e destacou que “todo início de governo é sempre a mesma história de não ter dinheiro para, com isso, jogar no colo do(a) trabalhador(a) a conta”. E completou: “Não aceitaremos ser penalizados(as) e exigimos que o governo cumpra o papel dele de governar em vez de fazer terrorismo contra os(as) trabalhadores (as)”.
O dirigente sindical do Sinpro-DF disse também que a categoria docente não aceitará o não cumprimento do acordo do plano de carreira e nem ver os seus salários reduzidos em decorrência da inflação. Cleber Soares afirmou que os (as) trabalhadores (as), principalmente os (as) docentes, não poderão mais sofrer com sacrifícios extras.
Na avaliação de Rosilene Corrêa, da diretoria Sinpro-DF, o GDF não poderia propor esse tipo de apoio porque “desde o governo de transição e o novo governo propriamente dito, entre dezembro de 2014 e os primeiros meses de 2015, os(as) servidores (as) públicos (as) do Distrito Federal vêm pagando caro a conta dessa suposta crise, com os atrasos no pagamento de salários e cortes de recursos para pagamento de direitos trabalhistas, como, por exemplo, o reajuste do auxílio alimentação, que deveria ter sido efetivado em maio, conforme previsto em lei”, afirmou.
Ela alertou para o fato de o governo Rollemberg evitar o diálogo. “Há uma ausência de diálogo com o movimento sindical e isso traz outros tipos de prejuízos”, alerta. Na opinião da diretora, cabe ao governo, ao gestor público, a tomada de medidas necessárias para que haja o pagamento de salários e que a posição do movimento sindical não poderia ser outra a não ser esta de que todos os movimentos que o governo venha a fazer têm de ser o de garantir o pagamento da Folha, que nada justifica a falta do pagamento de salário e, muito menos, essa atitude do GDF de anunciar, em reunião com lideranças sindicais, essa possibilidade, causando, com isso, um transtorno. “Isso só traz prejuízos no nosso dia a dia”, afirmou.
Os diretores do Sinpro-DF que estiveram na reunião lembraram ao governador que a categoria tem uma pauta de reivindicações em negociação e que a expectativa da categoria é a de que o processo de negociação aconteça efetivamente a fim de que haja uma negociação que aponte para novas conquistas. Disseram também que nada justifica, depois de seis meses de governo, anunciar uma possível crise com previsão de novos atraso de pagamentos, até porque a categoria docente da rede pública do DF ainda está arcando com prejuízos gerados pelos atrasos ocorridos no fim de 2014 e início deste ano. Com isso, Rodrigo Rollemberg reafirmou a intenção de contar com o apoio dos sindicatos e centrais e garantiu que continuará a dialogar com as entidades.