Projeto do Senado reduz em R$ 165 bi previsão de repasse para educação e saúde

O Projeto de Lei sobre a destinação dos royalties do petróleo para educação e saúde aprovado pelo Senado na noite de terça-feira (2) diminuiu em R$ 164,94 bilhões a previsão de repasse para as duas áreas nos próximos dez anos. O texto que havia passado pela Câmara dos Deputados previa cerca deR$ 261,44 bilhões, o do Senado prevê um montante de recursos de R$ 96,5 bilhões até 2022. As estimativas estão em nota técnica da Câmara dos Deputados.
O texto aprovado pelo Senado muda os contratos sobre os quais incidem as novas regras e reduz a parte de investimento feita por Estados e municípios e a divisão do Fundo Social do Pré-Sal.
As alterações, propostas pelo senador Eduardo Braga (PMDB-AM), foram o resultado de um acordo entre governo e líderes partidários para manter parte do projeto da Câmara e atender a pedidos do governo federal.

VERBAS ADICIONAIS PARA EDUCAÇÃO E SAÚDE

Ano Estimativa de recursos
2013 R$ 0,85 bi
2014 R$ 1,78 bi
2015 R$ 2,84 bi
2016 R$ 4,96 bi
2017 R$ 7,53 bi
2018 R$ 10,5 bi
2019 R$ 14,5 bi
2020 R$ 17,39 bi
2021 R$ 18,33 bi
2022 R$ 17,82 bi
Total R$ 96,5 bi
  • Fonte: Nota técnica da Câmara dos Deputados

Até a terça-feira, o governo lutava para que o Senado voltasse ao projeto de lei enviado pelo governo, que destinava R$ 25,88 bilhões integralmente para educação. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, mostrava preocupação do governo sobre o uso de recursos do Fundo Social do Pré-sal integralmente e sobre a mudança de destinação de verbas de Estados e municípios de contratos antigos.
O resultado não agradou aos defensores da educação, que reclamam da redução nos valores que serão investidos na área e no longo prazo para que sejam destinados.
“O texto do Senado recua muito em relação ao da Câmara. Os senadores decidiram não aumentar o aporte de recursos de Estados e municípios para educação e saúde”, criticou Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Tempo de destinação

“A proposta original do governo era destinar à educação 100% dos royalties do petróleo decorrentes dos novos contratos de concessão, firmados a partir de 3 de dezembro de 2012. Como a exploração de petróleo é feita por contratos de longo prazo, esses recursos iriam demorar bastante tempo para chegar às escolas”, avalia a economista Maíra Penna Franca, que estuda o financiamento da educação básica na UFF (Universidade Federal Fluminense).
O substitutivo definiu que serão destinados para educação e saúde as receitas de royalties da União de poços cuja declaração de comercialidade, marca de que a exploração começou, tenha ocorrido a partir de 3 de dezembro de 2012.
No caso de Estados e municípios, o texto inclui apenas contratos firmados a partir de 3 de dezembro do ano passado. A decisão foi justificada pelo risco de que Estados e municípios judicializassem a questão. Porém, isso significará, segundo a nota técnica da Câmara dos Deputados, que os recursos dessa parcela só começarão a ser destinados à educação e saúde em 2022.
O texto estabelece ainda que 50% dos royalties do pré-sal que a União enviaria para o Fundo Social seja investido em educação e saúde, na proporção de 75% e 25%, o que garante verba imediata para os setores. O valor estimado é de que em 2014, as duas áreas recebam juntas R$ 850 milhões adicionais. A proposta da Câmara previa cerca de R$ 6,15 bilhões já no próximo ano.

Recursos ou rendimentos

O projeto da Câmara previa que 50% dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal, uma espécie de poupança do governo, fossem destinados exclusivamente à educação. O Planalto queria que 50% dos rendimentos do montante fossem passados para o setor. O temor do governo era o de acabar com essa reserva de dinheiro nos próximos anos.
Para a economista Maíra Franca a injeção de dinheiro na educação por tempo determinado faz sentido pela necessidade de investimento em infraestrutura.
“É preciso investir em infraestrutura pois o sistema escolar ainda encontra-se em expansão. A taxa de cobertura não é completa, muitas crianças e jovens em idade escolar ainda encontram-se fora da escola. A jornada escolar mínima no Brasil é de apenas quatro horas diárias, enquanto nos países mais desenvolvidos é, em média, de seis horas diárias. Um percentual elevado de professores não possui formação adequada, e por isso é preciso oferecer cursos de licenciatura e de qualificação”, afirma.

De volta à Câmara

O texto substitutivo do Senado terá de ser apreciado novamente na Câmara dos Deputados e pode ser aprovado como está ou voltar à proposta inicial da Câmara.
“Em relação ao projeto da Dilma, que era medíocre, a gente avançou muito, mas perto de R$ 260 bilhões que poderíamos ter, a gente teve um alto recuo. Precisamos garantir uma taxa de recurso cabível para as necessidades de educação no Brasil, que são enormes. Esperamos que a Câmara tenha grandeza histórica e atenda às reivindicações das ruas”, afirma Cara.
Segundo cálculos de Luiz Araújo, especialista em financiamento da educação e assessor do PSOL, o texto do Senado garantirá apenas 0,4% do PIB adicionais para educação em 2022. Mercadante confirmou que o montante dos royalties não será suficiente para garantir o investimento de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação, previstos no PNE 2011-2020 (Plano Nacional da Educação).
No entanto, o governo deve lutar na Câmara pela aprovação do projeto, segundo nota do MEC (Ministério da Educação).
FONTE: Cristiane Capuchinho e Suellen Smosinski
Do UOL, em São Paulo