Pesquisa do Sinpro-DF sobre violência nas escolas repercute na mídia do Distrito Federal
A pesquisa inédita do Sinpro-DF sobre violência nas escolas repercute na imprensa local. Rosilene Corrêa, diretora do sindicato, afirma que o levantamento, realizado entre 4/12/2017 e 21/3/2018, pela empresa Metro Pesquisa, demonstra que a falta de investimento de dinheiro público nos setores sociais reflete negativamente no chão da escola.
“A pesquisa é um termômetro para mostrar o fiasco que é a política de choque de gestão e de Estado mínimo adotado pelo atual Governo do Distrito Federal (GDF) nestes últimos 4 anos e que a redução drástica de investimento de dinheiro público na educação, na saúde e na segurança é a causa do recrudescimento do número de atos violentos dentro das escolas, do aumento da evasão escolar e do adoecimento da categoria”, afirma.
A diretora assegura que essa violência afeta a categoria e transforma o ambiente escolar em local sem condições de trabalho. “O sindicato luta contra isso em várias frentes. A reivindicações por melhores condições de trabalho inclui esse ambiente contaminado pela violência. Daí uma das principais frentes ser a nossa Pauta de Reivindicações”. Confira, a seguir, a matéria do Metrópoles.
A situação aferida por números é assustadora: 97,15% dos educadores da rede pública já presenciaram atos de violência dentro dos centros de ensino, conforme revelou pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores (Sinpro) com 1.355 profissionais de várias regiões administrativas.
O levantamento escancara as mazelas da rede de ensino público no DF e reforça a sensação de insegurança provocada pela onda de violência que atinge a capital federal, onde 73% dos brasilienses sentem-se pouco ou nada seguros, segundo pesquisa encomendada pelo Metrópoles ao Instituto FSB.
Entre os docentes ouvidos pelo Sinpro, 97,15% disseram ter presenciado episódios de agressão e ameaça entre os alunos; e 57,98% foram vítimas da violência. O caso mais recente ocorreu no Centro de Ensino Fundamental 507, em Samambaia, quando um aluno de 16 anos tentou dar um soco no vice-diretor do colégio, Alex Cruz Brasil, 45 anos.
O adolescente havia sido suspenso por jogar melão nas colegas, na semana anterior, e foi barrado na entrada ao tentar acessar a sala de aula na segunda-feira (10/9). De acordo com Alex, o estudante ficou revoltado, partiu para cima dele, tentou desferir um soco em seu rosto, mas atingiu o ombro. O adolescente, então, puxou um canivete automático e ameaçou furar o educador.
Alex teme uma possível retaliação do aluno, que retomou as atividades no mesmo dia do episódio e foi colocado para fora de sala pela professora por indisciplina. “Estou vivendo com medo: olho para os lados a todo momento, fico de costas para a parede e sempre evito ir para a porta do colégio”, conta. Procurada pela reportagem, a direção do colégio informou que casos de ameaça são recorrentes.
Um relatório ao qual o Metrópoles teve acesso mostra que apenas nessa unidade de Samambaia 603 ocorrências disciplinares foram registradas entre janeiro e a quarta-feira (12). O vice-diretor foi responsável por registrar 75% dos episódios. Entre os casos, 210 referem-se à desordem e 145 são relativos a brigas e ameaças. Além do adolescente de 16 anos envolvido na briga com o gestor, 203 alunos acabaram suspensos por comportamentos indisciplinares.
Pesquisa do Sindicato dos Professores (Sinpro) mostra retrato da violência nas escolas by Metropoles on Scribd
Comunidade violenta
Para Alex, o retrato do descaso com o ensino e o sentimento de insegurança são resultado de um “problema estrutural e social” e do baixo efetivo de policiais responsáveis pelo patrulhamento das escolas. Segundo o vice-diretor, 25 militares são distribuídos entre sete regiões administrativas, apenas dois deles em Samambaia, onde mais de 40 colégios públicos e particulares funcionam.
A pesquisa não chegou a colher a opinião dos alunos, mas os casos de agressões entre eles também são recorrentes, e chegam a ser tratados com naturalidade pelos próprios jovens. No Centro de Ensino Fundamental 2 (CEF 2), no Paranoá, adolescentes na faixa etária dos 14 aos 16 anos chegam a agendar brigas em grupos do Facebook.
“É uma coisa que acontece muito e eu acho ruim vir para a escola e saber que isso vai ocorrer. Sou uma pessoa tranquila, nunca me envolvi nisso, mas fico com medo. As meninas aqui brigam muito, quase sempre por causa de namorados ou de xingamentos. No ano passado, duas alunas começaram a se baterem. O vigilante viu e não fez nada”, conta Ana Clara Brandão, 16, aluna do CEF 2 e moradora do Paranoá.
Os colegas de turma Ícaro de Souza, 15, e Matheus Mota, 16, ambos alunos do 9º ano do CEF 2, sempre procuram ficar longe das confusões, mas também já presenciaram várias brigas entre alunos dentro e fora da escola. Além disso, os meninos enumeram diversos casos em que viram colegas desrespeitando educadores na sala de aula.
“Às vezes, o professor pede silêncio e os colegas não fazem. Quando ele fala mais firme, tem aluno que retruca e desrespeita. Bate boca mesmo. Às vezes, até se xingam, mas agressão entre aluno e professor, nunca vi”, conta Ícaro.
Mais violência
Nesta semana, dois adolescentes, um de 16 e outro de 17 anos, foram apreendidos na porta do Centro Educacional 6, no Gama. Eles começaram a brigar na saída do turno. A PM foi chamada e, ao abordá-los, encontrou 15 pedras de crack. À polícia, eles disseram que eram estudantes do colégio e confirmaram que estavam no local para comercializar a droga.
Já em 28 de agosto deste ano, um aluno de 13 anos do Centro de Ensino Fundamental 19, na QNN 18/20, em Ceilândia, esfaqueou um colega de 15 anos durante briga na hora do intervalo, em pleno pátio. A vítima ficou ferida no abdômen e no pescoço.
Violência não vem de hoje
Ex-aluno da unidade e hoje proprietário de um restaurante localizado em frente ao centro de ensino, Raulisson de Goes Mendes, 24, presenciou “cenas inimagináveis” enquanto estudava na unidade. “Coisa de aluno andando armado, muito perigoso. Um dia desses mesmo vi um menino descendo a pé com o celular na mão ser assaltado por dois caras em uma bicicleta.”
A diretora do Sinpro, Rosilene Corrêa, conta que os colégios já se atentaram para a realidade e desenvolveram projetos em busca de resultados. “A escola assume para si a responsabilidade, já que o Estado não tem feito isso. E não tem outro caminho, porque não adianta ficar dependente da elaboração de políticas públicas se a realidade está ali, na sua frente. É preciso ter escolas mais prazerosas e profissionais mais valorizados”, pontua.
Patrulhamento e ações pedagógicas
Em nota, a Secretaria de Educação disse promover projetos pedagógicos ao longo do ano como “forma de prevenir e combater a violência”. “A pasta ainda trabalha em parceria com o Batalhão Escolar da Polícia Militar, que mantém ações educativas dentro das unidades escolares por meio do programa Viva Brasília nas Escolas”.
Já o Batalhão Escolar da Polícia Militar do Distrito Federal informou patrulhar com rondas o perímetro das centros de ensino num raio de 100 metros. “Implantamos ainda, na área interna, o Programa Educacional de Resistência às Drogas e Violência (Proerd), que consiste em um amplo projeto de prevenção ao uso de drogas, e as operações Varredura e Escola Livre, ambas com o objetivo de precaver quanto ao uso de armas ou objetos que possam ser utilizados como tal, com abordagens fora e dentro das escolas mediante acionamento da direção.”
Confira matéria na íntegra no link:
Aula do dia: a crescente violência nas escolas públicas do DF