Pesquisa da CNTE aponta valorização do magistério como antídoto ao “apagão docente”
Pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e pela Escola Paulo Freire aponta para um fenômeno preocupante: a carreira docente tem se tornado cada vez menos atrativa para a juventude trabalhadora. Os dados, divulgados durante reunião realizada nesta segunda-feira (15/9), na sede do Sinpro (SIG), ainda revelam que o Brasil vem caminhando para um apagão docente, manifestação vista em algumas partes do mundo.
Os motivos são claros e, segundo a análise, estão respaldados na desvalorização salarial, que contrasta com a alta responsabilidade da profissão; a sobrecarga de trabalho, que vai muito além da sala de aula, envolvendo planejamento, burocracia e reuniões; a falta de investimento dos governos; o número excessivo de contratos temporários; ausência de concurso público, entre outros fatores.
Diretores(as) do Sinpro e representantes de outras entidades sindicais participaram de reunião que apontou resultado da pesquisa sobre o perfil da juventude da educação
“Os jovens estão desistindo de ser professores. Quando a gente compara a juventude da educação com a juventude de outras categorias, isso fica perceptível pelos dados que a gente está trazendo. A ausência de pessoas querendo assumir a profissão docente é algo muito preocupante, porque não vamos ter educação no Brasil se a gente não tiver professores e professoras querendo assumir essa responsabilidade”, explica o professor Bruno Vital, coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Rio Grande do Norte (SINTE RN).
Bruno Vital, coordenador geral do SINTE RN
Ana Bonina, diretora do Sinpro, comenta que a pesquisa realizada pela CNTE ajuda a entender o perfil da juventude e os desafios da profissão docente nesta faixa etária. “Quando se pensa em outras profissões que exigem o mesmo nível de formação e trabalho, às vezes um trabalho burocrático, onde você não vai ter que lidar com a diversidade humana, onde você não vai ter que lidar com várias crianças ou adolescentes numa mesma sala de aula superlotada, a realidade é mais branda, menos problemática. Diante de tudo isto, os jovens vão procurar outras profissões.”
Luta por valorização e investimento
A reversão deste cenário exige mais que discursos: demanda políticas públicas sérias que restaurem a dignidade e o atrativo para a juventude, assim como valorização para a carreira do magistério e investimento no segmento. “A luta deve ser por concurso público para suprir a demanda existente na rede pública, o cumprimento do piso salarial para todo o país, a valorização da profissão, fatores que serão atrativos para que a juventude queira fazer parte desta carreira tão importante e que faz a diferença na sociedade. A educação representa o futuro, o progresso de uma nação”, finaliza Ana Bonina.
Na Greve da Educação de 2025, o Sinpro e a categoria do magistério DF garantiram a retirada do setor do contingenciamento anunciado pelo governo do Distrito Federal e garantiram a nomeação de pelo menos 3 mil professores(as) e orientadores(as) educacionais até dezembro deste ano. Além disso, o movimento conquistou a prorrogação do concurso público de 2022 até 2027.
A pressão do Sinpro sobre o GDF para valorizar a carreira do magistério público também é apresentada na atuação pela reestruturação da carreira, já iniciada. O passo mais recente garantiu a valorização da progressão horizontal, que aplica o dobro dos percentuais de titulação na tabela salarial. Outros pontos ainda estão em discussão na Mesa Permanente de Negociação, entre eles:
• Achatamento dos padrões da tabela de 25 para 15;
• Valorização do percentual entre padrões;
• Gratificação para coordenador(a) pedagógico;
• Extensão do pagamento da Gratificação de Atividade de Alfabetização (GAA) para quem atua nos anos iniciais do Ensino Fundamental e Primeiro Segmento da Educação de Jovens e Adultos (EJA);
• Gratificação de Atividade de Ensino Especial (GAEE) aos(às) professores(as) e orientadores(as) educacionais de escolas regulares que atendam a estudantes com transtorno ou deficiência.
Além de melhores salários e benefícios, a valorização defendida pelo Sinpro também inclui respeito à profissão e ao(às) profissionais, sejam efetivos, em contratação temporária, da ativa ou aposentados.
> Leia também: Reestruturação da carreira é estratégica na campanha salarial; veja o ponto a ponto
Edição: Vanessa Galassi