Pelo fim da violência contra a mulher em 16 Dias de Ativismo

Começou, nesta quarta-feira (25), a campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher. Em uma marcha realizada em Porto Alegre, entidades participantes pediram o fim da violência contra a mulher. Pesquisas mostram que, para as mulheres, um dos ambientes mais perigosos é sua própria casa.
CapturarLevantamento recente divulgado pelo Mapa da Violência contra as mulheres indica que 55,3% dos feminicídios na última década aconteceram no ambiente doméstico; 50,3% foram cometidos por pessoas da própria família e 33,2% por parceiros ou ex-parceiros.
Em 2013, 4.762 mulheres foram assassinadas no Brasil por motivos de gênero, o que coloca o país como o 5º mais violento para mulheres do mundo. É para combater essa situação que foi criada, em 1991, a campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres.
Capturar2Os 16 Dias começam em 25 de novembro, Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher, e vão até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Mas, no Brasil, algumas entidades começam a campanha um pouco antes, com programações relacionadas ao dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
A conexão entre as datas faz sentido porque as mulheres negras são exatamente as maiores vítimas dessa violência no país. No Mapa da Violência, foi constatado que houve um aumento de 54% em dez anos no número de homicídios de mulheres negras, enquanto os de de mulheres brancas caíram 9,8%.
Neste ano, em Porto Alegre, já aconteceram movimentações de mulheres, motivadas por um caso deviolência policial contra integrantes da Feira do Livro Feminista, em outubro. Da mesma forma, em todo o país vêm sendo realizado atos, em sua maioria coordenados por mulheres, pedindo a saída do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que apresentou projetos dificultando o acesso à pílula do dia seguinte e ao aborto em casos legalizados.
Capturar3A Campanha dos 16 Dias de Ativismo começa exatamente uma semana após a realização da primeira Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, em Brasília. Na marcha, as mulheres negras também divulgaram o resultado do Mapa da Violência elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).
Há anos o Sinpro-DF combate a violência doméstica, no local de trabalho e em qualquer ambiente em que a mulher é submetida a maus-tratos e todas as outras formas de violência. Para isso, instituiu há muito tempo duas secretarias que atuam na defesa das mulheres e das questões de raça e sexualidade: a Secretaria de Mulheres Educadoras e a Secretaria de Raça e Sexualidade.
O massacre das mulheres negras

DSC_5833
Primeira Marcha das Mulheres Negras

Os dados da Flacso indicam que os homicídios de mulheres negras aumentaram 54% em 10 anos no Brasil, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013. Enquanto, no mesmo período, o número de homicídios de mulheres brancas caiu 9,8%, saindo de 1.747 em 2003 para 1.576 em 2013. É o que aponta o Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil, estudo elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), divulgado nesta segunda-feira. Em 2013, 13 mulheres foram mortas por dia no país, em média, um total de 4.762 homicídios.
Nesta edição, segundo a Flacso, o estudo foca a violência de gênero e revela que, no Brasil, 55,3% desses crimes aconteceram no ambiente doméstico, sendo 33,2% cometidos pelos parceiros ou ex-parceiros das vítimas. Com base em dados de 2013 do Ministério da Saúde, ele aponta ainda que 50,3% das mortes violentas de mulheres são cometidas por familiares.
Sobre a idade das vítimas, o Mapa da Violência aponta baixa incidência até os 10 anos de idade, crescimento até os 18 e 19 anos, e a partir dessa idade, uma tendência de lento declínio até a velhice.
Capturar4O país tem taxa de 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres, a quinta maior do mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde que avaliaram um grupo de 83 países, informou a Flacso.
O Mapa da Violência é um trabalho desenvolvido pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz que, desde 1998, já divulgou 27 estudos. Todos eles, segundo a Flacso, trabalharam a distribuição por sexo das violências, sejam suicídios, homicídios ou acidentes de transporte, mas em 2012, dada a relevância do tema e as diversas solicitações nesse sentido, foi elaborado o primeiro mapa especificamente focado nas questões de gênero.
Homicídios de Mulheres no Brasil
De 1980 a 2013, foram vítimas de assassinato 106.093 mulheres. Entre 2003 e 2013, o número de vítimas do sexo feminino passou de 3.937 para 4.762, incremento de 21% na década.
Capturar5Segundo o Mapa da Violência, diversos estados evidenciaram “pesado crescimento” na década, como Roraima, onde as taxas de homicídios femininos cresceram 343,9%, ou Paraíba, onde mais que triplicaram (229,2%). Entre 2006, ano da promulgação da Lei Maria da Penha, e 2013, apenas em cinco estados registraram quedas nas taxas: Rondônia, Espírito Santo, Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro.
Vitória, Maceió, João Pessoa e Fortaleza encabeçam as capitais com taxas mais elevadas no ano de 2013, acima de 10 homicídios por 100 mil mulheres. No outro extremo, São Paulo e Rio de Janeiro são as capitais com as menores taxas.
O lançamento da pesquisa conta com o apoio do escritório no Brasil da ONU Mulheres, da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde e da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.
O estudo completo sobre homicídio de mulheres no Brasil está disponível no site do Mapa da Violência
Congresso Nacional participa da Campanha
16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher

cartaz87274O ato solene ocorreu, na tarde desta quarta-feira, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados. A campanha foi lançada em 1991 no Centro de Liderança Global de Mulheres. O período escolhido pelas 23 mulheres de diferentes países vai de 25 de novembro, que é o Dia Internacional da Não Violência Contra Mulheres, a 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.
No Brasil, foi antecipada para o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. O objetivo é reconhecer, além da opressão de gênero, que as mulheres negras também sofrem racismo, como informa o Conselho Federal de Serviço Social. Presidente da Comissão Mista de Combate à Violência Contra a Mulher, a senadora Simone Tebet, do PMDB de Mato Grosso do Sul, explica os objetivos da campanha.
A senadora Simone Tebet esclarece que os 16 Dias de Ativismo “é uma campanha mundial, são 160 países no mundo que tratam durante 16 dias, através de palestras, mobilizações, deste tema vergonhoso que assola a humanidade, que é a violência contra a mulher.
O Congresso Nacional aproveitou a ocasião para lançar o Mapa da Violência de Homicídio de Mulheres no Brasil e o blog da comissão. A senadora lembrou que o Brasil ocupa o quinto lugar em uma lista de 83 países, posição que ela considera vergonhosa.
“Poderíamos, talvez, jogar esta conta na violência geral que assola o país. Mas na realidade, dos assassinatos de mulheres do Brasil 50% são feitos dentro de casa por familiares ou companheiros. Perdemos apenas para Guatemala e outros países que muitas vezes não têm a envergadura e a tradição democrática do Brasil”, disse.
Fonte: Sul 21 e Agência Senado
“Você sabia?”: CFemea
Foto da Marcha das Mulheres Negras: Arquivo do Sinpro-DF