Nota de repúdio | Sinpro exige rigor na punição dos assassinos do jovem congolês Moïse Mugenyi

O Sinpro-DF vem a público manifestar o seu mais profundo repúdio pelo assassinato brutal de Moïse Mugenyi Kabagambe, 24 anos. Ele foi espancado até a morte pelo gerente do Kiosque Tropicália e mais cinco homens, no Rio de Janeiro, após ter cobrado R$ 200 por duas diárias de trabalho como ajudante de cozinha não pagas, segundo denúncia da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). O crime bárbaro ocorreu no próprio quiosque, situado no Posto 8, da Barra da Tijuca, no dia 24 de janeiro de 2022, às 21h, sob os olhos de várias pessoas que estavam no local.

 

Segundo informações da imprensa, o jovem congolês, refugiado no Brasil, foi abandonado, após o bárbaro espancamento, perto do estabelecimento e somente 40 minutos depois é que foi chamado o Corpo de Bombeiros, que levou seu corpo já sem vida para o Instituto Médico Legal como indigente. Sua família só foi informada no dia seguinte. Relatos e vídeos feitos no momento do linchamento mostram que, no fim do expediente, Moïse pediu seu pagamento ao gerente, que, simplesmente, começou a lhe agredir e, juntamente com outras cinco pessoas o assassinaram brutalmente. Usaram até um bastão de baseball para matá-lo.

 

“Esse caso é uma barbárie que nos escandaliza, mas acontece todos os dias e nem sempre são anunciados. No tempo em que vivemos hoje, uma era do fascismo em que você tem de optar se quer trabalho ou direitos, infelizmente, para esse jovem nenhum dos dois prevaleceu. Ele foi cobrar aquilo que lhe era de direito e foi assassinado por um grupo de pessoas. O que nos choca é o fato de haver pessoas que viram o que aconteceu e não fizeram nada. Ninguém se movimentou para impedir. Executaram o jovem e o deixaram jogado na areia da praia e o gerente continuou fazendo seu trabalho no quiosque como se nada tivesse acontecido porque aquela vida não importava para ele”, relata indignada Márcia Gilda Moreira Cosme, coordenadora da Secretaria para Assuntos de Raça e Sexualidade do sindicato.

Ela observa que essa é uma realidade cruel que se vive no Brasil. “Segundo país negro do mundo. A gente só perde para a Nigéria. Moïse saiu de seu país em busca de esperança e aqui ele encontra a morte. O nome disso é xenofobia, é racismo. Acabamos de refletir, no dia 29 de janeiro, sobre o problema do trabalho escravo no Brasil. Estamos vivemos no tempo em que reivindicar os seus direitos pode se configurar e resultar na sua morte”. A  barbárie desse caso não para por aí: em menos de 72 horas, o jovem foi dado como indigente, todos os seus órgãos foram retirados para doação sem a família autorizar.

 

Quanto mais a gente lê sobre esse caso, mais se assusta. Estava refletindo sobre a música de Elza Soares intitulada ‘A carne’, na qual ela diz que ‘a carne mais barata do mercado é a carne negra’. Inclusive o movimento negro tem evitado cantar porque é uma letra avassaladora. Contudo, o caso desse jovem congolês remete a essa música: em 72 horas ele foi assassinado a paulada, dado como indigente e seus órgãos retirados para doação sem autorização da família. Mataram, e parecia que era um açougue: vamos dividir aquilo que presta. Esse crime escancarou o tamanho da falta de empatia e da perversidade com os corpos negros. É a animalização. É o fortalecimento da ideia da colonização e da desumanização do corpo negro. Ele não merece o respeito porque ele é um corpo negro. Isso é muito grave e muito cruel”, afirma a diretora.

 

Infelizmente, passados mais de 100 anos da escravidão,  a população negra continua sendo, no Brasil, tratada sob total desumanidade. Trabalhador, imigrante africano, foi cobrar o pagamento pelo seu trabalho prestado e, tal qual se via na época da escravidão, foi linchado até a morte. E tal qual ocorria na época da escravidão, o linchamento não causou nenhum espanto às pessoas que estava na praia vendo um homem negro sendo espancado até a morte. O Brasil precisa ter sensibilidade e se indignar com a barbárie.

 

Todas as pessoas que estavam no local, na praia, que testemunharam a situação, permaneceram impassíveis, assistindo a cena de horror. “É lamentável ter de divulgar um nota de repúdio, em pleno século XXI, com comentários sobre mais um caso de assassinato de um homem jovem negro no Rio de Janeiro e um texto sobre a brutalidade contra o povo negro a toda hora no Rio e todos os cantos e recantos do País”, ressalta a diretora.

 

A diretoria  exige a imediata responsabilização dos assassinos. O crime está elucidado e os criminosos identificados. Não é possível conviver com mais um crime brutal, bárbaro, cruel contra jovens negros e não ver a punição no rigor máximo da lei. Esse crime evidencia o racismo estrutural e a barbárie trabalhista que se vive hoje no Brasil. Não é possível o País, cuja maioria da população é negra, vivenciar esse terror diário e não se indignar e nem se revoltar.

 

O crime contra Moïse é mais um que confirma a existência dos crimes de extermínio da juventude negra brasileira. É impensável imaginar que uma barbaridade dessa monta ocorreria contra um jovem trabalhador branco. Não se trata de uma questão apenas de classe social: o racismo estrutural é evidente nesse crime bárbaro.

 

O sindicato cobra da Justiça do Rio de Janeiro urgência e todo o rigor na punição. Cobra dos governos cariocas estadual e municipal o devido investimento público nas políticas afirmativas capazes de desconstruir séculos de racismo estrutural. Exige do governo federal a reposição, imediata, das somas significativas de recursos financeiros públicos retirados das políticas públicas afirmativas e das instituições de combate ao racismo. O crime foi também uma demonstração perversa de xenofobia contra estrangeiros e refugiados de origem africana. 

 

A diretoria colegiada lembra que, apesar de enfrentar uma gestão federal fascista, racista e neoliberal-terrorista, o Brasil é signatário da Convenção de Genebra de 1949, sobre a proteção das pessoas, e ratificou seus protocolos adicionais, dentre os quais se destaca a inviolabilidade absoluta da vida. O direito de viver é inviolável e receber o pagamento pelo trabalho prestado é direito humano e trabalhista.

 

Exigimos Justiça para Moïse! Exigimos punição rigorosa, sem exceção, dos criminosos. O Sinpro-DF entende que é premente vencer o racismo, a xenofobia e o fascismo neoliberal porque somente assim o Brasil se tornará uma Nação justa e democrática.