Nota de pesar | professor e diretor de teatro Hugo Rodas

A diretoria colegiada do Sinpro-DF lamenta a morte do professor da Universidade de Brasília (UnB) e diretor de teatro Hugo Rodas. O Distrito Federal perdeu, nessa quarta-feira (13/4), uma das mais importantes personalidades da dramaturgia brasiliense com o falecimento de Hugo Rodas. Ele estava internado no Hospital Brasília e morreu após sofrer um AVC. Há 3 anos ele vinha lutando contra um câncer, mas, a metástase dificultou a sua recuperação.

 

Apuração do Correio Braziliense informa que Rodas era uruguaio e se mudou para o Brasil em 1970. No País, ele foi ator, diretor, bailarino, coreógrafo, cenógrafo, figurinista e professor de teatro. Em 1975, ele se mudou para Brasília e, desde então, participou ativamente da vida cultural e da cena teatral da capital do País. Recebeu três títulos concedidos pelo Governo do Distrito Federal (GDF). A UnB também lhe concedeu dois títulos, o de Notório Saber em Artes Cênicas (1998) e, em 2014, o de Professor Emérito. Ele foi professor da UnB por 20 anos.  Clique aqui e confira o perfil e trajetória de Rodas. 

 

Para homenageá-lo, o professor e ator Luis Guilherme M. Batista, dedicou um poema ao mestre e um dos mais conceituados diretores de sua geração.

 

PARA SEMPRE HUGO

 

Hugo Rodas estava grávido

grávido de dores e tumores

grávido de algo não vivo

grávido talvez de outra vida.

 

Esperávamos pacientemente

pelo parto-partida,

dolorosamente, amorosamente.

 

Hugo é a pessoa mais importante do Teatro dessa capital concretada e empoeirada.

A personagem mais significativa que ajudou a construir o Teatro Brasiliense.

Nada se compara ao que Hugo fez.

Não existe nenhum demérito a todos e todas incríveis diretores e diretoras, atores e atrizes, produtoras e produtores que foram e são o Teatro de Brasília.

Apenas que Hugo é Rodas.

Nada, nem de perto, chega ao que ele criou e entregou para essa cidade.

Cidade que por sinal, atualmente, está a um universo de distância de sua proposta original.

Brasília foi fraudada por seus governos e por seus eleitores.

 

Mas não por Hugo.

 

Hugo deu sua alma, sua verve, seu sexo, sua loucura, sua dor, seu brilho, sua raiva, seus desejos, seu amor, sua paixão pelo Teatro.

Hugo foi violento, perverso, maquiavélico, drogado, bandido. E quem não foi ?

Hugo foi acolhedor, amoroso, delicado, equilibrado, suave, honesto. E quem pode dizer que foi ?

 

Você foi acolhido em Brasília por pessoas que lhe deram um porto seguro.

Você foi acolhido em todas as praças e cidades.

Você foi acolhido na UnB.

Você foi acolhido no coração e mente dos loucos.

 

Sei como professor que aprendemos com nossos alunos.

Sei que vc aprendeu com Iara, Herculano, Guila, Johanne, Neio, Dimer, etc, etc.

Sei que vc aprendeu com todos que trabalharam com você.

Sei que vc aprendeu com seus alunos na UnB, com seus amigos em São Paulo, em Goiânia, Paris, em Timbuktù e em todos os lugares onde pousou seus olhos brilhantes.

Sei que vc aprendeu com os grupos que criou.

Sei que talvez até tenha aprendido algo comigo.

Aí está o amor da genialidade. Aprender, de todas as formas.

Tudo é aula.

 

Mas você é um semideus.

E eu sou um ateu que te idolatra.

Sei que você morreu, mas e daí ?

Você vive em mim.

Você vive em milhares.

Você é um gigante.

Um maestro.

Um hércules.

Um césar.

Um augusto.

Um Uruguaio, que nunca perdeu o sotaque.

 

Felizes aqueles que te conheceram. Felizes aqueles que aprenderam com você.

Felizes aqueles que beijaram sua boca. Felizes aqueles que enlouqueceram com você.

Felizes todos aqueles que assistiram uma obra sua.

Felizes até os que nunca o assistiram, mas sabem que você existiu.

Que existiu algo magnificamente belo nessa vida.

Infelizes aqueles que odeiam arte, teatro, poesia e cultura. Infelizes os caretas.

Infelizes os que não se permitem viver.

Perdoai-os Hugo, eles não sabem o que fazem.

 

Como referenciar 50 anos de trabalho, 60 anos de dedicação, 70 anos de entendimento, 80 anos de tesão !?

Maldito seja você Hugo.

Bendito seja você.

Você é nosso ômega e nosso alfa.

Todos sabemos que você é nossa luz, nosso equilíbrio, nossa vontade de sermos deuses.

 

Eu sou deus.

Você dizia que era para nos sentirmos assim no palco.

Pois bem esse é o palco da vida onde você nos fez deuses.

 

Você foi nosso deus !!!

Como dizia Zaratustra: eu só poderia acreditar em um deus que soubesse dançar.

E você sempre soube dançar.

Dançou sobre nossos corpos, nossos espíritos e mentes.

Dançou com nosso sexo e nossa loucura.

Dançou suado na boates gays – Nada mais alegre.

Dançou sob a lua.

Dançou para o sol.

Você nos ensinou a respirar na dança.

Você nos ensinou a respirar debaixo d´água.

Você nos ensinou a gostar de gozar a vida.

Gozar na vida.

Gozado. Sendo sério.

Seríssimo.

Ser isso que você é.

 

O máximo, o mal, o bem, o super, o único, o Hugo, o Rodas, o monstro, o gênio, o homem, o menino, o mestre, o aprendiz, o eterno.

 

Você é eterno Hugo. Você é eterno Rodas.

 

Até um dia. Para sempre.

 

 

 

(*) Por Luis Guilherme M Baptista
Ator e Professor