No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, estudos aponta ideação suicida de docentes

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Ideação suicida: desejo de não existir, ou planejar tirar a própria vida. Esta é a definição compartilhada entre psicólogos para um sofrimento mental que vem atingindo a categoria de professores da rede pública estadual de Santa Catarina.

Dados da 5ª edição da Pesquisa de Saúde Docente, que compara indicadores produzidos entre 2021 e 2024, revelam que 28% dos professores declararam ter sofrido com ideação suicida nesse período. Entre os fatores que contribuem para o adoecimento no ambiente escolar estão o desgaste físico e emocional, os conflitos com estudantes e a insegurança contratual.

O adoecimento mental de docentes é tema relevante da Pesquisa de Saúde Docente publicada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação,   SINTE/SC,   em parceria com o Núcleo Interdisciplinar em Políticas Públicas e Opinião Pública (NIPP/UFSC) e o Núcleo de Estudos em Comportamento e Instituições Políticas (NECIP/UFSC) e feita em julho de 2025.

OS dados demonstram que, entre os professores que estiveram em sofrimento mental entre 2021 e 2024, mais de 1/4 tiveram pensamentos suicidas. Em todos os anos em que essa pergunta foi aplicada, os índices foram considerados altos pelos pesquisadores. 

O estudo também indica que o cansaço ou desgaste físico e emocional (83%), conflitos com colegas (27%), com famílias (28%), com a direção (37%) e com estudantes (68%) são fatores para o adoecimento dos docentes no ambiente escolar. Quando perguntados quais as maiores dificuldades que enfrentam no dia-a-dia nas escolas, os docentes apontaram que lidar com a defasagem de aprendizagem e com as questões socioemocionais dos estudantes são os problemas mais relevantes, seguidos pela falta de infraestruturas e equipamentos nas escolas catarinenses.

A professora de história, Zenaide Peron, que atuou 32 anos na Rede Pública do oeste Catarinense, vivenciou episódios extremos socioemocionais de estudantes, pós-pandemia, que afetaram profundamente sua saúde mental. “Foram situações complicadas, era quase sempre nas minhas aulas que eles se sentiam à vontade para desabafar. Em um dia na escola presenciei a crise de ansiedade de um aluno, e mais tarde soube que uma das alunas que eu dava aula estava em coma após tentativa de suicídio. Em outro episódio, enquanto esperava pelo acolhimento por parte da escola, recebi de uma aluna, os comprimidos que ela estava ingerindo. Perante a esses episódios eu me senti impotente, sem auxílio do poder público. Foi um misto de sentimentos. Eu estava lá na sala de aula porque amo lecionar. Mas não tinha como não me envolver no sofrimento daqueles adolescentes. Sou humana. Acabei tendo problemas de pressão arterial, tendo que aumentar a dose do meu remédio para ansiedade. Tive crises de pânico e dificuldades para dormir. Hoje gostaria de continuar fazendo o que eu amo mas, tenho medo de ter que enfrentar esses fatos novamente”, relatou a professora que após estes acontecimento, em 2022, parou de lecionar.

 O SINTE/SC realiza pesquisas desde 2020 sobre a saúde da categoria, pois compreende que a atuação do sindicato perante aos problemas enfrentados pelos docentes deve ocorrer informada por dados. “Nós do SINTE/SC sabemos que a saúde é um dos pilares do trabalho docente. Sem condições adequadas, não há como garantir qualidade na educação pública. O compromisso do professor é proporcionar uma formação sólida e de qualidade, mas não existe futuro na educação sem cuidar da saúde do trabalhador. Foi com esse entendimento que o SINTE/SC realizou as cinco edições da Pesquisa de Saúde Docente”, explicou a diretora do SINTE/SC, Katiane Weschenfelder Golin, durante o evento de lançamento da pesquisa.

A psicóloga e doutora em Antropologia Social, Alana Ávila, analisa que os ambientes de trabalho afetados pela falta de investimento público podem perpetuar o agravamento da saúde mental dos trabalhadores. “Muitas vezes os adoecimentos estão implicados em questões sociodemográficas, mas também dizem de pressões por produtividades, salários incompatíveis com o nível de cobrança, situações de assédio moral, racismo e outras violências. No campo das políticas públicas, como na saúde e educação, os profissionais ainda são afetados pela falta de investimentos, carência de equipes, materiais e espaços adequados para atuação, ao mesmo tempo em que têm de cumprir indicadores avaliativos para o repasse mínimo de verbas. Neste cenário, acabam se perpetuando relações adoecedoras, fruto de violências institucionais, sociais e pessoais, que afetam não só quadros pré-existentes de adoecimento mental, como podem desencadear novos fenômenos aliados ao esgotamento desses sujeitos, como quadros de depressão, ansiedade e burnout”, analisa Ávila.

Procure ajuda: É possível obter apoio para ideação suicida através do Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 188 (24 horas, gratuito e sigiloso), do atendimento do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) do SUS, do serviço de emergência do Hospital Universitário (HU-UFSC).

Fonte: CUT