Não deixar o samba morrer é importante?

Não deixe o samba morrer!

 

Todo mundo já cantou essa frase em algum momento.

Ou, pelo menos, já ouviu sendo cantada, nem que seja rapidinho.

Eu sou a favor dessa ideia.

O samba é um presente, das pessoas do passado, para a gente.

 

E significa muitas coisas.

 

Para mim, mais que tudo, o presente é a alegria da percussão, é a morada de Ayan, como aprendi essa semana.

 

Mas, acrescento eu, é uma alegria que respira e pede presença e não uma alegria que apenas inebria e anestesia.

 

É bom não deixar isso morrer.

É bom cuidar disso com carinho, no embalo do ritmo criativo e deixar às nossas crianças.

 

Penso de modo semelhante em relação à nossa língua.

Suassuna acerta por agradecer ter nascido no Brasil.

Porque português de Portugal é outra coisa, bem inusitada.

Só aqui, em terras tupiniquins, a gente bem sabe que um minutinho pode durar semanas.

Que tomate é fruta, mas, nem por isso, colocamos na fruteira junto com as bananas e as maçãs.

Que palavrão falado no diminutivo perde sua violência (faça o teste você e me diga).

 

Acho importante cuidar da nossa língua também, como do nosso samba.

 

Nossa classe dominante, bruta e bárbara, não vai cuidar do samba nem da nossa poesia.

Nem de nada se a gente parar pra pensar bem.

Por eles, queima-se tudo, reinando, como projeção mental, sobre cinzas em um planeta sem condições de vida.

Portanto, sem condições de trabalho.

 

Frente a trabalhos inúteis, que infelizmente ainda temos, é bacana a ideia de nos darmos trabalhos bacanas.

Como sambar.

Escrever.

Respirar.

Lutar.

 

Lutar por condições de trabalho, por condições de vida: pela riqueza que de fato temos.

É, como aprendi com as palavras escritas transcodificadas, pela língua, do pensamento de Macaé Evaristo:

Sair do luto e ir à luta.

 

por

Pedro Artur