Mulheres do DF vão às ruas e confrontam política de Bolsonaro e Ibaneis

 

A esperança foi consenso nesse 8 de março – Dia Internacional de Luta pelos Direitos das Mulheres. Nessa quase meia década com aspecto temporal de mais de um século inteiro, elas, mais uma vez, se unificaram e marcharam contra o machismo, o racismo; por comida, emprego, saúde, educação. Pela vida de todas as mulheres.

Quanto mais a marcha se aproximava do Congresso Nacional, destino final da caminhada que saiu do Museu da República, a estrutura projetada por Oscar Niemeyer onde se definem os rumos do país, parecia encolher. A imponência do edifício, ocupado majoritariamente por homens brancos, sucumbiu às falas potentes daquelas que resistem para viver.

“O que nós vivemos hoje é um verdadeiro abandono. A crise sanitária, que ainda existe, foi aprofundada porque não houve interesse por parte de nenhum governante de interromper isso. A crise que vivemos não é uma tragédia, é resultado de um projeto político indigesto, que se aproveita do momento mais triste do século para alçar voo. Por isso, não há dúvidas de que o necessário são políticas públicas para as mulheres, para protegê-las, para garantir oportunidades, para matar a fome. E nós mulheres, temos que estar sim nas ruas, como sempre estivemos, mas também temos que estar em todos os espaços de poder, sendo promotoras dessas políticas”, disse a dirigente do Sinpro-DF Rosilene Corrêa.

 

Fome e desemprego

O Brasil voltou para o mapa da fome e da miséria. Mais de 19 milhões de pessoas no país não têm o que comer. As mais afetadas são a população negra e as famílias chefiadas por mulheres.

“Em cada 10 famílias, quatro são chefiadas por mulheres negras. O governo Bolsonaro não tem consciência da dívida histórica que o país tem com a população negra. Alimenta a cultura da violência. Racista! Não nos deixaremos intimidar. Não vamos nos calar, e não iremos largar a mão de ninguém. Resistiremos. Bolsonaro e seus pares serão derrotados por quem eles mais odeiam: mulheres negras”, disse a secretária de Combate ao Racismo da CUT-DF, Samanta Nascimento Sousa.

No Distrito Federal, o alinhamento com a política do governo federal vem reproduzindo o cenário nacional de prejuízos socioeconômicos para o povo, sobretudo para as mulheres. Aqui, além dos preços inviáveis do gás de cozinha, dos alimentos, do transporte coletivo, também falta acesso à saúde, à educação, à moradia.

“As mulheres não suportam mais conviver na realidade desses governos, (Bolsonaro e Ibaneis) que estão relacionados, atrelados; são governos que retiram direitos das mulheres mais pobres, das negras, das que moram nas periferias. É preciso que a gente dê um basta nisso para que a gente tenha um Brasil e um DF de paz”, disse a diretora do Sinpro-DF Vilmara do Carmo.

Segundo a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), o número da participação feminina no mercado de trabalho do Distrito Federal cresceu – ainda que timidamente – no último ano. Pelo estudo, divulgado no último dia 7 de março, a jornada de trabalho das mulheres aumentou e o ganho médio diminuiu.

“Nos governos Bolsonaro e Ibaneis, as mulheres são atacadas pelo desemprego formal, ficando sem qualquer tipo de renda; sobrevivendo com a ajuda de outras trabalhadoras. Mas também há a situação da trabalhadora irregular, que vive de bicos, no mercado informal. Corrigir essa situação depende de política pública, coisa que nem Ibaneis nem Bolsonaro fazem”, critica a secretária de Mulheres Trabalhadoras da CUT-DF, Thaísa Magalhães.

 

Educação

Desde o início da gestão, em 2018, Bolsonaro corta verba da educação e insiste em projetos que destroem o setor. O Piso do Magistério e o Fundeb, por exemplo, só continuam vigentes pela luta da categoria e de setores que defendem a educação.

No DF não é diferente. Quase um mês e meio após o início do ano letivo de 2022, há crianças sem poder ir às escolas por falta de professor(a), salas de aula estão superlotadas, a categoria do magistério público está com salário congelado há sete anos, houve atraso e diminuição do valor do repasse do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (PDAF).

Embora atinja toda a sociedade, o ataque à educação pública recai principalmente sobre as mulheres. “Mulheres são maioria na educação. Incide sobre nós o ataque a este setor, seja enquanto profissionais ou estudantes. Muitas meninas ficaram fora do processo educacional nesses últimos dois porque o governo não promoveu políticas públicas, ao contrário, eliminou as que tínhamos. E isso aprofunda ainda mais a desigualdade de gênero”, lembra a diretora do Sinpro-DF e da CNTE Berenice D’arc.

 

Esperança

Estupro. Assassinato. Desemprego. Fome. Todas essas realidades são vividas cotidianamente pelas mulheres do Brasil. Uma verdadeira ode à desesperança.

Mas as mulheres resistem: querem dignidade e liberdade, e mostraram isso, mais uma vez, na marcha deste 8 de março, enquanto batucavam tambores, agitavam bandeiras e gritavam palavras de ordem.

Teimosa, a esperança brota.

A proximidade das eleições, com a possibilidade de mudar radicalmente os rumos do país e da vida das próprias mulheres, foi definitiva para que se construísse um Dia de Lutas pelos Direitos das Mulheres expressivo em pleno exercício do governo mais racista, machista e misógino desde a redemocratização do Brasil. Mas a grandiosidade do ato deste 8 de março está longe de se limitar a isso. Historicamente oprimidas, as mulheres não aceitam nem um passo atrás. Perceberam que são determinantes para o sustento da sociedade. Dividiram vivências. Somaram força, coragem e cumplicidade, de geração em geração. E também aprenderam a reagir na mesma medida do ataque. Não há dúvidas: resistirão e lutarão até que todas estejam livres. É definitivo.

Todas as fotos são de Deva Garcia, com exceção da penúltima, que é de Palloma Barbosa.

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