Mulheres cutistas reafirmam luta por igualdade, redução da jornada e poder político

Realizada no âmbito da 17ª Plenária Nacional da CUT, em São Paulo, a Plenária Nacional de Mulheres da CUT reuniu trabalhadoras de todo o país para debater os rumos da ação sindical feminista e definir as prioridades da Central para o próximo período.
Com forte tom político e emocional, o encontro foi marcado por análises sobre a desigualdade de gênero, a sobrecarga dos cuidados, a violência e o silenciamento das mulheres no movimento sindical, além de apontar caminhos concretos para garantir que a paridade e as pautas de gênero se traduzam em poder real nas instâncias de decisão. Na Plenária foram citadas as demandas principais como a ratificação das convenções 190 e 156 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que versam sobre assédio no trabalho e igualdade salarial.
Amanda Corcino, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT Nacional, explicou que o evento teve a missão de fortalecer a voz e a ação das mulheres cutistas.
“A plenária foi muito importante para a gente organizar as mulheres da CUT e definir quais são as prioridades das nossas pautas. Hoje discutimos temas essenciais, como a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, a igualdade salarial, a ocupação dos espaços de poder e a necessidade de políticas públicas que apoiem a mulher trabalhadora”, afirmou.
Amanda destacou ainda que essas pautas não são identitárias, mas de toda a classe trabalhadora, já que as mulheres representam 52% da população brasileira. “Se é importante para a classe trabalhadora, é importante para a CUT”, reforçou.
A dirigente ainda ressaltou a urgência de debater a sobrecarga das mulheres no mercado de trabalho. “Não é só a escala 6 por 1 que nos prejudica. Existem escalas 12 por 36, e quando somamos a jornada de cuidados dentro dos nossos lares, a nossa jornada se torna exaustiva, prejudicando nosso acesso e permanência no mercado de trabalho. Precisamos organizar as mulheres para ocupar espaços de decisão, seja no movimento sindical ou no parlamento, garantindo que nossas pautas sejam incorporadas às negociações coletivas e às políticas públicas”, detalhou.
Amanda também reforçou a importância da mobilização popular: “Quando mostramos nossa força, pressionamos o Congresso, levando as pautas da classe trabalhadora para o centro da agenda nacional”.
Ainda na abertura do encontro, a Secretária Adjunta da Mulher Trabalhadora da CUT, Mara Feltes, lembrou e exaltou a participação da CUT na 5ª Conferência Nacional das Mulheres, importante espaço de debates e decisões sobre políticas públicas para as mulheres, que teve participação ativa da CUT. “Foi um grande evento e junto com ele grandes problemas, que foram superados pela nossa força e determinação”, disse Mara, em relação à magnitude da Conferência, realizada em Brasília, e das dificuldades de logística para levar mulheres de todo o país à capital federal.
Não vivemos em um mundo de igualdades
A vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira, reforçou durante a plenária que a posição das mulheres na sociedade é de desvantagem em relação aos homens.
“Não vivemos em um mundo de igualdades. A nossa luta é dupla porque somos constantemente cobradas e julgadas de formas que os homens não são. Precisamos unir forças, defender nossos direitos e fortalecer a participação feminina em todos os espaços”, afirmou Juvandia.
Ela destacou ainda que a CUT é um reflexo da sociedade, e que o movimento sindical não está isento de visões machistas. “É nosso dever combater a opressão de gênero, sempre junto aos companheiros homens, para construir uma sociedade livre de desigualdades. A participação das mulheres é central, e precisamos garantir que nossa militância, nossa voz e nossas pautas sejam ouvidas, respeitadas e incorporadas nas decisões da CUT e do movimento sindical como um todo.”
A dirigente afirmou ainda a urgência da presença feminina em espaços de poder. “Precisamos que as mulheres estejam onde as decisões são tomadas, não só para cumprir cotas, mas para mudar a agenda política e sindical”, afirmou.
Pilares da democracia
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Márcia Lopes, trouxe um recado de reconhecimento e incentivo às mulheres cutistas. Por vídeo ela afirmou que acompanha “com atenção a atuação das mulheres sindicalistas no Brasil”.
“Vocês são fundamentais para a democracia, para o desenvolvimento sustentável e para o fortalecimento das bases sindicais. Não há transição climática, desenvolvimento sustentável ou construção de um país justo sem a presença e a luta das mulheres”, afirmou a ministra. Ela destacou ainda a importância do diálogo e da construção coletiva da democracia.
“O presidente Lula mostrou ao mundo na Assembleia Geral da ONU a necessidade de praticarmos a democracia todos os dias. Que essa plenária seja uma oportunidade de fortalecer a participação das mulheres, garantindo igualdade de oportunidades e direitos em todos os espaços”.
A deputada federal Érica Kokai (PT-DF) também participou remotamente da plenária. Ela foi saudada por sua atuação em defesa da classe trabalhadora e pela perspectiva feminista que incorpora em sua representação política.
“A diferença de uma representação feminista é que ela defende a classe trabalhadora, e não atua como instrumento do patriarcado para atacar os nossos próprios direitos. Ela também defendeu a ampliação do conceito de violência política de gênero para incluir não apenas ataques pessoais, mas também mecanismos institucionais que barram a ascensão das mulheres.
“Quando não há orçamento, quando não há políticas públicas efetivas, isso também é uma forma de violência. É preciso transformar o discurso em estrutura”, disse.
Representação e lutas
Na mesa, Tais Gramowski, diretora executiva da CUT Paraná, reforçou o peso simbólico e político da paridade conquistada pela Central, afirmando que o desafio agora é “fazer com que as mulheres participem efetivamente das decisões, e não apenas componham espaços formais”. Para ela, é preciso romper com práticas que reproduzem o silenciamento e a desvalorização das dirigentes. “Precisamos estar na condução das lutas”, disse.
A secretária de Formação da CUT Sergipe, Ivonete Alves, defendeu que a disputa por igualdade começa nas relações cotidianas dentro das entidades sindicais. Ela ressaltuou o papel da formação política feminista, que deve ser permanente para que as mulheres se sintam legitimadas a disputar direção, fala e poder.
A diretora da CUT Alagoas, Elida Miranda, chamou atenção para a necessidade de fortalecer a rede de apoio entre mulheres dirigentes.“As mulheres precisam saber que não estão sozinhas. A solidariedade entre nós é também uma forma de resistência”, disse.
A diretora executiva da CUT Cidneiva Gonçalves, apresentou dados recentes que revelam o agravamento da desigualdade no mercado de trabalho, com mulheres concentradas nas ocupações de menor remuneração e com menor formalização. “As mulheres ganham menos, trabalham mais e têm menos tempo para si. Essa estrutura precisa ser desmontada com políticas públicas e ação sindical coordenada”, afirmou.
Ela destacou que a sobreposição entre trabalho produtivo e trabalho de cuidado é um eixo central de opressão de gênero. “Enquanto o cuidado não for reconhecido socialmente como trabalho, as mulheres continuarão sobrecarregadas e com menos condições de disputar poder e renda”, completou.
Internacional: na sequência, Juliana Sales, também diretora executiva da CUT e da ISP – Internacional de Serviços Públicos – ampliou a análise ao situar a luta das mulheres no contexto global. “O feminismo sindical precisa ser também internacionalista. O que acontece na Palestina, nas Américas e na África impacta nossas vidas e o modo como o capital se reorganiza. A luta das mulheres trabalhadoras é por paz, por direitos reprodutivos e por soberania sobre os corpos e o trabalho”, afirmou.
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Juventude, combate ao racismo e mulheres do campo
As demandas das mulheres jovens também se destacaram, representadas pela secretária nacional de Juventude da CUT , Cristiana Paiva. Ela que denunciou a baixa participação de jovens mulheres na plenária — menos de 5% do total e alertou para o risco de afastamento das novas gerações do movimento sindical.
“As jovens trabalhadoras precisam de incentivo, formação e espaço de fala. A CUT tem que garantir que as jovens estejam no centro da formulação política”, defendeu.
Cristiane também lembrou que a Marcha das Margaridas demonstrou a potência da articulação entre campo e cidade, e que é fundamental garantir orçamento e estrutura para que as mulheres rurais mantenham a presença ativa na luta sindical. “Sem as mulheres do campo, a luta pela soberania alimentar e pelos direitos trabalhistas fica incompleta”, afirmou.
Nadilene Nascimento, secretária adjunta de Combate ao Racismo da CUT, reforçou que o enfrentamento ao racismo e ao colorismo precisa ser estruturante dentro da Central.
“Não se trata de um tema identitário, mas de classe. O racismo organiza a desigualdade de gênero e a exploração do trabalho. Precisamos encarar isso como parte da luta sindical”, afirmou. Nadilene convocou as mulheres a se engajarem na Marcha das Mulheres Negras de 2025, que terá como lema “Reparação e Bom Viver”.
A anfitriã da plenária, Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, encerrou a mesa reafirmando que a dupla jornada e a sobrecarga dos cuidados permanecem como barreiras centrais à igualdade. “A mulher trabalha fora, trabalha em casa, cuida da família, da comunidade e ainda precisa lutar por espaço dentro do sindicato. É urgente reduzir a jornada de trabalho sem redução de salário, porque o tempo é um direito de classe e de gênero”, afirmou.
Pesquisa
Durante a Plenária de Mulheres da CUT, a diretora-técnica do Dieese, Adriana Marcolino apresentou dados de uma pesquisa mostra a realidade da mulher no mercado de trabalho, como foram de subsidiar os debates na plenária e reforçar a luta das mulheres.
Embora as mulheres representem 52% da população com mais de 14 anos, sua participação na força de trabalho efetiva é de apenas 44%. Elas predominam entre as subocupadas por insuficiência de horas e entre as desalentadas, indicando que muitas gostariam de trabalhar, mas não conseguem devido à organização desigual do trabalho remunerado e das tarefas de cuidado doméstico.
A pesquisa mostra ainda que a taxa de desemprego feminina é de 6,9%, superior à masculina (4,8%), e a subutilização da força de trabalho — que engloba desocupadas, subocupadas e desalentadas — é maior entre mulheres (17,8%) do que entre homens (11,7%). Esses dados revelam a necessidade de políticas que ampliem a participação feminina, promovam igualdade salarial e redistribuam a jornada de trabalho e cuidados.
Lançamento do Protocolo de Combate à Discriminação e Assédio
A plenária também apresentou o “Protocolo de Prevenção e Ação em Casos de Discriminação, Assédio e Violência”, desenvolvido para garantir um ambiente de trabalho seguro e inclusivo na CUT.
Com o objetivo de ser uma ação positiva e referência não apenas para o movimento sindical, mas para o conjunto da sociedade, o protocolo estabelece procedimentos claros para denúncias, apuração e aplicação de sanções, para eventuais casos de assédio e violência e gênero.
Aprovado previamente em instâncias da CUT, o protocolo será lançado oficialmente durante a 17ª Plenária, reforçando o compromisso da central com a cultura de respeito mútuo e a erradicação de comportamentos machistas, discriminatórios ou violentos em todas as atividades e eventos da organização.
Fonte: CUT