Mudança de data na rede pública de ensino desagrada

A notícia do adiamento do ano letivo,  de 9 para 23 de fevereiro, pegou pais de surpresa e contrariou o Sindicato dos Professores (Sinpro). A Secretaria de Educação  alega que a mudança  não se deve ao atraso no pagamento dos servidores, mas às condições físicas das escolas. Porém, o que se vê por enquanto é uma tímida movimentação para reforma.
Pais e responsáveis  estão indignados com a alteração. A dona de casa Sandra Buzon, 33 anos, vai ter que adiar um curso em função das mudanças no calendário. Ela não terá com quem deixar o filho, Caio, de quatro anos. “Estou grávida e estudo para concursos. Já adiei um cursinho para quando o Caio voltasse às aulas, nem sei como farei agora”, lamenta. “Liguei na escola  e a secretária me confirmou que essa decisão foi tomada devido ao não pagamento dos salários”, emenda.
Sandra conta que,  no final do ano passado, a instituição fez uma campanha a fim de arrecadar dinheiro para pequenas reformas. “O que era necessário já foi feito, não justifica adiar o início das aulas com esse intuito”, acredita a mãe.
Creche
A situação é parecida com a da empresária Rebeca Schmidt, 26 anos. O filho, Pedro, 3 anos, está matriculado em uma creche pública, no Areal. “Tenho uma rotina muito corrida. Quanto mais tempo as escolas demorarem para voltar, pior para mim, porque tenho que ficar andando com o Pedro para cima e para baixo. Isso o irrita e nos cansa mais ainda”, reclama.
“Além disso, não é todo dia que os parentes podem ficar com as crianças para a gente. Outra coisa que me preocupa é que se ele se acostumar com a rotina não vai mais querer ir para a escola. Um transtorno”, conclui.
Retorno
Com a mudança, os professores começam a trabalhar em 19 de fevereiro. Pelo antigo calendário, voltariam no dia 4  –   15 dias antes. Eles não receberam os salários referentes a dezembro, tampouco  as férias, que deveriam ter sido depositadas no último dia 3. Segundo o  secretário de Educação, Júlio Gregório, antes que as aulas comecem é necessário adquirir mobília, fazer reformas e repor insumos.
Movimentação para  obras  é pequena
As reformas programadas para as 657 escolas do Distrito Federal serão feitas utilizando recursos do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (Pdaf), com uma verba de cerca de R$ 11 milhões, suficiente para a primeira etapa.
O JBr. visitou algumas instituições de ensino e constatou, porém, que a condição estrutural delas não parece crítica a ponto de retardar o começo do ano letivo. No Centro de Ensino Fundamental 2, no Cruzeiro, funcionários da secretaria não quiseram se manifestar sobre o assunto, mas disseram que   há pequenas reformas sendo feitas.
No Centro Educacional da Asa Norte (Cean), a área externa está em bom estado de conservação. Procurado, o diretor da escola, Hamilton Paes, disse apenas que “a determinação para mudanças no calendário escolar partiu do governo e não cabe a ele questionar os motivos”.
A Escola Classe 6, também no Cruzeiro, e o Jardim de Infância 303 Sul, no Plano Piloto, estavam fechados. A reportagem não encontrou sequer funcionários da limpeza ou segurança para comentar o assunto.
A secretária de uma das instituições de ensino, que preferiu não se identificar, alegou, no entanto, que tanto pais  quanto docentes  sabem que o real motivo para a postergação no calendário escolar é outro: “Estamos sem receber, por isso você encontrou escolas fechadas e também por isso o início das aulas foi adiado”.
(Do Jornal de Brasília)