Marlene Nascimento, presente!
Mulher negra, artesã e militante contra o racismo e em defesa dos direitos humanos, Marlene Nascimento se despediu de familiares e amigos nessa terça-feira (3/12), aos 74 anos. Ela deixa saudades, mas sobretudo lições de luta e sabedoria.
Marlene sempre foi resistência. Nascida em São Paulo, em uma família com grandes dificuldades financeiras, veio para Brasília já crescida, trazendo na bagagem os conhecimentos da militância no Movimento Negro de Mulheres.
Aqui, fundou o Movimento de Mulheres Negras Empreendedoras. E, como artesã, Marlene Nascimento expunha em suas peças de cerâmica e acessórios de beleza a preservação da cultura negra, uma forma de reconhecer o protagonismo do povo preto na história, dando voz e visibilidade para negras e negros.
Nos últimos anos, morou em Olhos D’agua, vilarejo de Goiás, que reúne artesãos de todas as partes do Brasil. Lá, fez amizades para a vida e inspirou muita gente a se manter firme diante as adversidades.
“Apesar de todo o sofrimento da pessoa negra neste país, Marlene tinha a sabedoria de conviver e de fazer das dificuldades a luta. Ela trazia para nós uma serenidade única. A indignação, ela mostrava na militância, na atuação, na troca”, afirma a professora aposentada Iolanda Rocha, ex-diretora do Sinpro-DF, que conviveu com Marlene e deixou eternizada sua admiração em um poema (veja abaixo).
“Que este momento seja de reconhecimento pela sua altivez, coragem, enfrentamento ao racismo, ao machismo, ao sexismo. Este é o exemplo que ela nos deixa”, traduz a integrante do Movimento Negro Unificado Jacira da Silva.
O Sinpro lamenta a perda de Marlene Nascimento, mas reconhece e enaltece sua contribuição social enquanto pessoa política. Nos solidarizamos com familiares e amigos, e desejamos que a saudade impulsione todas e todos que aprenderam com Marlene a compartilharem seus ensinamentos.
*O velório de Marlene Nascimento será realizado nesta quinta-feira (5/12), a partir das 11h, no salão da prefeitura de Olhos D’água. O sepultamento será no cemitério da cidade.
RAINHA MARLENE
Por Iolanda Rocha
Marlene, Rainha, teu nome ecoa,
Nos ventos que vêm das terras distantes.
Coroa de ouro, mas é a pele que brilha,
Cintilando a força de todas as gigantes.
Nos teus passos, a história caminha,
Pés firmes no chão de quem sempre lutou.
Filha de Dandara, irmã de Marielle,
Ancestrais que o tempo jamais apagou.
És rainha de trono invisível,
Feito de sonhos, raízes, e fé.
Cada fio de cabelo um rio de memória,
Cada sorriso, um templo de Axé.
Carregas nos ombros mil vozes caladas,
Mulheres que o mundo tentou silenciar,
Mas tua presença é resistência,
E o teu olhar, um novo despertar.
Na dança do tempo, teu nome persiste,
Marlene, a negra que os Olhos do mundo,
A ver como musa, a ver como guia,
Rainha ancestral que jamais se desvia.
Levanta teu cetro, ergue a bandeira,
De pele escura e alma inteira,
E lembra ao mundo, com força e coragem,
Que as rainhas negras escrevem a viagem.
Que a tua existência seja sempre a vitória,
Gravada em cantos, guardada em memória,
Porque, Marlene, és a continuação,
De um legado imenso, de uma revolução.
Das mulheres pretas para Marlene Nascimento, nossa musa ancestral
04/12/2024 – Dia de Iansã. Dia de Santa Bárbara.