Marcha das Margaridas comemora 20 anos com grande ato virtual nesta quarta (12)

Há 20 anos, mulheres do campo, da cidade, das águas e das florestas de todo o Brasil marchavam pela primeira vez para denunciar a fome, a miséria e todos os tipos de violência. O movimento ganhou força, passou a ser realizado a cada quatro anos, e ficou conhecido como Marcha das Margaridas. De lá pra cá, foram muitas lutas, inúmeras mobilizações, mas também muitas conquistas.

E para comemorar os 20 anos da Marcha das Margaridas, nesta quarta-feira (12), será realizado um grande ato virtual, que contará com a participação de inúmeras entidades ─ entre elas, a CUT ─ partidos, movimentos sociais e outros. Na programação, além de falas diversas, haverá também muita música e apresentações culturais.

A atividade será transmitida pelo Facebook e pelo Youtube da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), e compartilhada pelas demais organizações que compõem a Marcha, a partir das 14h.

De acordo com a secretária de Mulheres da Contag, Mazé Morais, a comemoração da data vem sendo pensada desde o ano passado. Ela explica que uma série de atividades presenciais foram programadas para acontecer tanto no dia quanto antes da data comemorativa.

No entanto, com a pandemia do coronavírus, as agendas de formação, audiências públicas e outras precisaram ser repensadas e adequadas para o modo virtual.

Conquistas

Nesses 20 anos de mobilização, a Marcha das Margaridas rendeu direitos essenciais para as mulheres do campo, da floresta e das águas. Um dos destaques é a Campanha de documentação da trabalhadora rural. Implementada durante do governo Lula, o programa contou com unidades móveis em todos os estados e atendeu mais de um milhão de mulheres. Isso possibilitou que as trabalhadoras pudessem emitir a Titulação Conjunta Obrigatória de terra. Hoje, 70% dos títulos de terra emitidos têm a mulher como primeira titular.

Outro êxito fundamental para o fortalecimento da mulher foi na área da agricultura familiar, com a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Mulher). O programa garante que 30% dos recursos destinado para a área seja para o uso exclusivo da mulher.

No âmbito da saúde, destaca-se a implementação do Projeto de Formação de Multiplicadoras/es em Gênero, Saúde e Direitos Sexuais e Produtivos, que tem como objetivo articular, mobilizar e organizar a população do campo em torno dos direitos à saúde, em defesa dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e do fortalecimento do Controle Social.

Já na área da educação, as mulheres conseguiram a criação de uma coordenadoria no Ministério da Educação (MEC) voltada exclusivamente para a educação no campo. Além disso, foi criado também um grupo interinstitucional com a finalidade de elaborar e definir diretrizes da política nacional de educação infantil.

A mobilização fortaleceu ainda o enfrentamento à violência contra as mulheres do campo e da floresta. Além da criação de um Fórum Nacional para tratar do tema, o grupo conseguiu a entrega de 54 unidades móveis em áreas rurais para o atendimento às mulheres em situação de vulnerabilidade, incluindo unidades pluviais para a região amazônica.

Porém, Mazé destacou que tão importante quanto as conquistas concretas é o legado deixado pela Marcha na vida das milhares de mulheres que dela participam.

“É gratificante ouvir das mulheres que a marcha mudou suas vidas. Enquanto mulheres, conseguimos perceber que podemos ocupar outros espaços, além do que nos foi imposto historicamente”, disse.

Árduas lutas

Durante os 20 anos, lembra Mazé, inúmeras batalhas foram travadas por igualdade, autonomia e liberdade para as mulheres. Com a chegada da pandemia, a luta do grupo se fez ainda mais necessária, já que o isolamento escancarou as desigualdades econômica e de gênero. Paralelo ao isolamento, um governo ultraliberal e negligente em meio à maior crise sanitária dos últimos tempos torna o cenário ainda pior para as mulheres.

“Estamos vivendo um momento de crise global que tem afetado de forma mais drástica a vida das mulheres. A pandemia trouxe demandas que não tínhamos antes. Em poucas famílias os homens compreendem que as tarefas precisam ser compartilhadas. Isso causa sobrecarga de trabalho físico e psicológica. Por isso, a necessidade de mantermos uma luta contínua”, disse.

A Marcha

A Marcha das Margaridas é uma ampla ação das mulheres do campo, da cidade, da floresta e das águas por visibilidade, reconhecimento social, político e cidadania plena. O movimento foi construído a partir de um longo processo formativo, por meio de debates e ações políticas, desenvolvidos pelas mulheres em seus espaços, até chegar à capital do país, onde ocorre o movimento.

O nome da ação remete à líder sindical Margarida Alves. Nascida em Alagoa Grande, município da Paraíba, a filha de trabalhadores rurais expulsos da terra onde moravam e trabalhavam se tornou a primeira mulher do estado a presidir um sindicato e uma das principais lideranças sindicais do campo do mundo. Era Margarida Alves que coordenava os trabalhos do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, onde moveu mais de 70 ações contra usinas de cana de açúcar da região.

A ação é coordenada pela Contag, e construída em parceria com movimentos feministas e de mulheres trabalhadoras, centrais sindicais e outras organizações.

Fonte: CUT-DF