Mais dois colégios querem trocar nomes de presidentes militares na Bahia
Pouco mais de um mês após o nome do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médicimudar para Carlos Marighella, mais duas instituições de ensino da rede estadual, em Salvador, iniciam procedimentos para a também substituição das denominações referentes a presidentes do regime militar no Brasil.
No bairro de Periperi, no subúrbio ferroviário, um projeto elaborado pelos professores de Ciências Humanas do Colégio Estadual Humberto Alencar Castelo Branco propõe que a unidade passe a ser chamada de “Madiba Nelson Mandela”. O plebiscito que pode definir a mudança será realizado no dia 30 de abril, a partir da votação de alunos, ex-alunos, professores, funcionários e moradores da comunidade.
Já no bairro da Ribeira, na região da Cidade Baixa, a direção do Colégio Estadual Presidente Costa e Silva planeja esquematizar um projeto solicitando ao Estado a mudança da atual nome da escola. Dentre as opções levantadas pela direção, estão Santa Bernadette, como era chamado um covento que existia no local antes da criação da escola, além da beata Irmã Dulce e do pedagogo Paulo Freire.
Castelo Branco
De acordo com Olívia Costa, diretora da unidade atualmente chamada de Colégio Estadual Humberto Alencar Castelo Branco, a ideia de mudança é antiga. Desde 28 de abril de 2011, quando foi convidada a assumir a direção da escola, ela conta que foi desafiada a mudar a imagem da instituição, “até então conhecida nas páginas policiais como o espaço da violência, do sexo explícito e do consumo de drogas”, diz.
Olívia conta que logo sugeriu uma mudança completa na unidade – desde a aparência estrutural até o nome da escola. Devido à ausência de um projeto definido e de maior consistência, a diretora conta que a ideia foi rejeitada pelos demais professores. No ano passado, entretanto, a diretora destaca que a unidade abraçou a questão.
Durante um evento de homenagem ao Dia do Samba, comemorado no dia 2 de dezembro, mas celebrado pela unidade, na ocasião, em 6 de dezembro, Olívia detalha que os alunos sinalizaram o desejo pela troca do nome. Em meio às comemorações, diz que os professores pediram um minuto de silêncio aos estudantes em saudação ao líder sul-africano Nelson Mandela, que havia morrido no dia anterior.
“Eles, realmente, atenderam ao minuto de silêncio. Ninguém precisou pedir que ficassem quietos, que parassem de conversar. Nada disso. Foi muito lindo. Depois, aproveitei o momento e sugeri aos alunos que adotássemos o nome dele [Mandela] na instituição. Os alunos enlouqueceram. Me arrepio só de lembrar”, ressalta.
Três dias depois, Olívia disse que apresentou a proposta ao colegiado e, em seguida, procurou a Secretaria de Educação de Estado (SEC), que disse que a unidade tinha autonomia para sugerir e realizar um plebiscito solicitando a mudança de denominação.
Deste modo, um debate geral, que deve contar para os alunos a história do presidente do regime militar no Brasil, Castelo Branco, como também a do líder sul-africano Nelson Mandela, está marcado para o dia 15 de abril. Quinze dias depois, a comunidade escolar e moradores do bairro irão opinar, por meio de votação, se concordam com a mudança.
A professora de história da instituição, Luci Vieira, disse que, até o momento, nenhuma outra opção foi proposta. Deste modo, o nome de Nelson Mandela segue sozinho para votação que deve decidir a aprovação ou desaprovação da possível alteração.
“Os alunos vibraram com o nome de Mandela. No dia em que a proposta foi feita, eles aplaudiram de pé. Durante um trabalho sobre lideranças negras, os estudantes destacaram um título marcante: Mandela – Um Heroi, Um Mito. De fato, ele foi mais do que um líder sul-africano. É um ser humano que promoveu a paz por meio do diálogo”, ressaltou.
O professor de geografia, Marcos Leal, concorda com a mudança. “Os alunos se reconheceram, se identificaram com a proposta”, avaliou o docente ao destacar que a maioria dos estudantes da unidade mora na periferia e é afrodescendente.
O Colégio Estadual Humberto Alencar Castelo Branco tem cerca de 1.740 alunos entre a quinta série e o terceiro ano. Caso a votação do plebiscito decida pela troca do nome, a decisão deve ser publicada no Diário Oficial em até dois meses, diz a direção.
Ribeira
Já Jener Freire, diretor do Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, na Ribeira, Jener Freire, disse que aguarda o término da reforma da escola para começar a ouvir a opinião de alunos e professores sobre a possível mudança. “Até o final do mês a gente deve fazer uma consulta das sugestões da comunidade. Ainda estamos em fase de colocar a proposta. Queremos algum nome que contemple a comunidade”, relatou.
Santa Bernadette, Irmã Dulce e Paulo Freire estão na disputa. “É claro que a gente não pode dizer que vai tirar o nome. Vamos saber quais os opções sugeridas. O próprio nome de Costa e Silva pode permanecer, se for desejo da comunidade”, considerou. Independentemente da escolha, o diretor afirma que este é um momento oportuno para se pensar na mudança.
“O golpe militar, aos poucos, precisa ser, se não apagado, amenizado na história. Eu acho que esse um bom momento, embora a escola tenha pensado nisso há muito tempo. É um processo muito mais complexo, mas a partir da mudança que houve no [colégio] Garrastazu Médici, percebeu-se que é possível. Também vamos aproveitar essa data, que marca os 50 anos do golpe militar”, comenta.
(Do G1)