Jornal responsabiliza funcionalismo por suposta recessão na economia

Artigo publicado no Jornal de Brasília desta segunda-feira (14/11) conclui que aumentos salariais para servidores favorecem a concentração de renda.
De acordo com o articulista, “em Brasília, a política de aumentar a remuneração de servidores públicos sem levar em conta o cenário financeiro, as disponibilidades orçamentárias e a realidade dos  serviços prestados à população – deficientes em quantidade e qualidade – é praticada há muitos anos, mas ganhou força no governo de Agnelo Queiroz, do PT. É assim que se chegou ao quadro atual, em que 77% das receitas do governo de Brasília são destinadas a remunerar 7% da população — os servidores públicos”.
Não é bem assim.
Falar em Distrito Federal e em funcionalismo público é falar de uma realidade bem distinta da de outras unidades da Federação. Por ser o DF um ente federado administrativo, a renda do servidor público se torna uma mola que impulsiona a economia local, principalmente comércio e serviços, vez que ainda não há uma vocação estabelecida para a indústria, por exemplo. Em outras palavras, parte da grande renda que circula pela cidade (e a faz se movimentar economicamente) é fruto do funcionalismo público. O mesmo funcionalismo que o jornal tenta a todo custo desqualificar.
Como se não bastasse, o articulista faz uma defesa “indefensável” do governo Rollemberg, quando afirma que “não é hora de reivindicar nem de conceder”. O texto destaca que “a realidade é que os funcionários do governo de Brasília, inclusive os relativamente mal remunerados professores, têm salários superiores aos de servidores dos 26 estados – salvo poucas exceções – e muito acima do que pagam as empresas privadas na maioria das carreiras. Em um momento de crise financeira e recessão na economia, não tem sentido esses servidores reivindicarem aumentos e, muito menos, o governo concedê-los”.
Essa conversa os professores vêm ouvindo há dois anos. E se pegarmos por base o salário do magistério local, aí é que a conclusão do articulista fica sem pé nem cabeça.
A própria Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem dito aos quatro cantos do planeta que o salário do magistério nacional está aquém do desejado, ou seja, nos países de primeiro mundo o salário dessa categoria é bem maior.
Para o diretor de Imprensa do Sinpro, Cláudio Antunes, “é uma vergonha uma matéria abordar o tema concentração de renda e incluir os professores por essa perspectiva. Em qualquer lugar, a folha de pagamento de uma secretaria de Educação é mais robusta. E tem que ser. Aqui no Brasil, proporcionalmente falando, ela é menor do que deveria ser, justamente porque há uma desvalorização salarial do magistério e existe uma superlotação de salas de aula. Ou seja, o numero de professores em relação ao de estudantes se reflete negativamente nas condições de trabalho e na qualidade do ensino ofertado. Superlotam para economizar”.
É importante ressaltar que, nos últimos anos, o país usou a política de valorização do salário mínimo, em que entram componentes como a inflação e o PIB – que representa a riqueza acumulada do país – para fazer a recuperação salarial. Essa atitude foi responsável por fazer com que cerca de 40 milhões de brasileiros deixassem a extrema pobreza, coisa que muitos atribuem apenas ao Bolsa Família – programa que sem dúvida faz a diferença.
Ainda de acordo com Cláudio Antunes, “as ações governamentais não se limitaram a isso, pois o foco era valorizar os salários dos trabalhadores como um todo. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) comprovam que houve crescimento e desconcentração da renda nos últimos anos. O que está em curso agora no GDF é uma concentração de prioridades equivocadas, pois a Educação não é, e nem nunca foi, prioridade para o governo Rollemberg. Prova disso são os constantes calotes, a busca de retirada de direitos dos trabalhadores – mesmo em áreas como a da Educação”.