ISOLAMENTO SOCIAL IMPULSIONA REFLEXÕES E POESIAS

Com a chegada repentina da pandemia para todo o mundo, o isolamento social passou a ser regra  dentro dos lares e bairros, afetando a rotina e comportamento dos mais velhos aos mais novos, abrindo espaço para perguntas e diversos questionamentos. 

Para o professor Alexandre Baena dos Santos de 47 anos, não foi diferente. Com olhar atento para o momento, o professor se deparou com algumas perguntas que contribuíram para o desenvolvimento de uma poesia rica e reflexiva. O que temos como infância, afinal? Crianças  com casa, comida e internet e consequentemente com acesso à escola,  temos crianças na rua, com fome, pedindo esmola e  sequer tem  um lar.  O advento da plataforma digital veio  também escancarar esse abismo  social.  Onde os pais também  reclamam de não  terem “onde deixar ” seus filhos. O depósito escola.   Perguntas como essas, abriram para Alexandre, o caminho poético,  que resultou em uma bela obra intitulada “Onde estão nossas crianças?”

Leia abaixo: 

Onde estão nossas crianças?

Onde está essa infância?

Adormecidas embaixo de uma ponte?

Maquiadas precocemente em redes sociais?

 

Onde estão nossas crianças?

Trabalhando quando deviam brincar?

Esmolando para família ajudar?

Ou apenas chorando sem ninguém pra consolar?

 

Onde estão nossas crianças?

Passando  fome em algum lugar?

Olhando vitrines até o segurança expulsar?

Ou olhando os irmãos até a mãe retornar?

 

Onde estão nossas crianças?

Sozinhas, abandonadas 

Esquecidas, violentadas 

Tristonhas e humilhadas. 

 

Onde estão nossas crianças?

Sem alimento pra fome saciar 

Sem brinquedos para apenas brincar 

Sem internet para a escola acessar. 

 

Onde estão nossas crianças?

Sujas, sem banho pra tomar 

Revirando o lixo para o alimento encontrar

Na rua, com frio, entregue a sorte ou azar. 

 

Onde estão nossas crianças?

Que futuro podem esperar?

Sonhos, pesadelos, um lar?

Viver, sobreviver e lutar?

 

Onde estão nossas crianças?

Pés descalços, barrigas vazias 

Fome e  dor todos os dias 

Sem ilusões ou fantasias. 

 

Onde estão nossas crianças?

Bebendo água podre pra hidratar 

Os corpos que a vida insiste em judiar 

Quando deveriam  sorrir, viver e sonhar. 

 

Onde estão nossas crianças?

Pandemia adentro sofrendo 

Sem nenhum isolamento 

Onde o barraco é o único compartimento. 

 

Onde estão nossas crianças?

Se escondendo da bala perdida 

Sentindo a infância sofrida 

Vendendo o corpo por comida. 

 

Onde estão nossas crianças?

Caladas, espancadas 

Infelizes e assustadas 

Por quem as deviam proteger, violadas. 

 

E a vida segue cega 

Presente algum a ofertar

Dureza rotineira 

Que o cotidiano insiste lembrar. 

 

Onde foi que erramos?

O que não  fizemos?

O que fizemos dos sonhos e das esperanças?

Onde estão nossas crianças? 

 

      Alexandre Baena.