Indicação de Vélez é institucionalização da mordaça para a Educação
O presidente eleito Jair Messias Bolsonaro (PSL) anunciou, recentemente, que Ricardo Vélez Rodriguez assumirá o comando do Ministério da Educação (MEC) em 2019. Vélez é o 13° nome confirmado na equipe de ministros do governo Bolsonaro, sendo que cinco deles são ou foram alvos de investigação.
“Gostaria de comunicar a todos a indicação de Ricardo Vélez Rodriguez, filósofo autor de mais de 30 obras, atualmente professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, para o cargo de Ministro da Educação”, escreveu Bolsonaro em uma rede social.
Ricardo Vélez Rodriguez é colombiano, naturalizado brasileiro, conservador declarado. Nome pouco conhecido na comunidade educacional, ele mantém um blog pessoal em que publicou que sua indicação à pasta foi feita pelo jornalista Olavo de Carvalho, outro defensor assíduo do conservadorismo. O boato de sua nomeação também vinha sendo defendido em diversas páginas de direita. Além de sinalizar apoio a várias das bandeiras defendidas pelo próximo governo, como, a expansão de escolas militares no país entre outras.
Coincidentemente, sua indicação ocorreu apenas um dia após especulações de que a bancada fundamentalista foi responsável por vetar a sugestão do educador Mozart Neves, diretor do Instituto Ayrton Senna para o cargo. Neves é contrário ao Projeto de Lei (PL) 7180/14 (Escola sem Partido), a nefasta Lei da Mordaça. Enquanto que Ricardo Vélez é crítico ao Enem e simpatizante do projeto que tenta instalar a censura dentro das escolas, outra bandeira amplamente apoiada por Bolsonaro.
Em 2017, Vélez publicou um artigo defendendo a proposta.“Escola sem partido. Esta é uma providência fundamental. O mundo de hoje está submetido, todos sabemos, à tentação totalitária, decorrente de o Estado ocupar todos os espaços, o que tornaria praticamente impossível o exercício da liberdade por parte dos indivíduos”, escreveu.
Sobre o futuro da educação, Veléz afirma que “os brasileiros estão reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de ‘revolução cultural’”.
Segundo ele, o modelo de educação atual está destinado a desmontar valores tradicionais da sociedade. Veléz segue a linha da bancada fundamentalista e suas declarações sinalizam que ele se contrapõe a um modelo educacional progressista, que englobe alunos e alunas de forma plural, com respeito às diferenças, inclusive, nas questões de gênero.
Outro ponto preocupante do perfil é o apoio a ditadura militar. Ele escreveu em seu blog que o golpe militar de 31 de março de 1964 “é uma data para lembrar e comemorar”, afirmando que a tomada do poder pelos militares foi essencial para a abertura democrática do Brasil.
Frente a um governo que já se colocou contrário à diversas pautas da educação, ter no comando do MEC alguém que se posiciona da mesma maneira é mais uma ameaça e um ataque proposital ao magistério.
Para o Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), o que se pode esperar, a partir das declarações e posicionamentos do indicado, é que teremos uma gestão de retrocessos. Um perfil conservador que em nada dialoga com a educação que queremos, significa que teremos muita luta pela frente.
O Brasil experimentou uma realidade educacional inclusiva, que trouxe resultados positivos por mais de uma década. Isso nos faz crer que, no próximo período, a população não se contentará com projetos que reduzam as oportunidades e contribuam para o empobrecimento intelectual
Precisamos de uma educação ampla, que respeite a liberdade de cátedra dos professores(as) e orientadores(as) educacionais, que incentive a pluralidade de ideias dentro das escolas, bem como o respeitos às diferenças de cada indivíduo. E, principalmente, que não defenda como algo positivo, um período sombrio da história do país, que matou e torturou inocentes.
A educação é o pilar de uma sociedade e é através da valorização da educação e do magistério que poderemos avançar e alcançar melhorias para todos brasileiros e brasileiras. Sem dúvida, a indicação de Ricardo Vélez Rodriguez representa retrocessos imensuráveis. Com ele, a instauração da censura, a criminalização e perseguição de professores e professoras, bem como o desmonte da educação são riscos eminentes