Governo Rollemberg persegue, tortura e prende manifestantes

O governo Rodrigo Rollemberg (PSB) reprimiu violentamente, nessa terça-feira (13), manifestação popular contra a votação, no Senado Federal, da Proposta de Emenda à Constitucional nº 55 (PEC 55), de 2016, que congela por 20 anos investimentos de dinheiro público nos serviços públicos.
Autorizou todo tipo de repressão, tortura e prisão de manifestantes. Mais de 100 pessoas foram presas e não se tem a conta das tantas outras que ficaram feridas. “Somente na época áurea da ditadura militar se viu perseguições e ação tão violenta da polícia na Esplanada”, comenta Vilmara Carmo, diretora do Sinpro-DF.
Ela conta que a agressividade dos policiais começou desde a abordagem às pessoas que tentavam ultrapassar as barreiras posicionadas na altura da Catedral, as quais tinham o objetivo de impedir a passagem dos manifestantes para o gramado em frente à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal. Eles revistavam bolsas, mochilas, roupas de forma autoritária e indiscriminadamente.
“Não se conseguia ter acesso ao gramado do Congresso Nacional, o qual foi planejado, no projeto de construção de Brasília, justamente para abrigar grandes manifestações populares. Uma barricada da polícia situada na altura da Catedral impedia o livre acesso à Casa do Povo”, conta Vilmara . Ela lembra que a ação da polícia foi semelhante à do dia 29 de novembro, durante a votação de primeiro turno da PEC 55.
A polícia fechou a área e, num determinado momento, começou a empurrar os manifestantes na direção da Rodoviária e, ao aproximar-se da Rodoviária, intensificou a agressão, jogando bombas de efeito moral, como gás lacrimogêneo e gás de pimenta. E daí iniciou uma perseguição, com pancadaria, porrada com cassetete, torturas e prisão de pessoas. Em reação a isso, um grupo ateou fogo em um ônibus.
“A região da Rodoviária parecia um cenário de guerra. Eu e um amigo fugimos na direção da Asa Norte. Mas, na SQN 103, uma viatura da polícia nos abordou. Desceram vários policiais que mandaram a gente se deitar no chão com as mãos na cabeça. Embora estivéssemos imobilizados e no chão, bateram na gente com cassetete e jogaram gás de pimenta. Introduziram cassetete no nosso ânus e nos puseram dentro do camburão. Mesmo com a gente passando mal, rodaram conosco pela cidade durante horas e somente depois disso nos largaram na DPE, por volta das 20h. Saímos de lá às 2h da madrugada desta quarta-feira”, relata o Jorge, professor da rede pública de ensino do DF.
Ele diz que o amigo passou muito mal em consequência do gás de pimenta, mas os policiais riam, o humilhavam e diziam que ele estava fingindo. Enquanto isso, em outra região da Asa Norte, na altura da SQN 303, um grupo de estudantes de fora de Brasília, que já estava a caminho da Universidade de Brasília (UnB), local em que estava acampado, foi duramente perseguido e submetido a uma sessão de tortura.
O grupo foi obrigado a ficar sentado no gramado enquanto os policiais falavam coisas horríveis, dentre elas, vários tipos de ameaças. Pessoas da população que viram a cena e protestaram foram agredidas com gás de pimenta. Em seguida, o grupo foi levado para o Departamento de Polícia Especializada (DEP), no Parque da Cidade, e só saiu de lá às 6h desta quarta-feira (14), após intervenção dos Advogados Populares, que impediram a polícia de enquadrar mais de 100 pessoas presas arbitrariamente na Lei de Segurança Nacional porque se manifestaram contra a aprovação de leis antipopulares e nocivas ao país.
Em outra região da cidade, a polícia massacrou um homem que protestou contra a prisão de uma criança de 11 anos, a qual estava junto com os manifestantes. “Ele foi buscar a mulher dele, uma professora, e presenciou a cena. Viu policiais mandarem todo mundo se encostar à parede e, entre elas, havia essa criança de 11 anos. Quando ele perguntou ao policial por que estava fazendo aquilo, o PM já se voltou contra ele, deu-lhe uma gravata e este homem, que nem sequer participou de manifestações, também foi detido porque questionar o abuso de autoridade”, conta Vilmara.
O fato é que Brasília reviveu cenas de um período de terrorismo de Estado vistas, na Esplanada, durante a ditadura militar. Muitas prisões arbitrárias. Muitos estudantes que deveriam ter voltado para seus estados na noite de terça, não retornaram para casa. Estavam detidos, presos, longe de seus parentes. Só não ficaram desamparados por causa da assistência dos Advogados Populares, a qual é muito importante nesse sentido porque assegurou o direito de defesa a essas pessoas e a libertação delas.
Contudo, um menino, menor de idade, ficou detido, acusado de supostamente ter jogado pedra durante o protesto. Acompanhado de uma das advogadas populares, ele foi a julgamento na tarde desta quarta-feira (14). “A gente está vivendo de fato num regime de exceção no qual a livre manifestação não está sendo assegurada. A gente não tem mais o direito de se manifestar e nem de registrar a manifestação”, afirma a diretora.
Ela vê na ação policial a reação autoritária e antidemocrática do governo Rollemberg. “Qualquer manifestação, este governo põe polícia para agir arbitrariamente, violentamente, sem a garantia de nossos direitos individuais. Estamos vivendo uma situação delicada, complexa e que temos de estar a todo o tempo lembrando quais são os nossos direitos e denunciando essas arbitrariedades para que esse tipo de ação não se repita”, alerta.
Vilmara diz que, “infelizmente, leis como esta que foi aprovada nessa terça virão por aí. Até piores, como a da reforma da Previdência e a trabalhista, que são maléficas para a sociedade e para o Brasil, e a gente não pode ficar assistindo pela TV. A gente vai se manifestar. A gente está aqui para dizer que este país é uma democracia e esta democracia é uma conquista que a gente tem de estar o tempo todo lutando para mantê-la”, finaliza.
Confira imagens do cenário (Fotos da CUT Brasília):