Educação empreendedora na infância e na adolescência?

Por Gina Vieira Ponte de Albuquerque (*)

 

Mais uma vez me perguntaram o que eu acho da Educação Empreendedora na Educação Básica. Eu respondo sempre com outras perguntas: “E o que você entende por Educação Empreendedora? Como você concebe educação na infância e adolescência? De que concepção de Educação você está partindo quando propõe que, na infância, se ensine Educação Empreendedora?”

Preocupa-me muito ver que o Currículo da Educação Básica, que é um campo de disputa permanente, venha perdendo espaço da educação integral, lúdica, criativa, crítica, inclusiva e socialmente referenciada, e esteja dando espaço para formar o sujeito empreendedor e não o sujeito ambiental, o sujeito consumidor e não o sujeito cidadão.

Lutamos tanto contra o trabalho infantil e agora ensinamos desde cedo noções enviesadas da relação com o trabalho: “Para que ser empregado se você pode ser patrão?” Este tipo de discurso é sobre formar patrões ou sobre formar sujeitos que acreditam que são patrões e, por isso, podem abrir mão de direitos trabalhistas e condições dignas de trabalho e, acreditando que são patrões praticam o empreendedorismo de sobrevivência porque não têm outra alternativa?

A Educação Empreendedora inclui uma reflexão crítica sobre os modos de produção capitalista, ou se ocupa apenas de reforçá-los como única possibilidade de organização social? A Educação Empreendedora na Educação Básica sobre a qual se fala é para ensinar a empreender ou sobre submeter crianças e adolescentes a discursos que naturalizam a uberização, condições precárias de trabalho e subempregos disfarçados de “empreendedorismo”?

A Educação Empreendedora na Educação Básica é honesta o suficiente para provocar os estudantes a pensarem sobre os efeitos dos modos de produção capitalista no meio ambiente e o seu impacto nas questões climáticas? Investimos em Educação Ambiental, Educação em e para os Direitos Humanos, tanto quanto temos investido em Educação Empreendedora? Um dos papeis mais importantes da educação é formar as novas gerações não apenas para se adaptar ao mundo que existe, mas para contestá-lo e transformá-lo para melhor. A Educação Empreendedora de que se fala, se ocupa disso?

(*) Gina Vieira Ponte de Albuquerque é professora da rede pública de ensino do Distrito Federal