Genocídio de yanomamis e crise humanitária é o legado do governo Bolsonaro ao Brasil

Nesse fim de semana o presidente Lula e uma equipe interministerial foram a Boa Vista, capital de Roraima, para ver de perto o genocídio contra a população Yanomami executado durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Na chegada, a equipe constatou que não era somente o crime de genocídio, e sim uma crise humanitária.

A situação é tão grave que parece ter sido um projeto premeditado. Uma das muitas provas disso é uma nota técnica assinada, em 6 de julho de 2020, por Ezequiel Roque, ex-secretário adjunto da Igualdade Racial, secretaria subordinada à então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, na qual ela pede ao ex-presidente Jair Bolsonaro para não enviar aos indígenas, que padeciam pela pandemia da covid-19, leitos de UTI, água potável, materiais de limpeza e higiene pessoal, ventiladores pulmonares e materiais informativos sobre a doença”.

Segundo apuração do Brasil de Fato, essa nota técnica foi revelada na época pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), que o conseguiu via requerimento de informação. A ministra alegava que os povos indígenas não haviam sido “consultados pelo Congresso Nacional”. Além de abandonar as Terras Indígenas (TIs) nas mãos da grilagem por madeireiros, garimpo ilegal nacional e internacional, pecuaristas e agronegócio, o governo Bolsonaro abandonou os povos originários à própria sorte: simplesmente extinguiu a ação do Estado nessas áreas.

Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou essa nota. As denúncias mostram que, durante o governo anterior, as crianças Yanomamis passaram a morrer 13 vezes mais por causas evitáveis do que a média nacional. Os Yanomamis estão morrendo de pneumonia, malária, inanição, água contaminada, falta de alimentos, abandono das políticas públicas de saúde, insegurança alimentar, avanço do garimpo ilegal e todo tipo de misérias resultantes do abandono do Estado nacional. Só em 2022, foram confirmados 11.530 casos de malária no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami, distribuídos entre 37 Polos Base. As faixas etárias mais afetadas estão entre pessoas maiores de 50 anos, seguida pela faixa etária de 18 a 49 e de 5 a 11 anos.

O site Sumaúma obteve com exclusividade dados que mostram que, “durante o governo do extremista de direita Jair Bolsonaro, o número de mortes de crianças com menos de 5 anos por causas evitáveis aumentou 29% no território Yanomami: 570 pequenos indígenas morreram nos últimos 4 anos por doenças que têm tratamento”, informa. E lembra que é preciso contar também com o apagão estatístico sobre as TIs promovido nesses últimos 4 anos de governo extrema direita, o aprofundou a crise humanitária e, por isso, é bem provável que a realidade seja ainda mais aterradora.

Nas redes sociais, a população pede punição dos culpados e mandam recados como o que remete à acusação de fraude eleitoral em 2022: “entendeu agora porque as urnas com 100% dos votos para Lula eram de aldeias indígenas? Não era fraude. Era um pedido de socorro!”

 

Visita de Lula

Em postagem nas redes digitais, a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) diz que “foi preciso que Lula, um presidente da República humano, sério e ciente de seus deveres, visitasse um hospital indígena de Roraima para que viesse à luz em todo o seu horror a catástrofe humanitária a que estão sendo submetidos os Yanomami”.

Nesse fim de semana, após ida a Roriama, o governo Lula decretou estado de Emergência em Saúde de Importância Nacional (Espin) no território. Uma comissão interministerial, que esteve no local juntamente com o presidente Lula, começou a agir. Na manhã desta segunda-feira (23), Lula exonerou 10 pessoas do comando da saúde indígena do Ministério da Saúde. As demissões foram publicadas no Diário Oficial da União (DOU).

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, determinou abertura de inquérito policial para apurar o crime de genocídio e crimes ambientais na Terra Indígena Yanomami. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, pediu, nesse domingo (22/1), “apuração das responsabilidades” sobre a situação de crise humanitária e sanitária do povo Yanomami.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que o governo Bolsonaro foi “omisso” em relação à saúde aos yanomami e profissionais da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) começam a chegar nesta segunda-feira (23) a Roraima. O governo Federal também anunciou, no sábado (21), a transferência do Hospital de Campanha da Aeronáutica do Rio de Janeiro para Roraima para atender os yanomamis.

Nesse sábado (21/1), o governo federal determinou que um grupo de trabalho envolvendo diversos ministérios comece a atuar para conter a tragédia humanitária que atinge indígenas Yanomamis. Segundo apuração do jornal Brasil de Fato, “nos últimos anos, as comunidades vêm sofrendo com a presença do garimpo ilegal, falta de comida, contaminação da água e o descaso ao longo da gestão Bolsonaro. Publicado em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), o decreto institui 90 dias para os trabalhos da chamada Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das Populações em Território Yanomami”, informa.

O Sinpro reafirma seu compromisso com a classe trabalhadora e ressalta que sempre defendeu o direito à vida e se solidariza com todos os povos. Para a diretoria colegiada, é importante todas as categorias profissionais se mobilizarem em favor da vida e não deixar os povos originários abandonados. “Nosso compromisso é com o nosso povo brasileiro, com a classe trabalhadora, os povos originários e com o povo Yanomami”, finaliza.

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