Estudantes mantêm ocupações de escolas contra reorganização de Alckmin

Representantes de 50 escolas paulistas ocupadas e de algumas escolas não ocupadas se reuniram na noite de ontem (24) na sede das entidades estudantis na Vila Mariana, na capital, para trocar experiências e planejar estratégias e passos para a movimentação dos secundaristas contra a reorganização proposta pelo governador Geraldo Alckmin.
Os estudantes aderiram a um manifesto que exige a revogação imediata da reorganização, que não admite nenhuma escola fechada ou dividida, demissão de funcionários ou professores bem como nenhuma perseguição à comunidade escolar.
O texto será debatido esta semana nas diversas assembleias que acontecerão nas escolas ocupadas. Depois disso, os estudantes voltarão a se reunir no domingo (29), às 14h, na Praça Roosevelt, em uma grande assembleia livre para a propor a assinatura de documento comum que servirá como pauta para pressionar o governo do Estado.
O encontro na sede das entidades estudantis, na região central da cidade de São Paulo, reuniu mais de 100 estudantes de diferentes regiões do estado. Eles compartilharam informações e atualizações sobre como está o movimento em cada instituição de ensino.
Alunos de escolas ocupadas há mais de uma semana puderam contribuir com estudantes que vão passar hoje pela primeira noite de ocupação.
Como Stephanie Mirely, do 3º ano da escola Professor Alberto Conte, da zona zul da capital. “Eu vim buscar ajuda aqui, lá está um pouco complicado ainda, porque é nosso primeiro dia de ocupação. Eu vim buscar informação, porque estou meio desesperada, não sei nem onde vamos dormir hoje, acho que essa noite vamos dormir num papelão”, contou.
Já Thais Caroline Rocha, do 2º ano da escola Dr. Heitor Penteado, de Americana, a 130 quilômetros de São Paulo, disse que a realidade de uma ocupação ainda está longe da sua instituição de ensino, que pelos planos do governador Geraldo Alckmin (PSDB) deixará de oferecer o ensino fundamental a partir do ano que vem. Mesmo assim, ela veio em busca de força para iniciar uma resistência.
Thais afirma que os estudantes da sua escola temem pelo emprego dos professores que não são efetivos, já que a instituição sofre com falta de docentes. “Também nos preocupamos com a superlotação, porque a nossa escola é muito central, e devem ser transferidos para lá muitos alunos”, ressaltou.
Estudantes X direção de escolas
Na escola Plínio Negrão, em Santo Amaro, que foi ocupada na segunda-feira (23), a polícia foi chamada quando os estudantes começaram a definir a ocupação. Para Rinaldo Silva, aluno do 2º ano, não há possibilidades de o movimento recuar agora. “A minha escola não vai ser fechada, mas a tal da reorganização afeta a todos. As ocupações são manifestações em defesa da educação de qualidade, contra a política do estado de São Paulo”.
Também da zona sul da capital, as estudantes Barbara Nicole, Jéssica Figueiredo e Ana Beatriz Cartola, todas da escola Miguel Maluhy, no Campo Limpo, já ocupada desde o dia 13, relataram que a diretoria ameaça de expulsão os alunos que estão se manifestando, porém a ocupação, conta com mais de 60 alunos segue resistindo.
“A direção fica sabendo quais são os alunos mobilizados por meio dos professores que são contra a manifestação e diz preparar uma punição. A nossa mobilização não tem data para acabar e estamos seguindo com doações da comunidade que nos apoia”, conta.
Já Ana Letícia Esteves Rodrigues, aluna do 3º ano da Major José Mariotto, em São José dos Campos, a 90 km de São Paulo, decidiu apoiar os protestos em outra instituição, a Major Miguel Naked, após sua escola ter vencido uma ação judicial que impedirá seu fechamento dentro do projeto de reestruturação.
Ela contou que, durante a mobilização para a ação na Naked, a primeira escola da cidade a anunciar ocupação (dia 18), a diretora trancou a cozinha, as quadras e outras dependências da escola. Professores que apoiaram o movimento liberaram a senha do Wi–fi para facilitar a mobilização os alunos, porém logo a ação sofreu boicote. “A diretora mandou desligar o sinal da escola e ainda registra boletins de ocorrência diariamente”, disse Ana.
A estudante denunciou que, na Mariotto, três alunas boicotaram a prova do Saresp, ontem (24). Ela escreveram em todo o gabarito manifestações contra o governo de São Paulo e, por isso, foram chamadas à direção e ameaçadas de expulsão.
Assessoria jurídica
O que é reintegração de posse? Posso ser preso? Podemos filmar abordagem truculenta da Polícia Militar? Professores e diretores podem sofrer processos administrativos se ajudarem alguma ocupação? Posso ser penalizado se boicotar o Saresp?
Essas e muitas questões foram a preocupação de grande parte dos jovens.
“Sabemos bem, como temos sido recebidos nas escolas. A PM nos aborda com fuzil na cabeça”, ressaltou a presidenta da UBES, Camila Lanes.
Os estudantes relatam a cobertura ostensiva na polícia na porta das unidades e que na maioria das vezes são acionados pela própria diretoria que também é violenta na pressão sobre os alunos.
O advogado da UNE e da UBES, Victor Grampa, estava presente na assembleia e ajudou os estudantes a esclarecer alguns pontos. Ele foi taxativo: “Uma escola ocupada não pode ser invadida pela PM. Nem o governador pode exigir isso por contra própria. Eles precisam de um mandato de reintegração de posse.”
Na cidade de São Paulo, o Tribunal de Justiça decidiu que as ocupações são legítimas e que as escolas são bens do povo e o povo está se manifestando por esse bem.
“Na capital nenhuma escola pode ser reintegrada. Isso significa que se a polícia invadir contra a ordem da Justiça ela pode punir esse comando”, afirmou.
Grampa esclareceu para diversos estudantes de outros municípios paulistas que a medida pode ajudar a impedir reintegrações no Estado todo.
A “nova escola”
Entre as ocupações surge um movimento que revela um desejo dos estudantes: um novo ensino, com diferentes atividades, que leve em consideração a vivência dos alunos e lhes dê protagonismo.
Sob a forma colaborativa de oferecer aulas, professores e voluntários comparecem nas unidades e apresentam uma programação diferente. Na Miguel Maluhy acontecem palestras, apresentação de teatro e oficina de grafites e quadrinhos. A estudante Ana Beatriz Cartola é enfática: “Estamos aprendendo muito mais do que com a grade de aulas comum, além de desenvolver muitas outras habilidades”
Na escola Maria Regina Machado, região leste da capital, ocupada há uma semana, cerca de 50 alunos resistem mesmo com o corte de luz da diretora e comemoram. “A nossa escola nunca foi tão bem cuidada e limpa. Todos os dias acordamos cedo para a organização do local, preparar comida e participar das atividades culturais que incluem até formação de coral de música. Está bem melhor assim”, disse Rodrigo Henrique Duarte, aluno de 2º ano.
A unidade tem sido uma referência na região, dividindo as doações para as novas ocupações, que já chegam a 10 nas redondezas, e mobilizando para o boicote ao Saresp.
(da Rede Brasil Atual)